Birth/Rebirth
Original:Birth/Rebirth
Ano:2023•País:EUA Direção:Laura Moss Roteiro:Laura Moss, Brendan J. O'Brien Produção:Mali Elfman, David Grove Churchill Viste Elenco:Judy Reyes, Marin Ireland, Breeda Wool, Monique Gabriela Curnen, LaChanze, Bryant Carroll, Kathleen Mary Carthy, Erica Sweany, A.J. Lister, Rachel Zeiger-Haag |
Um dos destaques de 2023, figurando em muitas listas dos Melhores Filmes do Ano, Birth/Rebirth apresenta uma estranha reconstrução da mitologia de Frankenstein, da clássica literatura de Mary Shelley, sem o uso da eletricidade ou a junção de partes de cadáveres. É a estreia na direção de longas de Laura Moss, já deixando evidências de um talento a ser observado, com boas escolhas de elenco e uma elegância notável no posicionamento das câmeras. É uma pena que o filme não vai além de sua proposta, faltando um pouco da mesma ousadia que permeou boa parte do longa em seu ato final. Mas há vários outros méritos ali que o condicionam a uma avaliação positiva.
A enfermeira Celie Morales (Judy Reyes) tem pouco tempo para se dedicar a sua filha Lila (A.J. Lister), até mesmo quando ela acorda febril. Deixando-a com a vizinha, uma série de coincidências a impede de entender a gravidade de sua condição, descobrindo tardiamente que a pequena faleceu em decorrência de meningite. A queda de seu mundo traz ainda mais descontentamento pela dificuldade de simplesmente se despedir da filha, uma vez que a garota, sob a responsabilidade da patologista do necrotério, Rose Casper (Marin Ireland), desapareceu do local. Ao pressioná-la, Celie descobre que Lila foi reanimada pela médica, através de um experimento que envolve tecido da placenta.
Celie resolve, então, assumir a função de Igor, auxiliando Rose nos procedimentos de recuperação da pequena, a partir da coleta de novos materiais da grávida Emily (Breeda Wool, da série Mr. Mercedes), forçada a constantes retornos ao hospital para acompanhamento da gestação. Enquanto Lila ainda apresenta pouca conectividade com o mundo, Celie tem no animal de estimação de Rose um exemplo de sucesso. O problema é que a pequena parece não ser a mesma de antes, algo tão sinistro quanto o que foi visto em Cemitério Maldito, adaptação de Stephen King, com a mãe agindo com a persistência de Louis Creed.
Birth/Rebirth não permite que o espectador antecipe sua conclusão, imaginando como irá terminar, o que já é um ponto positivo no roteiro de Moss e Brendan J. O’Brien. É beneficiado pela atuação estupenda de Marin Ireland (de Boogeyman: Seu Medo é Real), alternando momentos de insanidade e frieza, do estereótipo do cientista louco – sem dúvida, a melhor atuação de uma atriz de horror em 2023. Quando você entende a razão da decepção da personagem por não poder ter filhos, dentro de seu propósito científico, sua performance conquista ainda mais admiração: ora, ela não quer ser mãe, mas quer criar vida. E é também interessante ver um filme com um olhar para a ciência médica que valoriza a compatibilidade, algo tão raro no cinema, com personagens que recebem transfusão de qualquer pessoa, numa distopia em que tudo é compatível.
Se tudo parece estranhamente mórbido, Birth/Rebirth começa a perder pontos por não saber como terminar. O espectador almejava mais um soco no estômago, algo que desse um passo adiante do que se esperava, como visto, por exemplo, na cena final de A Invasora, de Alexandre Bustillo e Julien Maury. O final “ok” não elevou a produção a um fenomenal cartão de apresentação de Laura Moss à Sétima Arte, ainda que o longa seja muito bem realizado e permita alguns momentos isolados de repulsa.
Pode conter pequenos spoilers.
Gostei bastante do filme, um dos meus preferidos do ano. A atuação da atriz Marin Ireland está muito boa, numa insensibilidade incômoda a qualquer ser humano minimamente “normal”.
Achei interessante a abordagem de uma “cura” para a morte. Assim como foi acertada a escolha de não deixar a criança normal de imediato, mas também não transformar em um monstro ou zumbi. Embora o incidente com o porco tenha sido desnecessário, achei que destoou do restante.
Eu também esperava mais ousadia. Não apenas no ato final, mas durante o restante do filme. Pensei que seria mais focado em medidas desesperadas das protagonistas para obter “suprimentos”, dilemas éticos e morais, consequências. Não senti essa carga dramática nem nos atos da mãe na parte final, pareceu algo sem maiores implicações, apesar de ter sido algo gravíssimo.
Concordo que a trama realmente não deixa saber como será o desfecho, o que é ótimo, pois simplesmente parece não ter uma forma de acabar bem para as personagens.
Entre falhas e acertos, considero um ótimo filme.