4.6
(10)

Cat Person
Original:Cat Person
Ano:2023•País:EUA
Direção:Susanna Fogel
Roteiro:Michelle Ashford, Kristen Roupenian
Produção:Helen Estabrook, Jeremy Steckler, Derek Peterson
Elenco:Emilia Jones, Nicholas Braun, Geraldine Viswanathan, Isabella Rossellini, Hope Davis, Christopher Shyer, Liza Koshy, Josh Andrés Rivera, Melissa Lehman

Conhecer pessoas novas pode ser uma experiência interpretada de maneiras opostas por cada um dos envolvidos, e é isso que vemos no desconfortável Cat Person (2023). O filme, dirigido por Susanna Fogel, é baseado em um conto famoso de mesmo título publicado no New Yorker. Nele observamos Margot (Emilia Jones) se envolver com um homem mais velho, Robert (Nicholas Braun), e o desenrolar de conhecer alguém para além das conversas online.

Sendo um thriller psicológico e cheio de paranoia, Cat Person é propositalmente desconfortável. Cheio de cenas que causam vergonha alheia, porém mais realista do que gostaríamos. Longe de ser uma comédia romântica, aprofunda a esquisitice de relacionamentos modernos.

Margot trabalha em um cinema e Robert é um frequentador assíduo. Eles começam a trocar mensagens por dias antes de seu primeiro encontro. Na primeira dinâmica juntos, eles ficam presos em um depósito na faculdade de Margot, e os toques de terror começam aí. Margot, com medo, começa a imaginar diversas maneiras de como aquela situação pode dar errado. Ela sendo atacada, morta, presa, mostrando a fragilidade em cenários comuns. Sua imaginação e trauma mostram que o que poderia ser um simples encontro romântico ou casual rapidamente pode se tornar uma tragédia e luta pela sobrevivência.

O filme mescla tonalidades diferentes. Em certos momentos torcemos por essa relação pois parece leve, com algumas atitudes bacanas da parte de Robert. Por outro lado, ele tem comportamentos suspeitos que nos fazem ficar com o pé atrás e torcer para Margot cair fora enquanto há tempo. Isso nos deixa em dúvida: será que Margot está exagerando? Será que qualquer alerta é mesmo real?

Durante a história a colega de quarto de Margot, chamada Taylor (Geraldine Viswanathan), parece ser a voz da razão. Cheia de toques e argumentos sensatos (e às vezes parecendo até exagerados), ela alerta Margot sobre ter cautela, não se colocar em risco e não confiar em um homem mais velho com tanta facilidade. Mas é claro que a amiga é ignorada.

Temos esse mix de sentimentos opostos com todos os personagens apresentados. Estamos defendendo em uma cena e na seguinte proferindo xingamentos por escolhas errôneas. E isso é humano demais. Em quantas situações de risco nos colocamos devido à nossa emoção falar mais alto? E essa nuance que deriva nos sentimentos que propositalmente nos mostra o quanto, dependendo do ponto de vista que uma situação nos é apresentada, iremos julgar ou dar o tom daquilo ou daquele alguém.

Por exemplo: se esse filme fosse uma comédia romântica, muitas de suas cenas seriam lidas como fofas e reconfortantes. Mas como é um thriller, percebemos ser diferente um homem te esperar tarde da noite na frente do seu trabalho após levar um fora.

As cenas catastróficas imaginadas por Margot são fruto não só do que consumimos, mas vemos em noticiários todos os dias. Ela representa o desejo de se conectar com alguém e o medo de até que ponto as coisas podem chegar na prática. Conseguimos nos identificar em pelo menos um comportamento ou outro de cada um dos envolvidos.

Robert não tem muitas habilidades sociais e acaba reagindo de maneira estranha em suas falas e atitudes. Como uma simples resposta de uma mensagem ou um comentário machista velado. Será que ele é só esquisito ou um assassino em potencial? E nessa dúvida somos levados até o terceiro ato do filme.

O terceiro ato destoa de todo o caminho percorrido até aqui. Após um encontro horrível com Robert, que não sabe beijar nem transar, Taylor termina a relação por mensagem, já que Margot não queria ferir os sentimentos dele. E então, a vergonha alheia se transforma em medo real. A paranoia de Margot aumenta. Ela chega a pedir ajuda para a polícia, mas ouve o já tão conhecido e temido pela maioria das mulheres: “Não podemos fazer nada, ele não cometeu crime algum”. Decidindo se proteger a qualquer custo ela vai à casa de Robert para colocar um rastreador em seu carro, mas acaba sendo flagrada.

Aqui na tentativa de um diálogo e de escapar, a situação foge do controle. A nuance e mistura de tons é então deixada de lado e nesse ato vemos o total exagero do quanto tudo pode piorar. Mesmo sendo bem destoante, não é algo que estraga totalmente o filme, mas sim nos empurra para o medo de uma vez. Nos dois primeiros atos parece que ficamos o tempo todo com um pé na beirada do precipício. Aflitos, com a sensação de que a qualquer momento todo o desconforto vai se tornar algo pior. Para que no ato final, enfim se torne.

O filme vem para criticar nossa percepção de amor romântico e escancarar a linha tênue das dinâmicas atuais de como criar relações. Podemos não ter aquele desconforto comum de um gore, mas com certeza irá arrancar suspiros indignados e outras reações inconformadas. É uma daquelas obras que com certeza divide opiniões.

Sua ambiguidade pode parecer chata, mas é inegavelmente realista. Não é fácil olharmos para uma obra que reflete tanto características e comportamentos nossos, como experiências que são facilmente vividas. Perde a mão no final, mas não anula toda jornada e pontos de crítica apresentados durante. Vale a pena passar 1h58min de desconforto.

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Média da classificação 4.6 / 5. Número de votos: 10

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3 Comentários

  1. Muito empolgada pra ver!! Os filmes mais aterrorizantes são os que refletem problemas reais.

  2. Sensacional!! Fiquei com vontade de ver. Como mulher acho que vai me pegar muito esse filme

  3. Adoro thrillers que tem base mais realistas, e tem aquela parcela de realidade, temos exemplos assim na vida real, muito fácil ficar com medo de algo que podemos ver e imaginar fácil acontecendo com cada um de nós, muito difícil conhecer alguém novo tortamente e imaginar e se? Vai me deixar neurótica ou apenas atenta ….

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