3.9
(10)

O Homem Sem Sombra
Original:Hollow Man
Ano:2000•País:EUA, Alemanha
Direção:Paul Verhoeven
Roteiro:Gary Scott Thompson, Andrew W. Marlowe
Produção:Alan Marshall, Douglas Wick
Elenco:Kevin Bacon, Elisabeth Shue, Josh Brolin, Kim Dickens, Greg Grunberg, Joey Slotnick, Mary Randle, William Devane, Rhona Mitra, Pablo Espinosa

A despeito dos bons efeitos visuais, que garantiram ao filme uma indicação ao Oscar, O Homem Sem Sombra é um thriller científico comum, que ignora a sua principal fonte de inspiração, H. G. Wells. Ainda que não siga literalmente o texto original, escrito em 1897, e nenhuma das referências de Wells, como a “República“, de Platão, um enredo que trabalha os efeitos da invisibilidade em um cientista louco já não se mostra tão inovador. Escrito por Andrew W. Marlowe, a partir de um argumento próprio em parceria de Gary Scott Thompson, o roteiro é amplamente beneficiado pela direção de Paul Verhoeven, embora este tenha desdenhado de seu trabalho nos anos seguintes.

Verhoeven tinha feito o excepcional Tropas Estelares quando aceitou comandar um filme bastante convencional, porém divertido. O bom elenco, considerando as boas performances de Elisabeth Shue e Kevin Bacon, também não se mostrou suficiente para atrair boas críticas. No entanto, o filme foi bem nas bilheterias, alcançando mais de US$190 milhões de dólares para um orçamento estimado em US$95 milhões, e até rendeu uma continuação injustificada. Méritos do diretor, por ter conseguido promover algum suspense e sensação claustrofóbica ao material que tinha em mãos.

As ações acontecem em um laboratório subterrâneo, onde uma equipe de cientistas descobriu a fórmula da invisibilidade, mas está tendo dificuldades para desfazer o processo. O líder do projeto, Sebastian Caine (Bacon), tem um insight em suas pesquisas e consegue, com o apoio de sua ex-namorada Linda McKay (Shue), e que secretamente está envolvida com Matt Kensington (Josh Brolin), e de Sarah Kennedy (Kim Dickens), Janice Walton (Mary Randle), Carter Abbey (Greg Grunberg) e Frank Chase (Joey Slotnick), trazer de volta à visibilidade uma gorila, em ótimos efeitos digitais na reconstrução do animal lentamente a partir de seus ossos, músculos e veias.

Apesar da conquista, Sebastian, caracterizado como ousado e narcisista, mente para os investidores políticos, incluindo o Dr. Howard Kramer (William Devane), sobre o sucesso da experiência, planejando testar a fórmula em humanos, colocando-se como cobaia do próximo teste. Ele acredita que a revelação sobre o resultado pode fazê-los perder o direito da descoberta, mesmo com a aceitação de Linda e Matt. O procedimento, envolto em dores e quase uma parada cardíaca, é logo realizado, e Sebastian se torna invisível. A ideia é que ele fique nesse estado por três dias para exames e testes, sem que possa sair do laboratório.

O processo para trazê-lo de volta à visibilidade é feito, mas sem sucesso. Mantido em quarentena enquanto se tenta encontrar uma reversão, aos poucos Sebastian começa a evidenciar um estado de loucura crescente. Se antes já tinha abusado de Sarah e aparentemente tentando espiar Janice no banheiro, a situação se agrava quando ele consegue escapar do laboratório para estuprar sua vizinha (Rhona Mitra, numa pontinha), um crime nunca descoberto. Aterrorizando crianças e mendigos, ele finalmente descobre o envolvimento de Linda e Matt, e ainda fica mais insano quando ambos decidem contar para os militares o que foi feito. É claro que Sebastian não quer que isso aconteça e tem planos de prender a equipe no local e eliminar um a um, antes de explodir o laboratório.

Acostumado a sequências de ação em produções como Robocop – O Policial do Futuro (1987) e O Vingador do Futuro (1990), Verhoeven se esforça bastante para transformar Sebastian em um vilão ameaçador, explorando possibilidades de enxergá-lo através de fumaça, água, fogo e até sangue. Como o espaço do laboratório é curto, ele o faz parecer uma nave espacial com os cientistas usando óculos termográficos e armas tranquilizantes, correndo por corredores e diversos ambientes, como o poço de um elevador na sequência final. São sequências que promovem tensão e são divertidas e bem realizadas, ainda que precise da boa vontade do espectador para acreditar no que está vendo.

Para tal, contou com a boa imposição cênica, às vezes só com a voz, de Kevin Bacon, um personagem que até começar a se mostrar abusador era considerado simpático, mesmo com suas falas egocêntricas. Já Elisabeth Shue faz de sua Linda uma moça que parece ainda nutrir uma certa atração pela sapiência de Sebastian – aliás, todos ali parecem respeitar seus dons científicos, sua inteligência e ousadia, percebendo que estão enfrentando um oponente bastante intimidador.

Bastante exibido na TV aberta e de bastante sucesso nas locadoras, é uma pena que O Homem Sem Sombra não partiu para algo diferente, como Leigh Whannell conseguiu depois com O Homem Invisível. Tinha potencial para algo mais intenso, não tão previsível e óbvio, mas parece ter se sustentado apenas pelos efeitos especiais e pelo elenco de rostos conhecidos, deixado de lado a ciência e a profundidade de um roteiro que poderia ser tão inteligente quanto o antagonista. Funciona como diversão passageira, um thriller que, se tivesse um roteiro melhor, teria muito mais visibilidade na carreira dos envolvidos.

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