3.8
(4)

Popcorn - O Pesadelo está de Volta
Original:Popcorn
Ano:1991•País:EUA
Direção:Mark Herrier, Alan Ormsby
Roteiro:Mitchell Smith, Alan Ormsby
Produção:Ashok Amritraj, Bob Clark, Gary Goch, Torben Johnke
Elenco:Jill Schoelen, Tom Villard, Dee Wallace-Stone, Derek Rydall, Malcolm Danare, Elliott Hurst, Ivette Soler, Freddie Simpson, Kelly Jo Minter, Karen Witter, Ray Walston, Tony Roberts, Scott Thompson, Will Knickerbocker, Ethan Ormsby, Ben Stotes, Ken Ryan, Matt Falls, Cindy Tavares-Finson, Giana Hanly, Barry Jenner, Suzanne Hunt, Robert Dickman, Thom Adcox-Hernandez, Bruce Glover, Munair Zaza, Bobby Ghisays, Lori Creevay

Antes de Pânico (Scream, 1996) revitalizar o subgênero slasher, Popcorn já havia dado seus pulos. Para muitos, este é o filme que serviu de rabiscos para Kevin Williamson desenvolver Ghostface e o terror teen de referências. A comparação não é exagerada, mas está longe de ser uma cópia, até porque, se pensar assim, justificaríamos a máxima do “nada se cria, tudo se copia” para mais de 90% das produções do gênero: Sexta-Feira 13 (Friday the 13th, 1980) teria chupinhado Banho de Sangue (Reazione a catena, 1971), de Mario Bava, e até o clássico Halloween – A Noite do Terror (1978) seria um reflexo de Noite do Terror (Black Christmas, 1974). E o próprio Popcorn traz ideias anteriormente vistas em Darkman: Vingança sem Rosto (Darkman, 1991) e poderia ter inspirado Matinee: Uma Sessão Muito Louca (Matinee, 1993).

Quais elementos, então, poderiam servir de comparação com o longa de Wes Craven? Há um assassino que faz ameaças por telefone (Eu Vi o que Você Fez e sei Quem Você é, remake de Eu Vi que Foi Você, 1965), há citações a filmes – até uma conversa dos jovens na faculdade lembra bastante uma sequência de Pânico 2 (Scream 2, 1997) -, brincadeiras de “filme dentro do filme“, e uma relação absoluta de vingança com o passado da protagonista, algo comum em seis de sete slashers. Talvez tenha inspirado Craven nas cenas de pesadelo de Pânico 3 (Scream 3, 2000), no humor sarcástico e no vilão que finge ser outras pessoas para perpetuar sua vingança. Mas, Popcorn, assim como Pânico e vários outros mencionados, tem vida própria e é um terror adolescente muito bem realizado, com impressionantes efeitos especiais e extremamente divertido.

Apesar da crítica gostar das referências e da forma como o filme se conduz, Popcorn teve uma passagem infeliz pelos cinemas, estreando em 1000 salas e chegando a pouco mais de US$4 milhões de dólares, até despontar no mundo dos VHS ainda em 1991. Foi exatamente esse formato de vídeo que tornou a produção mais conhecida e cult, graças à maravilhosa arte da capa, uma das mais atraentes e criativas do gênero. Era fácil se sentir motivado a alugar o filme pela forma como a capa se destacava entre continuações e produções de baixo orçamento: um esqueleto aparece segurando o rosto de uma das vítimas como uma máscara.

Em plena época de popularização das fitas de vídeo, com o tempo a produção se tornava mais conhecida. Mas é estranho pensar que, apesar do crescente interesse pelo conceito, uma continuação nunca foi planejada. Bob Clark (de Noite de Terror, 1974) se envolveu com a produção nos bastidores, atuou como diretor de segunda unidade e produtor não-creditado, mas não teve interesse em dirigir o filme, deixando-o a cargo de Alan Ormsby (Confissões de um Necrófilo, 1974) e Mark Herrier, sem que ambos ocupassem outros cargos similares pós-Popcorn, o que impressiona pelo resultado obtido. O roteiro foi desenvolvido por Ormsby e Mitchell Smith. Enquanto este último não se destacou como roteirista, Ormsby escreveu o argumento dos quatro filmes da franquia O Substituto, até encerrar a carreira no início dos anos 2000.

Popcorn começa como um exemplar de A Hora do Pesadelo: a estudante de cinema e futura roteirista Maggie Butler (Jill Schoelen) tem sonhos recorrentes em que ela é Sarah, perseguida por um homem misterioso em flashes de incêndio, cenas de um sacrifício e o disparo de uma arma. Registrando tudo em seu gravador, imaginando que possa vir a ser o roteiro de um filme, Sarah conta à mãe, Suzanne (Dee Wallace, scream queen legítima), que parece não dar muita importância, embora também tenha seu próprio pesadelo a partir de ligações ameaçadoras. Em um encontro na universidade, seu colega Toby D’Amato (Tom Villard) sugere à turma a realização de um festival de cinema para arrecadar fundos para seus projetos.

Assim, com o apoio do professor Davis (Tony Roberts, de Amityville 3), eles pensam em utilizar o teatro abandonado Dreamland, três semanas antes de sua demolição, para a exibição de produções de baixo orçamento, explorando efeitos especiais comuns nas décadas passadas para dar ao público uma imersão ao evento. Os colegas Bud (Malcolm Danare), Leon (Elliott Hurst), Cheryl (Kelly Jo Minter), Tina (Freddie Simpson) e Joannie (Ivette Soler) ajudam na construção do ambiente, contando também com a importante colaboração de Dr. Mnesyne (Ray Walston), que empresta materiais para o festival, incluindo roupas e acessórios eletrônicos, mas não é bem desenvolvido no filme. Entra e sai de cena como um personagem que poderia ter uma importância maior no enredo – de acordo com as trívias da produção, ele teria sido inspirado em José Mojica Marins.

Enquanto ajeitam o espaço, um estranho rolo de filme é encontrado no local. Ao projetá-lo, um curta-metragem que apresenta uma sequência de sacrifício e a narração do estranho Possessor, com cenas idênticas aos sonhos de Maggie. O professor conta a história do filme: um tal Lanyard Gates (Matt Falls) liderou um culto nos anos 60 e fez produções amadoras, até resolver fazer um que não teve final, intitulado “The Possessor“, deixando a última cena para filmar ao vivo para o público. Segundo relatos da época, ele assassinou a família e provocou um incêndio no teatro, morrendo queimado no local, embora seu corpo nunca tenha sido encontrado.

Com o “background” do assassino desenvolvido, basta ao espectador tentar descobrir se é o tal Possessor ou outro personagem que possa estar por trás das mortes, e qual a relação com Maggie/Sarah. E também por que há elementos sobrenaturais no momento em que Suzanne parte armada para o Dreamland e testemunha a queda do letreiro do cinema e a formação da palavra “Possessor“, antes de ser atacada.

Os jovens abrem o espetáculo com um show de imersão através dos “movie gimmicks“, efeitos popularizados por William Castle para adicionar tempero às salas de cinema, antecipando o cinema 4D. Entre as sequências de morte, o público acompanha três produções bagaceiras que homenageiam o gênero fantástico: “Mosquito“, usando como referência as produções inspiradas nos testes nucleares e na Guerra Fria como O Mundo em Perigo (Them!, 1954) e Fúria de uma Região Perdida (The Deadly Mantis, 1957), com efeitos toscos, fotografia em preto e branco, atuações bizarras e diálogos divertidos; “The Attack of the Amazing Electrified Man“, com um título que remete a O Monstro Atômico (The Amazing Colossal Man, 1957) e Força Diabólica (The Tingler, 1959); e “The Stench“, com relação a Scent of Mystery (1960). O primeiro foi acompanhado de um boneco de mosquito gigante, atravessando o teatro e ocasionando duas mortes, enquanto o segundo permitiu que um sistema eletrônico ocasionasse pequenos choques na poltrona, e o último provocou odores desagradáveis na audiência.

Além dessas referências – e outras mais evidentes como o sobrenome de Toby, homenageando o cineasta Joe D’Amato -, o hall do cinema traz cartazes de clássicos como O Incrível Homem Que Derreteu (The Incredible Melting Man, 1977), numa clara associação ao vilão do filme, Amor em Tempo de Histeria (Sólo con tu pareja, 1991), e Força Diabólica. E há, claro, as menções a produções conhecidas no debate na universidade ou em brincadeiras entre os personagens. Pânico 2 teria obviamente se inspirado na sequência final, quando a tela de cinema dá lugar a uma sequência de assassinato.

Popcorn faz jus ao que se poderia considerá-lo cinepipoca. Diverte tanto a plateia do cinema, com a apresentação de uma banda, quando o espectador nas mortes bem elaboradas, nos ótimos efeitos de maquiagem com trucagens interessantes e nos trejeitos de um vilão bem caracterizado. É até estranho quando se pensa no naufrágio do filme no lançamento nos cinemas, e no baixo interesse das distribuidoras em lançá-lo em material digital – qualquer fã de slasher gostaria de tê-lo em sua prateleira – e em um bom streaming. Mais pessoas deveriam ter a oportunidade de acompanhar uma produção bem contextualizada – pela homenagem a uma época fantástica do cinema-espetáculo – e, vale a pena repetir, extremamente divertida.

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