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Acompanhante Perfeita
Original:Companion
Ano:2025•País:EUA
Direção:Drew Hancock
Roteiro:Drew Hancock
Produção:Zach Cregger, Roy Lee, J.D. Lifshitz, Josh Mack, Raphael Margules
Elenco:Sophie Thatcher, Jack Quaid, Harvey Guillén, Rupert Friend, Lukas Gage, Megan Suri, Marc Menchaca, Jaboukie Young-White, Woody Fu

Bem no comecinho de Acompanhante Perfeita, nossa protagonista, Iris (Sophie Thatcher, Herege), fala de dois momentos em sua vida em que ela foi mais feliz: quando conheceu seu namorado, Josh (Jack Quaid, The Boys), e quando o matou. Um spoiler desse logo na primeira cena de um filme é proposital, claro, já que o mais importante é saber como e por que Iris chegou a esse extremo – e muita coisa mesmo vai acontecer no caminho.

Escrito e dirigido por Drew Hancock, que faz sua estreia comandando um longa-metragem, Acompanhante Perfeita vem dos mesmos produtores de Noites Brutais, e por aí já dá pra se ter uma ideia do tipo de mistura de terror com humor que vamos encontrar. O filme começa com Iris e Josh se conhecendo, para em seguida mostrá-los a caminho de uma casa no lago onde a moça vai conhecer os amigos do namorado, sendo eles os casais Eli (Harvey Guillén, da série O que Fazemos nas Sombras) e Patrick (Lukas Gage, Sorria 2), e Kat (Megan Suri, Não Abra) e Sergei (Rupert Friend, Asteroid City), este último o russo dono da casa.

Chegando agora ao grupo, Iris tenta se enturmar, levando em conta o conselho que Josh lhe dá: seja gentil e sorria sempre. É assim que ela acaba, sem querer, ficando sozinha com Sergei, que logo começa a tentar abusar da moça. Iris se defende, matando o russo, e volta para casa coberta de sangue, onde Josh e seus amigos terão que lidar com a situação. O que acontece a partir daí é um ponto de virada no filme, e aqui vale um disclaimer: estamos a uns 15 minutos de filme, e a revelação que acontece nesse momento é mostrada no trailer. Assim como o “spoiler” na primeira cena, essa virada não é o centro do filme, ainda que eu, particularmente, preferisse ter assistido sem saber. Fica o aviso, porque falo dela em seguida.

Desde o início de Acompanhante Perfeita acontecem diálogos e situações que dão dicas de que Iris é, na verdade, um robô. A mais engraçadinha é Josh perguntar sobre a previsão do tempo e Iris responder do mesmo jeito que uma Siri responde. Todo mundo pergunta do clima pro celular. O que acontece é que a moça não sabia disso, e, já que nós já sabíamos, a graça agora é acompanhar como Iris vai lidar com essa descoberta e com seu desenrolar, já que, como ela matou uma pessoa, a única coisa a se fazer é desligá-la.

Com o desenvolvimento das inteligências artificiais no mundo real (por enquanto principalmente em formato de chatbots), a quantidade de filmes cujo enredo envolve essas tecnologias também vem aumentando. No terror, o mais comum é encontrarmos robôs assassinos, mas Acompanhante Perfeita vai contra essa onda, trazendo como protagonista uma androide com quem simpatizamos, tanto por sabermos que ela cometeu um crime somente porque estava se defendendo, como por ela ser um ser consciente (programado, como Josh tanto insiste em dizer) por quem nenhum dos outros personagens sente qualquer empatia, nem mesmo seu namorado.

A verdade é que Iris não precisaria ser um robô para ser tratada como um objeto que pode ser usado e descartado por Josh. Ela é programada para sentir uma completa devoção pelo namorado e para suprir suas necessidades, especialmente sexuais. Ela obedece sem reclamar, e Josh acha que, como um homem decente contra quem o universo conspira, é, no mínimo, direito dele ter propriedade sobre sua “fuckbot” e fazer com ela o que ele bem entender. Tanto a manipulação emocional como essa percepção de direito são coisas que qualquer mulher encontra no caminho dia sim, dia também.

Mas Drew Hancock acerta ao falar de temas como consentimento e dinâmicas de poder incluindo toques de humor, algo parecido com o que Zoe Kravitz fez em Pisque Duas Vezes no ano passado. A direção de atores também se destaca: como não é um filme de grandes reviravoltas (ainda que tenha algumas surpresas), a atitude dos demais personagens frente a uma situação limite segura muito bem o longa, com destaque especial para Eli e Patrick, que, além de alívio cômico, ainda têm uma relação saudável que contrapõe a de Iris e Josh.

Por fim, vale destacar também o comentário que não é apenas sobre IAs, mas sobre nossa dependência em tecnologias em geral. Com a IA a coisa fica ainda pior, porque entra também a dependência emocional, não apenas aquela que envolve trabalho ou outras tarefas mais mecânicas. O filme toca até na questão do alinhamento (fazer com que a “vontade” de uma IA senciente seja coerente com os valores da humanidade).

Um sci-fi divertido, com boas doses de sangue e enredo instigante, Acompanhante Perfeita é um bom filme, que certamente vai fazer você se identificar com alguns dos personagens – mesmo que ele não seja humano.

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