Quando dois dos maiores ícones populares do cinema de horror moderno, Freddy Krueger e Jason Voorhees, se encontram mortalmente num mesmo filme, o que se pode esperar é logicamente muita carnificina explícita e uma profusão de sangue para todos os lados. E é exatamente isso o que acontece no crossover Freddy x Jason, que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 31 de outubro de 2003 (pouco mais de dois meses depois da estreia nos Estados Unidos em meados de agosto). O filme foi marcado principalmente por uma incrível overdose de violência e sangue, honrando com méritos a história das respectivas franquias (que já totalizam 17 filmes em mais de duas décadas), e destaca-se também pelo oportuno resgate que foi realizado trazendo novamente o clima característico dos filmes de horror slasher dos saudosos anos 80.
Ao longo de um século de história do cinema de horror, foram se formando naturalmente uma infinidade de categorias dentro dessa temática básica do gênero fantástico. Entre todas elas, os filmes que apresentavam como protagonistas psicopatas violentos e assassinos seriais foram ganhando um destaque maior na filmografia do horror principalmente a partir dos anos 1970, um período fértil onde começaram a surgir vários monstros sagrados e eternizados pelos apreciadores do estilo como o maníaco Leatherface (O Massacre da Serra Elétrica), os mascarados Michael Myers (Halloween) e Jason Voorhees (Sexta-Feira 13), vindo depois em meados dos anos 80 o sarcástico Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo) e o demônio Pinhead (Hellraiser), culminando na década de 90 com o carniceiro aristocrático Dr. Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes), citando apenas os principais. Eles foram os responsáveis pela produção de dezenas de filmes, destacando-se de forma unânime os primeiros de cada respectiva série, e sendo muitos deles com roteiros ruins que acabaram desgastando nitidamente suas imagens.
Mas um fato que sempre foi claro para os produtores era que esses monstros do horror moderno despertavam grande fascínio e interesse popular, justificando a insistência em permanecer seus legados nas telas, conseguindo conquistar cada vez mais novos públicos. Em 1987, no auge desses filmes com psicopatas assassinos, surgiu a primeira idéia de se juntar dois desses anti-heróis numa mesma produção, e os escolhidos foram os mais populares, o falador Freddy Krueger e o silencioso Jason Voorhees, ambos extremamente violentos e com incrível contagem de cadáveres em seus currículos. Porém, problemas técnicos entre as produtoras New Line (A Hora do Pesadelo) e Paramount (Sexta-Feira 13) impediram um acordo para a realização do filme.
Após 15 anos de muitas especulações e intensas movimentações nos bastidores, finalmente em 2003, uma época onde a tendência dos crossovers estava saindo dos papéis e ganhando a realidade das telas do cinema (como podemos notar na união de dois monstros modernos da Ficção Científica com elementos de Horror, Alien VS Predador), o tão aguardado confronto entre Freddy e Jason nasce das mãos do produtor Sean S. Cunningham, criador da série Sexta-Feira 13, do diretor nascido em Hong Kong Ronny Yu, mais conhecido pelo filme A Noiva de Chucky (1999), quarto exemplar da saga do famoso boneco assassino, e dos jovens roteiristas Damian Shannon e Mark Swift, fãs declarados das franquias.
Novamente trazendo o ator Robert Englund como o vilão Freddy Krueger (ele que interpretou o personagem em todos os filmes da série) e Ken Kirzinger como seu oponente Jason Voorhees (o ator estreia na pele do assassino, que anteriormente foi interpretado quatro vezes pelo dublê Kane Hodder, descartado agora), o filme mostra Freddy aprisionado no inferno, sem energias para surgir novamente nos pesadelos de suas vítimas, as quais são sedadas por drogas experimentais num hospital psiquiátrico que as impedem de sonhar.
Uma vez abandonado no esquecimento, sem receber a força proveniente do medo das pessoas, Freddy planeja seu retorno à ativa utilizando a ajuda inconsciente do psicopata Jason, despertando-o de seu profundo sono e ressuscitando-o de seu túmulo. Manipulando seu adversário através da imagem de sua falecida mãe Pamela Voorhees (Paula Shaw), Freddy incita-o a atacar a cidade de Springwood e mais precisamente os moradores da Rua Elm, para continuar sua vingança àqueles que o queimaram vivo no passado, recuperando sua potência sobrenatural e perpetuando a chacina de suas vítimas em seus sonhos.
Jason ressurge sedento de sangue e mais violento do que nunca, e com seu enorme facão retalha impiedosamente todos que cruzam a sua frente, num banho de sangue de proporções descomunais, com direito a decapitações, vísceras expostas, desmembramentos, com suas vítimas sentindo a terrível dor de uma lâmina dilacerando brutalmente suas frágeis carnes.
Freddy por sua vez volta a recuperar as forças e também a aterrorizar suas vítimas penetrando em seus sonhos e rasgando seus corpos com sua tradicional luva feita de afiadas lâminas. Porém, fica irritado pelo descontrolado Jason matar indefinidamente e roubando dele algumas vítimas. Quando Freddy consegue se transferir para o plano real, saindo do mundo onírico, ele passa a enfrentar mortalmente seu rival Jason num confronto de ultra violência, em meio a um grupo de jovens adolescentes que tenta sobreviver aos ataques de ambos, formado pelo casal principal Lori Campbell (Monica Keena) e Will Rollins (Jason Ritter), além de Kia (Kelly Rolland) e Charlie Linderman (Christopher George Marquette), entre vários outros que sentiram a fúria sangrenta de Freddy e Jason.
Para se assistir um filme como Freddy x Jason é fundamental em primeiro lugar você esquecer completamente a lógica do roteiro e procurar entrar no clima de uma produção repleta de fantasia, clichês e situações inverossímeis. Para se ter uma ideia, até um dos personagens do filme fica a todo momento (enquanto está vivo, é claro) respondendo que tudo é possível quando alguém resolvia perguntar sobre a ocorrência de fatos totalmente absurdos existirem realmente. Uma vez desconsiderando a razão e os motivos de uma série de acontecimentos que envolvem a condução da história, certamente o espectador vai se divertir com o show de imagens sangrentas que se apresentará a sua frente, manchando a tela de vermelho, não escapando nem os letreiros.
Dentre os clichês extremamente desgastados, estão as inúteis tentativas de assustar as pessoas com as tradicionais cenas onde o volume do som é aumentado excessivamente e de forma repentina numa fração de segundos. Nada mais óbvio e sem graça… Não faltam também as tentativas de humor forçado com o uso de piadas idiotas proferidas por adolescentes mais estúpidos ainda, e é claro, não poderia faltar o uso de drogas e sexo num desfile de personagens arquetípicos que apenas nos fazem torcer fervorosamente para serem massacrados das formas mais insanas e dolorosas possíveis pelos vilões psicopatas.
De positivo em Freddy Vs Jason temos o fato claro de que o filme tem um ritmo acelerado de muita ação, correrias, barulhos, porradas e sangue para todos os lados, sem perder muito tempo com diálogos inúteis que em nada ajudariam na composição do roteiro que, repito, não está muito interessado (e nem poderia estar) em situações lógicas. O filme tem o cuidado especial de oportunamente esclarecer para o público que não conhece o universo ficcional das franquias a origem dos vilões e suas mitologias básicas, as quais foram exploradas nos diversos filmes posteriores de ambos os psicopatas. E muitos desses filmes foram completamente desconsiderados na história do crossover, fato totalmente compreensível até porque as próprias séries já tiveram filmes anunciando as mortes de seus vilões e os números das bilheterias forçaram seus ressurgimentos em argumentos muitas vezes ridículos.
Outros momentos interessantes foram que no início do filme, tanto Jason Voorhees como Freddy Krueger estiveram bem à vontade em seus ambientes naturais, realizando suas chacinas no melhor estilo de seus primeiros filmes ao longo da década de 1980, num oportuno resgate e homenagem ao cinema de horror com psicopatas produzido naquela época. Um destaque notável foi um massacre cometido por um Jason enfurecido com sua enorme faca, contra um grupo de jovens que estavam dançando ao som de música eletrônica numa clareira no meio de uma plantação de milho. A música dançante foi substituída pelo som da faca cortando a carne dos adolescentes e pelo fluxo do líquido vital deles irrigando o milharal.
Porém, a partir do momento em que eles se confrontam num duelo de morte, o que prevalece é apenas a incrível exposição de violência dos golpes entre ambos, pois não é possível se esperar algo mais interessante numa briga envolvendo duas entidades sobrenaturais e praticamente invencíveis. O resultado passa a ser um show de desmembramentos, objetos cortantes dilacerando a carne, rasgos profundos na pele jorrando sangue em profusão, e todos os tipos de atrocidades imagináveis entre duas criaturas completamente possuídas e guiadas pelo ódio e insanidade. E inevitavelmente nesse momento o filme perde um pouco de seu interesse, deixando claro para mim que seria muito melhor se eles, ao invés de se enfrentarem, unissem suas forças demoníacas para ampliar seus domínios e intensificar seus planos de vingança num massacre cada vez mais efetivo. E então o filme não seria Freddy Vs Jason e sim ambos os vilões juntos contra a escória da humanidade…
Após uma quantidade exagerada de cenas violentas no duelo entre os vilões, o filme se conclui com um desfecho satisfatório e totalmente interpretativo sobre os resultados deixando obviamente uma oportunidade para uma futura sequência da franquia. Enfim, um filme com uma carga de violência que honra as origens de seus protagonistas e que certamente garantirá ótimos momentos de entretenimento para os apreciadores do cinema de horror com psicopatas assassinos. Para quem entrar no clima e proposta de Freddy Vs Jason, desconsiderando os clichês e lógica do roteiro, terá aproximadamente uma hora e meia de diversão garantida sem compromisso.
O Princípio do Mal
Eu confesso que não estava nem um pouco entusiasmado com a realização de um filme envolvendo Freddy e Jason, e me mantive de certa forma afastado das notícias de bastidores sobre a produção. Eu estava apenas esperando sua estreia no Brasil como mais um filme qualquer e que nitidamente foi criado para a obtenção de lucros nas bilheterias. E essa história de crossover nunca me despertou grande interesse justamente por seu caráter comercial. Mas ao assistir Freddy Vs Jason de forma totalmente aleatória, entrei em seu clima e me diverti bastante. Mas, mesmo assim, ainda acho equivocada a tentativa dos produtores em realizar filmes que misturem personagens já consagrados por suas performances independentes e continuo não vendo como boas iniciativas a união de Alien Vs Predador e outras especulações envolvendo o psicopata Michael Myers, o herói Ashley da série Evil Dead, o demônio Pinhead e outros mais…
O produtor Sean S. Cunningham nasceu em Nova York no último dia do ano de 1941. Especialista no horror, ele dirigiu o primeiro episódio de Sexta-Feira 13 em 1980 e produziu vários filmes do gênero como os quatro capítulos da franquia A Casa do Espanto (House), que se iniciou em 1986, além do horror submarino Deep Star Six (1989) e as partes 9 e 10 de Sexta-Feira 13.
O ator americano Robert Englund nasceu em 06/06/1944, e possui uma respeitável carreira com participação em mais de 150 filmes. Foi coadjuvante em raridades como Eaten Alive (1977), de Tobe Hooper, e em interessantes produções de baixo orçamento como Os Mortos-Vivos (Dead and Buried) e Galáxia do Terror (Galaxy of Terror), ambos de 1981, antes de se consagrar alguns anos depois no papel de Freddy Krueger no filme A Hora do Pesadelo. Englund é bastante conhecido também pelo seu papel de Willie na série de TV sobre invasão alienígena V, A Batalha Final, produzida entre 1984 e 1985. Outros filmes de horror de sua filmografia são O Fantasma da Ópera (1989), de Dwight H. Little, Noites de Terror (1993) e Mangler – O Grito do Terror (1994), ambos dirigidos por Tobe Hooper, além de Lenda Urbana (1998), de Jamie Blanks. Na direção, Englund se aventurou no thriller de horror 976-Evil (1989) e em alguns episódios da série de TV A Hora do Pesadelo.
Já o ator canadense Ken Kirzinger é mais conhecido como dublê em séries de TV como Arquivo X e Smallville e filmes como O 13º Guerreiro, 13 Fantasmas, Insônia e X-Men 2. Na franquia Sexta-Feira 13, ele apareceu numa pequena ponta não creditada como um cozinheiro na parte 8, Jason Ataca em Nova York (1989).
O resto do elenco é desconhecido. Jason Ritter participou do suspense Fixação (2002), Monica Keena esteve em O Advogado do Diabo (1997), Kelly Rowland é cantora do grupo Destiny´s Child, e a canadense Katharine Isabelle fez uma ponta em Insônia e protagonizou o papel principal no filme de licantropia Possuída (Ginger Snaps, 2000), além das duas sequências dessa franquia.
A título de curiosidade e aproveitando a oportunidade de um filme que une Freddy Krueger e Jason Voorhees numa mesma história, vale relembrar as filmografias de ambas as enormes franquias, que inclui filmes para o cinema e séries de televisão. Primeiro surgiu a série Sexta-Feira 13, com um total de dez filmes, e um remake, e tendo o original lançado em 1980 com direção de Sean S. Cunningham. Jason Voorhees foi um garoto supostamente normal e que aparentemente morreu afogado nas águas de Crystal Lake aos 11 anos de idade. Sua mãe, Pamela, era cozinheira de uma colônia de férias local e culpou os monitores do acampamento pela morte do filho, alegando que eles negligenciaram suas funções e permitiram, mesmo que involuntariamente, que Jason se afogasse. Ela própria acabou enlouquecendo e se encarregou de realizar uma sangrenta vingança, sendo que mais tarde Jason misteriosamente também ressurgiu transformado num assassino psicopata, que vivia como um animal na floresta defendendo seu território com fúria e violência. Com o sucesso de público, as primeiras continuações vieram logo nos anos seguintes, tendo como características a enorme quantidade de furos nos roteiros, evidenciando o pouco cuidado com a lógica dos eventos. Sexta-Feira 13 – Parte II (Friday the 13th – Part II, 1981) e Sexta-Feira 13 – Parte III (Friday the 13th – Part III: 3D, 1982), foram ambas dirigidas por Steve Miner.
Depois começaram os filmes com nomes batizados com grandes subtítulos como Sexta-Feira 13 – Parte IV: O Capítulo Final (Friday the 13th – The Final Chapter, 1984), de Joseph Zito, Sexta-Feira 13 – Parte V: Um Novo Começo (Friday the 13th – Part V: A New Beginning, 1985), de Danny Steinman, Sexta-Feira 13 – Parte VI: Jason Vive (Friday the 13th – Part VI: Jason Lives, 1986), de Tom MacLoughlin, Sexta-Feira 13 – Parte VII: A Matança Continua (Friday the 13th – Part VII: The New Blood, 1988), de John Carl Buechler, Sexta-Feira 13 – Parte VIII: Jason Ataca em Nova York (Friday the 13th – Part VIII: Jason Takes Manhattan, 1989), de Rob Hedden, Jason Vai Para o Inferno – A Última Sexta-Feira 13 (Jason Goes to Hell – The Final Friday, 1993), de Adam Marcus, e finalmente Jason X (Jason X, 2001), de James Isaac. Ainda teve uma série de TV chamada Sexta-Feira 13 – O Legado, que foi produzida entre os anos de 1987 e 1990 e apresentava episódios com histórias sobrenaturais. Além de um vídeo game lançado em 1989.
Já a série A Hora do Pesadelo iniciou sua saga no cinema em 1984 num filme dirigido por Wes Craven, sendo que o título nacional foi escolhido de forma oportunista numa época onde vários outros filmes de horror recebiam o manjado prefixo A Hora como por exemplo A Hora do Lobisomem, A Hora do Espanto, A Hora dos Mortos-Vivos, A Hora da Zona Morta e a A Hora do Calafrio. Uma freira fica acidentalmente presa num manicômio junto com dezenas de pacientes e é violentamente estuprada por todos eles numa relação de pura insanidade. Como resultado, nasceu Freddy Krueger, que se tornou um cruel psicopata assassino de crianças. Uma vez descobertas suas atrocidades, ele é executado e queimado vivo em sua casa. Porém, o vilão fez um pacto com um demônio do sono transformando-se em imortal e conseguindo o poder de invadir os pesadelos de suas vítimas para aterrorizá-las e consumar seu plano de vingança. O sucesso do primeiro filme incentivou os produtores na criação de uma franquia e em seguida vieram A Hora do Pesadelo 2 – A Vingança de Freddy (A Nightmare on Elm Street 2 – Freddy´s Revenge, 1985), de Jack Sholder, A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos (A Nightmare on Elm Strret 3 – The Dream Warriors, 1987), de Chuck Russell, A Hora do Pesadelo 4 – O Mestre dos Sonhos (A Nightmare on Elm Street 4 – The Dream Master, 1988), de Renny Harlin, A Hora do Pesadelo 5 – O Maior Horror de Freddy (A Nightmare on Elm Street 5 – The Dream Child, 1989), de Stephen Hopkins, A Hora do Pesadelo 6 – A Morte de Freddy (Freddy´s Dead – The Final Nightmare, 1991), de Rachel Taladay, e finalmente O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger (Wes Craven´s New Nightmare, 1994), de Wes Craven.
A franquia ainda é composta por uma série de TV (Freddy´s Nightmares, 1988/1990) com 44 episódios de 60 minutos apresentados por Freddy Krueger em pessoa. Além também de um lançamento de um vídeo game em 1990 inspirado no universo ficcional da série, e a refilmagem, de 2010, dirigida por Samuel Bayer, com Freddy sendo interpretado por Jackie Earle Haley.
Um ótimo crossover e slasher, bem violento e divertido. O que acaba distraindo bastante no filme é o ator Jason Ritter, péssimo ator, o cara fala pra namorada que viu o pai dela matar a mãe enquanto sorri (!!!)
se logica e absurdo fosse problema star wars nao seria sucesso
Muito bom. Mas faltou mencionar a cena de medo dos dois assassinos: Jason morreu afogado e se vê diante de uma “parede” de água, enquanto Freddy que morreu queimado é cercado por fogo. Os dois rivais encontram fraqueza em elementos opostos da natureza.
Jason ganha de Freddy pois é ressuscitado rs