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Virgínia (2011) (4)

Virgínia
Original:Twixt
Ano:2011•País:EUA
Direção:Francis Ford Coppola
Roteiro:Francis Ford Coppola
Produção:Francis Ford Coppola
Elenco:Val Kilmer, Bruce Dern, Elle Fanning, Ben Chaplin, Joanne Whalley, David Paymer, Anthony Fusco, Alden Ehrenreich, Don Novello, Ryan Simpkins

Já se vão os dias em que o celebrado diretor Francis Ford Coppola emplacava blockbusters no cinema! Apesar de sucessos de público e crítica como a trilogia O Poderoso Chefão e Apocalypse Now, uma mancha negra criada em 1996 chamada Jack (com Robbin Williams no elenco), que foi pessimamente (mas justamente) avaliado pelos críticos, e a recepção apenas morna de O Homem que Fazia Chover, no ano seguinte, foram alguns dos exemploes que fizeram com que Coppola, que tinha tudo para dividir diversas glórias do cinema contemporâneo com Martin Scorsese, por exemplo, abandonasse o mainstream e se dedicasse a filmes menores e independentes, com toda a liberdade, semelhante ao Star Wars man George Lucas recentemente.

Após um hiato de 10 anos do lançamento de O Homem que Fazia Chover, Coppola dirigiu seu próximo filme, o drama Youth Without Youth, mas foi somente em 2011 foi que o diretor retornou ao gênero fantástico com Virgínia, que estreou no festival internacional de cinema de Toronto em 4 de setembro de 2011 e no Brasil apenas em 10 de janeiro de 2014!! É curioso o fato que Virgínia, represente uma retomada após quase 20 anos de seu último filme no gênero e seu último sucesso comercial, Drácula de Bram Stoker (1992).

O roteiro, escrito pelo próprio Coppola, tem uma origem um tanto quanto inusitada: enquanto caia no sono após tomar umas a mais em Istambul, o diretor sonhou ter uma conversa vívida com Edgar Allan Poe enquanto um mistério de assassinato acontecia como pano de fundo. Acordado antes que o sonho terminasse, Coppola rascunhou tão rápido quando foi possível para não se esquecer e escreveu um conto curto para converter em roteiro e, usando como paralelo as trágicas histórias de perda de Poe (sua esposa/prima morreu de tuberculose aos 24 anos de idade) e Coppola (seu filho Gian-Carlo morreu em um acidente de barco aos 22 anos de idade), construiu a história de Virgínia, que foi filmada com total controle criativo por seu idealizador.

Simbolismos e paralelos com sua vida real permeiam o filme que conta a história de seu “alteregoHall Baltimore (Val Kilmer, que já havia trabalhado com o diretor como Jim Morrison em The Doors), um escritor popular de livros de horror com temas de bruxaria que, carregando um sentimento de culpa com a morte da filha em um acidente de barco, está em franca decadência e bebendo como um gambá! Ele chega a um minúsculo vilarejo chamado Swann Valley para uma sessão de assinaturas do seu último livro. O lugar é tão vazio e decrépito quanto o próprio escritor, já que sequer há uma livraria! E as únicas atrações da cidade são a torre do relógio com sete lados (e cada relógio com um horário diferente) e o hotel abandonado que serviu de habitação para Edgar Allan Poe de passagem pelo lugar.

Virgínia (2011) (2)

Baltimore fica em uma mesinha no cantinho de venda de livros do supermercado da cidade sendo sumariamente ignorado pelos poucos habitantes. Após vários momentos de tédio o único que se aproxima para conversar é o Xerife Bobby LaGrange (Bruce Dern, Monster – Desejo Assassino e Django Livre), que não só conhece as histórias do autor e é um empolgado fã de mistério como tem uma nova ideia para um novo livro: o recente assassinato não resolvido de uma garota com uma estaca de madeira no peito que está no necrotério de Swann Valey. Bobby em suas teorias acha que os responsáveis estão em um grupo de góticos com inclinações vampirescas que vivem próximos ao lago comandados por Flamingo (Alden Ehrenreich, Tetro), mas as investigações – até pelas limitações de recursos e inépcia da “força policial” – se mostraram infrutíferas e apenas pautadas no preconceito contra os jovens.

Pressionado pelo editor (David Paymer, Arraste-me para o Inferno) para um novo lançamento popular em vendas e pela esposa Denise (Joanne Whalley, Os Bórgias) para ter dinheiro e pagar as contas, Baltimore resolve tocar o projeto de LaGrange em frente… Todavia mesmo após enxugar quase uma garrafa de uísque nenhum parágrafo vai para o papel e o escritor acaba caindo no sono.

No sonho ele encontra uma garota chamada Victoria (Elle Fanning, Super 8), não fica claro se ela é o fantasma da menina morta ou qual é exatamente seu envolvimento com o assassinato, porém ela parece bem amigável ao conversar com Baltimore, desfiando aos poucos uma trama paralela envolvendo o nebuloso passado do vilarejo e o assassinato de outras 12 crianças no final do século 19. Eventualmente aparece para ajudá-lo a figura de Poe (Ben Chaplin, O Retrato de Dorian Gray e Cálculo Mortal), que parece saber mais sobre o caso do que aparenta e vai crescendo em Baltimore uma obsessão pela interferência de seu companheiro em sonhos para completar seu próprio livro, contudo o mundo dos “acordados” ainda aguarda e as investigações, que acabarão entrelaçando ambos os casos, poderão desenterrar segredos há muito esquecidos e poderão se tornar mais perigosos do que parecem ser.

Virgínia é uma produção interessante primeiramente pelos elementos gráficos e a narrativa não elementar. Quando está no “mundo dos sonhos” a fotografia e a iluminação adquire tons monocromáticos que remetem a Sin City, por exemplo, contudo em algumas destas passagens é inevitável deixar de lembrar dos contos clássicos de horror da Hammer e da Universal, enquanto no “mundo dos acordados” a estética é mais voltada para o convencional, ao racional, mas sempre buscando alternar tomadas em ângulos diferentes, transições e cortes inteligentes. Em suma, há um grande valor técnico agregado nos somente 7 milhões de dólares de orçamento.

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Porém se os aspectos técnicos impressionam e a mão do diretor faz a diferença, por outro lado o restante, infelizmente, não empolga tanto. Muito longe do clima mais chocante de seu debut Dementia 13 (1963), Coppola entrega um thriller intimista e com uma toada noir bem melancólica extraindo muitos dos elementos (até nos clichês) dos livros de Stephen King, principalmente na própria figura de Baltimore beberrão e amargurado. O roteiro alterna momentos de comicidade e mistério, no entanto somente em poucas cenas existe o que pode ser classificado como momentos de tensão e apreensão, pois o diretor prefere trabalhar a valorização dos aspectos “detetivescos” da trama, na resolução de quebra-cabeças envolvendo fanatismo religioso, pedofilia e segredos de uma cidade pequena, deixando as boas cenas de conflito e medo para deliciar o fã de horror só no finalzinho.

Adicionalmente as idas e vindas entre “sonho” e “realidade” trocando o tom diversas vezes não funcionam tão bem como se pode imaginar, a tentativa de inovação entrelaçando estes dois cenários acaba causando algumas confusões na cabeça do espectador menos antenado (e até nas dos mais antenados) o que se agrava pela verborragia sem polimento dos personagens principais e o não aproveitamento do potencial de vários dos secundários que tornariam a trama mais intrincada e aterrorizante. Por exemplo, a suspeita de que o Xerife está por trás do assassinato da garota e de alguma forma conectado ao crime de um século antes, se explorado, seria uma excelente adição, contudo isto só surge muito rapidamente já no terceiro ato, quando já está quase tudo resolvido.

O elenco, entretanto, é bem afinado e há tempo até de Val Kilmer – gordo como nunca e canastrão como sempre – prestar uma breve homenagem a Marlon Brando em seu icônico papel em Apocalypse Now, a caracterização de Ben Chaplin como Edgar Poe está visualmente perfeita, porém o destaque absoluto vai para o ator Anthony Fusco, que interpreta o pastor que no tempo passado foi suspeito de chacinar as crianças. Seria muito bacana vê-lo em uma produção de suspense mais convencional como um personagem mais consistente, com maior trabalho de desenvolvimento e sem saltos temporais, pois é um vilão que adoramos odiar.

Apesar do pouco apelo comercial e do lançamento em poucas salas, uma das curiosidades é que o filme possui 10 minutos em cenas em 3-D estereoscópico soltas no meio da produção e o filme “avisa” que vão começar quando um par de óculos voa em direção para a tela.

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Tudo então é uma questão de expectativa: sem aguardar a grandiosidade do Coppola dos anos 70 e a opulência de Drácula de Bram Stoker o público pode aproveitar melhor Virgínia, ficando apenas a impressão de um certo desperdício de boas ideias, um buraco na exploração de conceitos que poderiam colocá-lo numa posição mais positiva.

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3 Comentários

  1. O mínimo que se pode dizer é que o filme é muito esquisito e o final é de matar(sem trocadilho)>

  2. Na verdade o filme do The Doors com Val Kilmer foi dirigido pelo Oliver Stone e não pelo Copolla :)….

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