Peeping Tom - A Tortura do Medo
Original:Peeping Tom
Ano:1960•País:UK Direção:Michael Powell Roteiro:Leo Marks Produção:Michael Powell Elenco:Karlheinz Böhm, Anna Massey, Moira Shearer, Maxine Audley, Brenda Bruce, Miles Malleson, Esmond Knight, Michael Goodliffe |
O diretor Michael Powell (1905/1990) vinha de uma sólida série de filmes dos mais diversos gêneros,co-dirigidos com o seu amigo e parceiro o austro-húngaro Emeric Pressburguer (1902/1988), películas como Sapatinhos Vermelhos, Narciso Negro, Vida e Morte do Coronel Blimp, Paralelo 49, entre outros, até que resolveu se aventurar em 1960 no filme que acabaria por arruinar sua carreira e reputação: Peeping Tom – a Tortura do Medo (também conhecido aqui no Brasil com o subtítulo de Mórbida Curiosidade) escandalizou a fresca sociedade britânica, tachando o filme de patológico, pervertido, entre outros termos interessantes. Óbvio que a violência e a perversidade de Peeping Tom se diluíram com o tempo, o que acaba evidenciando outros grandes aspectos da obra.
O filme conta a história de Mark Lewis (interpretado pelo alemão Karlheinz Böhm, dos filmes da série Sissi, dos anos 50, com a Romy Schneider, citado nos créditos aqui como Carl Boehm), um jovem fotógrafo e cinegrafista amador, que servia na infância como cobaia nas experiências de seu falecido pai, um famoso neurologista.
Já adulto ele trabalha como câmera de um estúdio cinematográfico, e fotógrafo de um pequeno estúdio fotográfico. Nas horas vagas passeia com sua câmera, é aí que se mostra psicótico e obcecado com as “faces do medo“, ele sai assassinando mulheres, e filma, com uma espécie de faca embutida no tripé da câmera, o pavor de suas vítimas momentos antes da morte. Tudo vai bem até aquela vizinha enxerida se meter no seu caminho.
Há muitas cenas legais e curiosas: como a sequência de abertura com o assassino se aproximando de uma prostituta: primeiro se vê apenas a figura da vítima em meio ao cenário enquanto se ouve o assovio de Mark antes de entrar em cena (como em M de Fritz Lang); em outra cena ilustra-se toda a obsessão do personagem: após sair com Helen (Anna Masey do clássico Frenesi, também de Hitchcock e outra-prima sobre psicopatas), sua vizinha da pensão em que mora (que era a velha casa de seu falecido pai) e que tem uma queda por ele, chegam os dois em casa e ela “rouba” um beijo dele, logo ela sai de cena e ele beija a lente de sua inseparável câmera. Outra cena bacana, esta antológica, é quando a mãe de Helen (Maxine Audley do clássico da Hammer Frankenstein Tem que Ser Destruído), que é cega, invade o cineminha particular de Mark, onde ele assiste as filmagens de seus crimes, e pede para ele descrever o que há na tela! É incrível como o filme traz reflexões (ainda mais por uma geração pré-exploitation) não só sobre o voyeurismo, mas sobre ver e perceber as coisas, e isto se reflete nos próprios personagens, por exemplo: aparece lá pelas tantas um psicanalista, que é mostrado como um verdadeiro imbecil. Sem contar que a primeira pessoa a desconfiar do lado psicopata de Mark seja a mãe de Helen, que é cega!
Geralmente associado com o Janela Indiscreta, pelo caráter voyeur, mas o comparativo mais interessante com alguma obra do velho Hitch fica justamente com Psicose. Peeping Tom e Psicose foram produzidos no mesmo ano, e ambos mostram psicopatas com traumas de infância. No filme do velho Hitch é a figura da mãe que causa os tormentos e no de Michael Powell é o pai – não deixa de ser curioso esses dois lados da moeda. Peeping Tom é visionário, no sentido de antecipar os snuffs movies em mais de uma década (que ganhou notoriedade e virou lenda urbana depois de Snuff de 1976, feito pelo casal de picaretas Michael & Roberta Findlay).
Vale destacar como curiosidade também que em cenas de filmes caseiros, mostrando a infância de Mark (o que serve como uma espécie de flashback), temos o próprio diretor Powell, como o pai perverso de Mark, enquanto este é interpretado quando criança pelo filho do diretor colomba Powell.
Tenso e perturbador, Peeping Tom é um filme muito a frente de seu tempo, antecipando temas que seriam explorados mais tarde por gente como Brian de Palma, entre outros, e como acontece com alguns visionários, acabou se estrepando. Após décadas de ostracismo, o filme foi redescoberto por ninguém menos que Martin Scorsese, fã declarado da obra e do diretor, que através de uma retrospectiva, apresentou-o a uma nova geração cinéfila. Uma obra-prima que merece ser vista e revista.
Parece ser bem interessante, a extinta revista SET o elegeu como um dos 100 filmes mais assustadores de todos os tempos!
Ps: Ótimo texto Blob, é sempre bom ter mais pessoas talentosas no time do Boca do inferno!
Parabéns pelo seu primeiro (e ótimo) texto, Blob!
Valeu Kati!
bem interessante.