Pontypool
Original:Pontypool
Ano:2008•País:Canadá Direção:Bruce McDonald Roteiro:Tony Burgess Produção:Jeffrey Coghlan, Ambrose Roche Elenco:Stephen McHattie, Lisa Houle, Georgina Reilly, Hrant Alianak, Rick Roberts, Daniel Fathers, Beatriz Yuste, Tony Burgess, Boyd Banks, Hannah Fleming, Laura Nordin |
por Nilton Kleina
O clássico Despertar dos Mortos (1978) é recheado de cenas memoráveis, mas você se lembra dos primeiros minutos do filme? Um grupo de jornalistas está preso em uma estação de TV que realiza um debate caótico e enervado sobre zumbis – tudo isso enquanto o próprio local é invadido aos poucos pelos mortos-vivos. Todos estão nervosos, com medo e sem saber o que fazer, já que as informações são imprecisas e os canais saem aos poucos do ar. Alguns preferem concentrar-se no trabalho para se esquecer do apocalipse lá fora, enquanto outros correm de um lado para o outro, totalmente desorientados.
A cena do filme de Romero dura poucos minutos, mas mostrar o cotidiano de um meio de comunicação durante o espalhamento de uma infecção é o tema central de Pontypool (2008), uma produção canadense sobre uma infecção espalhada de forma original e diferente – e tão ou mais letal quanto mordidas de zumbis.
Na história, acompanhamos Grant Mazzy (Stephen McHattie, de Marcas da Violência e Watchmen: O Filme), um radialista polêmico, de voz cortante e discursos memoráveis. Beirando o alcoolismo e demitido de uma grande estação por conta das falas ácidas, ele acaba transferido para o programa matutino de uma pequena emissora de Pontypool, uma pacata cidade no interior do Canadá. Ele agora responde à valente produtora Sydney Briar (Lisa Houle, de Haven) e tem como assistente a bela e jovem Laurel-Ann (Georgina Reilly, de Eddie e Minha Babá é uma Vampira) – um trio que faz um bom trabalho, apesar de desavenças constantes por conta da personalidade forte dos dois veteranos.
Certo dia, a caminho do trabalho, Mazzy estaciona o carro e é abordado por uma mulher que parece em transe. Com o olhar perdido, ela apenas fala palavras sem sentido após bater no vidro do carro do sujeito, antes de sumir de vista. Ele fica intrigado, mas acredita que a situação foi isolada.
Já durante o programa, relatos enviados do único repórter local, Ken Loney (Rick Roberts), indicam que a população da cidade iniciou uma revolta em frente ao consultório de um médico. Bastam poucos minutos para que a situação fuja de controle: aquilo não é uma manifestação, as centenas de pessoas estão completamente descontroladas e tomadas pela violência. Não demora muito tempo até que elas rumem para a estação, colocando o trio em perigo. O problema é que alguém precisa transmitir essa informação para alertar os cidadãos ainda desavisados – e, numa cidade tão pequena, o rádio é o meio regional de maior alcance.
Stephen McHattie faz um trabalho nada menos que fenomenal. A voz combina com o rádio, passa suspense e drama ao arrepiar a espinha do ouvinte com as pronúncias pausadas e o tom cortante. Um ator experiente como ele encabeçando um elenco formado por desconhecidos traz segurança nas demais atuações e a simpatia do espectador, já que não há como não se encantar pelo estilo de Mazzy.
A primeira metade da produção passa lentamente, já que o foco está no desenvolvimento dos personagens e na construção da situação, mas você já está totalmente imerso no clima. A segunda, por outro lado, parece até um filme diferente: há um pouco mais de impacto visual e breves explicações sobre o caso, além da luta pela sobrevivência.
Para quem gosta de rádio, o filme é um prato ainda maior, já que discute várias questões sobre meios de comunicação e informação. Há brigas entre locutor e produção, problemas sobre que tipo de conteúdo veicular e sobre as obrigações de um jornalista. Mas nem todas as críticas são tão evidentes. O filme ainda sugere que os meios de comunicação podem ser usados para fins maléficos, mesmo que sem querer, que certos discursos são venenosos para o ser humano e que é necessário que uma pessoa esclarecida ou com opinião divergente sempre forneça outra visão de mundo em vez de uma ideia unilateral.
O fato de você só saber o que está acontecendo pelas notícias que chegam ao estúdio (que, por sua vez, recebe boa parte das matérias de um sujeito que dirige uma van pela cidade e finge que está em um helicóptero!) é uma simulação perfeita do que acontece na vida real. Por conta dessas limitações, você quer sair do local para entender o que diabos houve na cidade – mas está ilhado na estação, assim como os personagens.
Não há como não lembrar também de um evento de 1938 protagonizado por Orson Welles. Na época de radialista, o autor fez uma dramatização do livro Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, como se uma invasão alienígena realmente estivesse acontecendo nos Estados Unidos. Entrevistas com falsos fazendeiros e reportagens de campo com testemunhas oculares misturavam-se a trechos da obra lida por Welles. Como o aviso de que tudo era uma adaptação não era constante e muita gente ligou o rádio no meio da confusão, um pequeno caos tomou conta de uma região do país durante alguns dias. Pontypool passa mais ou menos o mesmo sentimento, com a diferença de que a história acontece de verdade no universo do filme.
Além disso, o acontecimento parece de grandes proporções, mas você não vê toneladas de infectados amontoados, como em Guerra Mundial Z (2013). Há apenas a sugestão de que algo está errado, como quando a equipe recebe ligações telefônicas abafadas, cortadas e com um tom desesperador. Pontypool faz com que isso seja tão assustador quanto uma experiência visual completa, aproximando-se de filmes como Sinais (2001) e Exército do Extermínio (1973).
Não vou estragar toda a surpresa, mas é possível citar que os zumbis da história não morreram efetivamente, tem a audição aguçada e funcionam melhor em horda. E, embora um médico (Hrant Alianak) apareça no último ato para soltar uma teoria sobre o funcionamento da infecção, a explicação científica é bastante incompleta – talvez o livro em que Pontypool é baseado forneça algo mais concreto, entrando em áreas como memética e linguagem. Pela internet, você encontra várias teorias tentando explicar como o vírus nasceu ou se espalha – além de tentativas de desvendar a cena pós-créditos, que é completamente sem sentido.
Especializado em filmes para a televisão, o diretor Bruce McDonald faz um excelente trabalho de ambientação, auxiliado pelo roteirista Tony Burgess, que escreveu a obra original, batizada de Pontypool Changes Everything.
No fim das contas, Pontypool é um excelente e criativo filme de infecção, construído sob uma atmosfera claustrofóbica muito bem feita e uma interpretação inspiradíssima de Stephen McHattie. Com boas doses de críticas sociais, muitos diálogos afiados e um pouco de terror para agradar a todos os públicos, essa pequena, barata e desconhecida pérola do cinema independente merece, assim como um vírus que se preze, ser disseminada para o maior número possível de pessoas.
Filme chato demais, não percam seu precioso tempo assistindo isso🙄
Excelente filme. Mostra o quão maléfica e infecciosa a mídia pode ser.
Globolixo…
Sensacional….clássico moderno.
Muito bom na primeira metade do filme, o suspense é ótimo, o terror passado pela rádio que não sabe exatamente o que está acontecendo é de gelar, mas perde a força depois, faltou mostrar todo o terror “plantado” no início do filme, uma pena.
Me despertou interesse nesse filme , tenho que assistir .
Amo esse filme! Mostra como o discurso pode ser viral. Neste caso, literalmente.
Um verdadeira pérola!
péssimo filme… n mostra nada x.x
parece bom,vou procurar pra ver.