Conde Drácula
Original:Nachts, wenn Dracula erwacht
Ano:1970•País:Alemanha, Espanha, Itália Direção:Jesús Franco Roteiro:Jesús Franco, Bram Stoker, Dietmar Behnke, Milo G. Cuccia, Carlo Fadda, Augusto Finocchi, Erich Kröhnke, Harry Alan Towers Produção:Harry Alan Towers Elenco:Christopher Lee, Herbert Lom, Klaus Kinski, Soledad Miranda, Maria Rohm, Fred Williams, Paul Muller, Jack Taylor |
“Nas lendas gregas, indianas, magiares e até chinesas, fala-se de um homem que vive do sangue de outros seres humanos. Desse modo não apenas permanece vivo como não envelhece jamais. Não é um fantasma, mas não tem sombra. Pode se transformar em cão, morcego, coruja e outros animais. Vive apenas de noite, e de dia se refugia em sua tumba. As pessoas de quem sugou o sangue ficam contagiadas, e por sua vez se transformam em outros vampiros. E seu nome é Drácula”.
Por ser um dos poucos a tentar revelar nas telas a história original do livro concebido por Bram Stoker em fins do século XIX, esse Count Dracula (também conhecido como Il Count Dracula ou Bram Stoker’s Count Dracula, lançado em 1970) merece uma menção especial, quase honrosa, não fosse o fato de ser, em termos gerais, uma produção extremamente medíocre. É verdade que a história até então nunca havia tido uma versão em película fiel ao original; tanto o Nosferatu de Murnau quanto o Drácula estrelado por Bela Lugosi foram apenas resumos bem livres do texto, com variações totalmente independentes; esse Count Dracula, por assim dizer, tentou remediar isso – o que não significa que conseguiu.
Nessa produção espano-ítalo-germânica dirigida pelo hoje “cult” Jesus Franco (ou Jess Franco, como ele preferia), ninguém menos que Christopher Lee aparece como um Drácula até que bastante semelhante ao descrito por Stoker, com o bigodão branco característico do personagem e a palma da mão peluda. Contudo, está bem distante da imagem satânica e cruel que criou ao longo de sua bem sucedida carreira enquanto ator na Hammer Films. Para dizer a verdade, nessa época ele ainda estava na ativa no famoso estúdio inglês de filmes de terror, sendo que já em 1973 voltaria a interpretar o Conde mais uma vez em Os Ritos Satânicos de Drácula (The Satanic Rites of Dracula), um dos piores exemplares da série. Antes desse, porém, em 1972, ele apresentaria o ótimo documentário A Verdadeira História de Drácula (In Search of Dracula), dirigido por Calvin Floyd a partir do livro homônimo dos especialistas em vampirismo Raymond T. McNally e Radu Florescu, segundo o roteiro de Ivonne Floyd. Esse documentário – que nada tem a ver com a Hammer – apresenta vários trechos de filmes famosos e não tão famosos sobre Drácula e vampirismo, inclusive dessa obscura e desconhecida obra de Jesus Franco.
Apesar de sua pretensão (que o levou a colocar: “Pela primeira vez a história original de Bram Stoker como ela foi realmente contada“), esse filme não é exatamente fiel ao livro, cortando personagens importantes (como o Arthur Hollwood), e deixando a outros (como o Dr. Seward), um papel secundário. Herbert Lom é o cientista e caçador de vampiros Abraham Van Helsing, enquanto Klaus Kinski (que teria sua própria vez como vampiro em 1979, na refilmagem de Nosferatu) interpreta o louco Renfield, importantíssima personagem do livro. Algumas poucas passagens são ousadas, remetendo-nos diretamente ao texto original – como a cena em que Drácula atira um pacote contendo um bebê raptado às suas concubinas, ou o momento em que explica a Jonatham Harker (Fred Williams) por que motivo pretende deixar a Transilvânia, em favor da Inglaterra, num monólogo bem próximo daquele descrito pelo autor:
“As lembranças de meu passado ficarão aqui. Minha família descende do ramo eslovaco. Para nós é um orgulho ter o sangue de tantas raças. Nessas mãos corre o sangue de Átila, e nos coube durante séculos a salvaguarda do território magiar. Os búlgaros… os lombardos… os turcos… todos atacaram nossa fronteira, mas nós sempre os repelimos! Os Dráculas sempre foram o coração e o cérebro, a mente diretora, a espada e a glória de seu povo! Meu antepassado cruzou o Danúbio e destruiu o exército turco. Repelido algumas vezes, continuou atacando o inimigo. No final voltou só da batalha, pois só ele podia triunfar! Aquele era realmente um Drácula! Agora o vento sopra gelado nos campos de batalha e ainda que me seja doloroso… devo partir…”
Existe também uma clara alusão histórica a Vlad, o Empalador, que, como se sabe, empreendera de fato terríveis e sangrentas batalhas campestres com os turcos no século XV, saindo, em grande parte delas, vitorioso.
O filme poderia, assim, se tivesse sido amparado por um orçamento mais generoso, representar um marco histórico do cinema de horror, ainda mais pelo fato – que não deixa de ser exótico – de que esse personagem tão popular, ícone máximo de um livro igualmente popular, ter tido que esperar quase cem anos para ganhar uma adaptação fiel, na releitura cometida por Francis Ford Copolla em 1992, em sua mistura bem sucedida de drama, horror e romance, num filme que dividiu opiniões. O Count Dracula, entretanto, senão pela precariedade de sua produção, vale sem dúvida pela presença de Lee – o melhor Drácula cinematográfico da história, afinal de contas.
Filme que conta com uma das atrizes mais sensuais da década de 70: Soledad Miranda.
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