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Vadias do Sexo Sangrento (2008)

Vadias do Sexo Sangrento
Original:Vadias do Sexo Sangrento
Ano:2008•País:Brasil
Direção:Petter Baiestorf
Roteiro:Petter Baiestorf
Produção:Petter Baiestorf, Ljana Carrion, Iara Dreher, Carli Bortolanza, Cristen Charles
Elenco:Ljana Carrion, Lane ABC, Coffin Souza, Jorge Timm, Petter Baiestorf

Unindo doses generosas de violência explícita e sacanagem, o ciclo sexploitation tentava atrair basicamente dois tipos de espectador: os tarados de plantão e os fãs de tosquices sanguinolentas. Desde o fim da década de 80 que este ciclo anda meio adormecido, deixando saudade para quem curtia os saudosos tempos da Boca do Lixo brasileira, os filmes apelativos como A Vingança de Jennifer ou as obras misturando zumbis e sexo explícito do italiano Joe D’Amato. Mas se depender do mítico cineasta independente brasileiro Petter Baiestorf, os filmes sexploitation vão sair definitivamente de suas sepulturas – e mais apelativos do que nunca.

Filmando em vídeo digital, o catarinense Baiestorf lançou, num curto espaço de tempo, o média-metragem Arrombada – Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo (2007), que é uma espécie de versão nacional e trash do clássico A Vingança de Jennifer (título original: “Cuspirei em seu Túmulo”), e o curta Vadias do Sexo Sangrento (2008), este uma homenagem apaixonada ao cinema da Boca do Lixo, e com resultado ainda mais demente que o anterior. Ambos são sexploitation até a medula, um presente para os órfãos deste estilo bem peculiar de fazer cinema.

Vadias do Sexo Sangrento (2008) (2)

Quem conhece o trabalho de Baiestorf sabe que ele já fez de tudo um pouco. Começou com o terror assumidamente trash nos anos 90, em filmes que se tornaram cult, como O Monstro Legume do Espaço e Criaturas Hediondas. Fez até filme de zumbi (Zombio). Depois partiu para o cinema erótico-pornográfico, para curtas experimentais e transgressores, e finalmente para longas bizarros que bebem da fonte do velho cinema marginal brasileiro, entre eles A Curtição do Avacalho, um de seus clássicos recentes. Mas é filmando sacanagem e violência que Peter é mais popular, e por isso Vadias do Sexo Sangrento tem tudo para satisfazer o enorme séquito de fãs do cineasta (ou seria “videasta”?).

Dentre estes seus dois novos trabalhos que bebem da fonte da sexploitation, curti Arrombada menos do que esperava, ainda que o filme cumpra tudo aquilo que promete. Vadias do Sexo Sangrento, em compensação, é curto (literalmente) e grosso: filme para doentes mentais, escatológico, bizarro, com um pouco de tudo para chocar até o mais escroto dos seres humanos do planeta. E, ainda assim, divertidíssimo e muito engraçado, para rir dos absurdos, dos exageros, dos excessos, dos banhos de sangue. Resumindo: um Fome Animal sexploitation!

Bem, o Baiestorf em pessoa me pediu para não falar muito do filme, reclamando que eu contei todas as cenas boas de A Curtição do Avacalho no meu artigo sobre o filme aqui no Boca do Inferno. Mas meus cinco leitores sabem que não sou de falar pouco, e também vivem ávidos por informação, então o Baiestorf que me dê licença e me deixe escrever à vontade (como trata-se de um curta-metragem de meia hora, vou me esforçar para não contar muito sobre a trama, pelo menos).

Vadias do Sexo Sangrento (2008) (3)

O filme já começa sem meias medidas, com os créditos se desenrolando sobre a imagem de uma vagina em close, seguida de uma masturbação explícita. O órgão sexual em questão pertence à gatinha Ljana Carrion, a “Arrombada” do filme homônimo e nova candidata a musa do cinema underground. Ela interpreta Tura (uma homenagem a Tura Santana, estrela cult de Faster, Pussycat! Kill! Kill!), uma lésbica que se diverte com a fofinha Mirza (Lane ABC, homenageando no nome a vampira dos quadrinhos do falecido Eugenio Colonnesse). As duas estão na cama peladinhas quando aparece Russ (PC, homenageando o cineasta alternativo Russ Meyer), ex-namorado de Mirza, que cobra carinho e afeto ao mesmo tempo em que ameaça encher a moça de pancadas.

A solução para o triângulo amoroso surge na forma de um psicopata sexual conhecido apenas como Esquisito (Coffin Souza, figurinha carimbada dos filmes de Baiestorf, e aqui impagável na sua interpretação de louco varrido). Na infância, Esquisito foi estuprado por 48 padres (!), e agora, adulto, se diverte praticando necrofilia (!!) e colecionando as vaginas arrancadas de suas vítimas (!!!). Ele se mete sem ser chamado na vida amorosa de Tura, Mirza e Russ, e o restante o espectador pode imaginar.

Vadias do Sexo Sangrento não pode ser acusado de propaganda enganosa: há sacanagem e violência em doses cavalares, embora os efeitos especiais sejam muito toscos para realmente chocar o espectador; assim, este acaba divertindo-se com os exageros (tipo tripas arrancadas pelo ânus). Baiestorf atenta ao bom gosto e aos bons costumes a cada segundo: entre masturbação (masculina e feminina), lesbianismo, estupro, necrofilia, uma garota mijando num cara (de verdade), linguagem chula, jatos de esperma e de sangue e nudez total (masculina e feminina), há um pouco de tudo para incomodar qualquer tipo de espectador, e a edição brilhante consegue condensar milagrosamente tamanha quantidade de barbaridades em meros trinta minutos!

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Quem acha que todo filme amador e independente tem que ter nudez vai encontrar nesta obra o seu grande clássico. Todos os atores e atrizes aparecem completamente pelados, e com tanta frequência que o espectador chega a estranhar as poucas cenas em que eles são vistos com roupas! É tanto pinto e perereca de fora que parece filme pornô, mas logo vem o banho de sangue para nos lembrar que o objetivo aqui é avacalhar geral, ao estilo Joe D’Amato, Jess Franco e Russ Meyer. Ah, mas vale destacar: o filme não tem sexo explícito, viu, taradões? É tudo de mentirinha!

Baiestorf também brinca bastante com a linguagem cinematográfica, como já havia feito em A Curtição do Avacalho, usando artifícios como começar o filme pelo final e então voltar a trama no tempo para explicar o que aconteceu, um narrador (o próprio diretor) que aparece comentando as cenas e até interagindo na ação, e diferentes versões de um mesmo acontecimento, o que rende uma das cenas mais impagáveis do curta: um engraçado duelo de motosserras entre um cara e uma garota peladões, à la Hollywood Chainsaw Hookers. É a síntese nua (literalmente) e crua do cinema sexploitation, juntando nudez, sexo, sangue e motosserras numa única cena – cena esta que, por si só, já vale o filme todo, embora Coffin Souza lamente o fato de não ter ficado tão violenta como estava previsto.

Engraçado, criativo e muito bem editado por Gurcius Gewdner, que elimina os tempos-mortos de Arrombada e parte para a piração desenfreada com um mínimo de diálogos, Vadias do Sexo Sangrento é diversão garantida para os débeis mentais e tarados deste mundo afora, com o padrão Petter Baiestorf de qualidade e toda baixaria que o cinema nacional insiste em não mostrar desde a década de 80. Que o baixinho catarinense continue comprovando que é um dos raros cineasta tupiniquins com colhões (literalmente, já que ele os mostra no filme!) para conceber surpresas desse naipe. Definitivamente, o Brasil já tem o seu Jess Franco!

PS: Eu certamente estou condenado às chamas eternas do inferno por ter levado toda a minha família, inclusive a minha septuagenária avó, à sessão de Vadias do Sexo Sangrento (é uma longa história…). Mas minha inocente vovó, quem diria, não ficou tão revoltada quanto eu imaginava. Disse-me ela: “Não gostei da história, mas acho que se a proposta dele é fazer a coisa com tanta mulher pelada, então tem que fazer assim mesmo!”. Minha avó defendendo o Baiestorf? Os tempos realmente mudaram! Só criticou uma coisa: a quantidade de “pingolins” balançando, e o (segundo ela) tamanho reduzido dos mesmos. Mas aí a culpa é da natureza, e não do Baiestorf… hahahahaha.

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2 Comentários

  1. Se for “bom” igual aquele MAR NEGRO, tô fora!!

    1. Não tinha lido essa matéria ainda !! Curti muito!!!
      E sobre o comentário da sua avó… já tinha escutado de outra senhora o mesmo comentário sobre os tamanhos dos pingolins!! hahaha . 10!

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