O Homem Sem Sombra 2
Original:Hollow Man 2
Ano:2006•País:EUA Direção:Claudio Fäh Roteiro:Joel Soisson, Gary Scott Thompson Produção:David Lancaster Elenco:Christian Slater, Peter Facinelli, Laura Regan, William MacDonald, Sarah Deakins, Jessica Harmon, Sonya Salomaa, Colin Lawrence |
Essa história você já conhece, mas não custa recordar: no ano de 2000, um distinto cavalheiro holandês de nome Paul Verhoeven dirigiu um filme chamado O Homem Sem Sombra. Um filme visualmente embriagante (devido ao grande orçamento de 95 milhões de dólares) que é bastante divertido e violento, como a maioria de seus filmes, além de contar com um elenco estrelado por grandes nomes como Elisabeth Shue, Kevin Bacon e William Devane.
Uma indicação ao Oscar de efeitos especiais e um relativo sucesso nas bilheterias causaram um certo burburinho que culminaram nesta continuação lançada diretamente para o vídeo, tanto no mercado nacional quanto em terras ianques.
Bem, então vem a questão: se você assistiu ao primeiro filme (e se não assistiu e não quer saber do final pule para o próximo parágrafo) você sabe que o vilão interpretado por Kevin Bacon morre e toda a infra-estrutura do laboratório é destruída. Então como continuar esta história que tinha começo, meio e fim? A resposta é uma produção completamente nova, amarrada porcamente com elementos do filme original, que falha não só em originalidade, mas em um monte de outras coisas que conforme veremos adiante, não provocando nenhuma sensação maior do que bocejos no público.
A história segue a linha “governo-tenta-desenvolver-arma-letal-perfeita-que-acaba-fugindo-do-controle“. A arma letal neste caso é um soldado chamado Michael Griffin (Christian Slater, que caiu muito no meu conceito desde Alone in the Dark), que tornado invisível por um experimento é utilizado para eliminar alvos políticos de interesse do exercito estadunidense, entretanto precisa tomar um tipo de remédio (e realmente não é muito importante sua função) para manter-se vivo e invisível. Como seus superiores não estão muito afim de colaborar, Griffin passa a matar a todos os envolvidos para encontrar a medicação e se vingar, mas somente uma pessoa tem o conhecimento suficiente para fabricar o dito cujo: a doutora Maggie Dalton (Laura Regan de Habitantes da Escuridão e O Olho que Tudo Vê).
Os cabeças do pentágono e o chefe da organização responsável pelo projeto, Dr. William Reisner (David McIlwraith de Roboman), sabendo do perigo que corre sua principal pesquisadora, solicitam a polícia local que deem proteção para Maggie, designando a detetive Lisa Martinez (Sarah Deakins, que também esteve em Alone in the Dark) e o detetive Frank Turner (Peter Facinelli. de O Escorpião Rei e Supernova) para a missão. No entanto o assassino invisível resolve dar as caras justamente naquela noite e após uma briga feia com a intervenção do exército, a parceira de Frank acaba morrendo e o assassino fugindo.
Frank e Maggie resolvem sair correndo também, e, um pouco mais tarde, precisarão fugir tanto do maníaco invisível quanto dos militares, que se descobre que não são flor que se cheire. Na busca pela verdade e por uma desforra sobre seu antagonista, Frank será capaz de qualquer coisa, nem que para isso precise rebaixar ao nível dele e se torne invisível como ele.
A primeira falha começa justamente na concepção desta continuação, pois utilizando como exemplo o mesmo caso do filme Efeito Borboleta, não havia cabimento em fazer uma parte dois. Apesar de serem filmes passatempo, não possuíam elementos fortes para sustentar a produção, apenas à vontade dos envolvidos em ganhar sobre os fãs do filme original.
O diretor Claudio Faeh (que também dirigiu a comédia de ação nhé Coronado) não compromete, mas ele não é Paul Verhoeven e isto fica evidente na sua forma de dirigir. O elenco tem altos e baixos, indo desde a inexpressividade de Laura Regan até a típica canastrice habitual de Christian Slater (isto quando aparece na tela), sendo que o melhor e mais balanceado em cena é Peter Facinelli, que faz um bom trabalho, apesar do desenvolvimento dos personagens abusar de clichês (a irmã ausente por causa do serviço, a parceira morta como motivação, o dono de empresa ambicioso demais, etc.) e atrapalhar o resultado como um todo.
Se o roteiro de O Homem Sem Sombra original já não aproveitava todo o potencial que uma história sobre um homem invisível psicótico poderia desenvolver e promovia alguns buracos na trama; nesta continuação certas situações chegam a ser engraçadas de tão ridículas, como as pegadas do maníaco na grama serem nitidamente feitas com sapato e o fato do assassino ser quase um super-homem.
Por fim, os efeitos tão elogiados no primeiro filme não têm um décimo do brilhantismo neste segundo, mesmo com a evolução de seis anos em tecnologia, até porque o orçamento foi significativamente reduzido e como podemos acompanhar no making of nos extras do DVD, foi necessário um enquadramento da produção para a nova realidade financeira. Algumas soluções se tornaram tão falsas que lembram o filme Memórias de um Homem Invisível (aquele com o Chevy Chase…) Talvez por conta deste novo obstáculo, a violência se tornou mais comedida e quase todas as mortes são off-screen.
Trocando em miúdos, O Homem Sem Sombra II é, portanto, uma versão diminuta em todos os aspectos que no original eram dignos de destaque: roteiro, elenco, direção, orçamento e consequentemente os efeitos, e por aí vai. Vale uma locação apenas em falta de alguma alternativa melhor, pois não é só o vilão, mas o filme inteiro não faz sombra.
Curiosidades:
– Durante uma cena, há um close na embalagem do remédio de úlcera do capitão de polícia. Nele pode se ler que o princípio ativo é “Kindasortacyn” e seu equivalente genérico “Somethinesleacyn“, em uma tradução livre seria como “algumacoisa-cilina” ou “algumacoisa-leacina“;
– A foto de jornal de um dos doutores mortos é de Paul Verhoeven. A foto foi tirada nas locações do filme Tropas Estelares enquanto filmava, mas foi alterada para seu uso neste filme;
– A cena do flashback onde Christian Slater começa a ficar invisível re-utiliza cenas do filme original de O Homem Sem Sombra;
– Em uma outra cena, quando a dupla principal está andando em uma calçada. Um homem pode ser ouvido bradando a plenos pulmões “O bacon mata!“. Esta é claramente uma brincadeira com O Homem Sem Sombra original, cujo vilão era interpretado pelo ator Kevin Bacon;
– O nome do personagem Michael Griffin é uma referência direta ao personagem Griffin do livro “O Homem Invisível” de H.G. Wells, lançado em 1897. Na história de Wells, Griffin ficou louco por causa de sua invisibilidade, tal como o personagem do filme;
– Paul Verhoeven, diretor de O Homem Sem Sombra original, é creditado como produtor executivo desta continuação.