Os Curados
Original:The Cured
Ano:2017•País:Irlanda Direção:David Freyne Roteiro:David Freyne Produção:Rory Dungan, Rachael O'Kane, Ellen Page Elenco:Ellen Page, Sam Keeley, Tom Vaughan-Lawlor, Stuart Graham, Paula Malcomson, Natalia Kostrzewa, Hilda Fay, Sarah Kinlen, Judy Donovan |
Em um mundo apocalíptico de ideias saturadas e roteiristas pouco inspirados, um bom argumento é o primeiro a sobreviver. The Cured, de David Freyne, desperta a atenção através de um conceito bem diferente do habitual, tendo em vista as inúmeras produções do subgênero zumbis e infectados: o que aconteceria se realmente houvesse uma cura para os infectados e eles pudessem voltar ao normal, à convivência de seus familiares, mantendo na memória as ações sangrentas do período em que estiveram fora de si? Embora você imagine que seria um retorno natural, sem grandes complicações, a realidade pode ser outra.
A série Les Revenants (2012-2015), inspirada no longa Eles Voltaram (2004), já trazia os mortos à vida como um problema difícil de ser digerido. Até mesmo os familiares, saudosos pelos parentes que perderam em tragédias, doenças e mortes naturais, pareciam já ter se adaptado à nova realidade, resgatando com a volta antigos conflitos e situações não muito bem esclarecidas no passado. Mas, eles não eram zumbis comedores de carne humana, como acontece no longa de Freyne. O passado aqui envolve pessoas que tiveram parentes devorados e todo o horror e violência presenciados…como esquecer tudo isso?
Senan (Sam Keeley) ficou quatro anos infectado. Alimentou-se de pessoas – algumas do convívio – e contaminou várias outras, mas conseguiu a cura que precisava. Com a doença controlada, os militares irlandeses já podem mandar de volta para casa os sãos, enquanto mantém aprisionados aqueles que são mais resistentes à cura. Eles arrumam emprego para os curados e mantém um controle constante de observação, visitas e entrevistas para evitar que o problema retorne. No entanto, a sociedade está dividida entre aqueles que não querem seus parentes de volta e os que os aceitam com algumas restrições. E há também grupos rebeldes se formando, a partir dos próprios curados querendo a soltura dos demais infectados, e aqueles que querem simplesmente eliminá-los.
Abbie (Ellen Page, discreta) aceitou bem a aproximação de Senan. Após perder o marido, vítima de um ataque, ela permite que o rapaz se estabeleça na residência, como uma atitude que pode ajudar seu filho. Se Senan está disposto a reconquistar a confiança, de maneira oposta acontece com aquele que o contaminou, Conor (Tom Vaughan-Lawlor). Sabendo que está havendo uma proposta do governo para eliminar os doentes que não conseguiram se curar, ele forma um grupo de resistência para agir contra essa decisão, podendo, inclusive, libertá-los com a ajuda da Dra. Lyons (Paula Malcomson). Atormentado por pesadelos e visões de seu passado insano, Senan quer esconder seus terríveis segredos e se opor a Conor, o que poderá lhe custar a confiança de Abbie.
Com uma condução por vezes dramática, sem esquecer do sangue e violência, Freyne desperta reflexões interessantes, permitindo analogias de seus curados com ex-prisioneiros, quando tentam uma segunda chance. Há também mensagens sobre o preconceito, racismo, inclusão, xenofobia, e até – pasmem! – militarismo, inseridas no contexto fantástico do pós-zumbi. Talvez o ritmo melodramático e a vontade de ver zumbis devorando a população possam afastar alguns curiosos. Para esses, eu deixo conselho: veja até o final. The Cured merece uma chance, e ela só pode ser dada por aqueles que conhecem o passado de produções sangrentas de zumbis carnívoros e estão saturados das ideias repetidas.
Com boa direção e elenco, embora Ellen Page por vezes parece uma zumbi em cena, o longa permite boas discussões em cenas de angústia e tensão, e, apenas por isso, já merecia a sua confiança.
Eu achei o filme muito bom mesmo. Achei essa abordagem bem interessante, diferente e dramática. Fugiu quase completamente dos clichês batidos e ultra manjados sobre zumbis que nós temos assistidos em filmes e séries desde que inventaram o gênero. Gostei do elenco e todos eles estão muito bem em suas atuações. Nós conseguimos sentir exatamente o que os personagens sentem na trama com essa boa e sólida direção do David Freyne. Gostei também dos debates que são propostos e das reflexões levantadas sobre inclusão, aceitação e principalmente sobre redenção dos personagens que já foram assassinos insensatos no passado e procuram por reintegração social e familiar quando recuperam sua sanidade. A narrativa é muito bem apresentada nesse sentido. É uma história sobre pessoas, e não sobre zumbis. Vale muito a pena assistir, a não ser que você que lê esse comentário seja um fanático bitolado por coisas “mais do mesmo” do tipo TWD, A Volta Dos Mortos Vivos e tantas outras coisas enlatadas genéricas que inventaram nas últimas décadas.
PS: Outro filme que é mais ou menos nessa pegada de “zumbis sem zumbis em destaque” e que eu também já assisti e o considero bom pra caramba é um de 2015(se não me engano agora) com o Arnold Schwarzenegger chamado ‘Contágio’. Excelente filme. Recomendo assistir pra quem curtiu esse ‘Os Curados’
Entre tantos filmes com o tema tão batido de zumbis, Os Curados torna-se uma opção, no mínimo, interessante. Quem deseja apenas ver sangue e violência vai se decepcionar. Um filme para ser descoberto.
Ellen Page em atuação boa num filme ruim – premissa promissora mas de execução boba, confusa e com jumpscares que beiram o ridículo. Tem até supervilão cheio de trejeitos… Fui enganado.
Muito bom!