Slender Man - Pesadelo Sem Rosto
Original:Slender Man
Ano:2018•País:EUA Direção:Sylvain White Roteiro:David Birke, Victor Surge Produção:Bradley J. Fischer, Robyn Meisinger, William Sherak, Sarah Snow, James Vanderbilt Elenco:Joey King, Julia Goldani Telles, Jaz Sinclair, Annalise Basso, Alex Fitzalan, Taylor Richardson, Javier Botet, Jessica Blank |
Uma das boas expectativas para 2018 era o lançamento de mais uma produção envolvendo o monstro Slenderman. Criado na internet, mais precisamente no fórum “Something Awful“, por Eric Knudsen (usando o nickname de “Victor Surge“), a edição de fotos, com o acréscimo de uma testemunha sombria ao fundo, dava vida a uma creepypasta aterrorizante sobre uma entidade que sequestrava crianças. Embora eu sempre visse essa criatura como uma representação da pedofilia, tendo em vista relatos de vítimas que não conseguiam às vezes se lembrar do rosto do algoz, mas marcava bem a altura, a vestimenta e os longos braços, Slenderman foi colecionando versões em games e filmes até culminar numa tragédia abordada de maneira absoluta no ótimo documentário Cuidado com o Slenderman, de Irene Taylor Brodsky, a respeito da jovem Payton Leutner, esfaqueada pelas colegas Anissa Weier e Morgan Geyser. Com todo esse contexto, Slender Man – Pesadelo sem Rosto parecia proposto a despertar calafrios, ampliando a força narrativa de uma criação virtual.
Não foi o que aconteceu. Adiado algumas vezes, principalmente pela coincidência de datas com o julgamento do caso real, o longa de Sylvain White é uma das piores versões da lenda, levando em consideração até mesmo o fraco found footage Slender (2016), de Joel Petrie. E difícil compreender a ruindade do roteiro de David Birke, uma vez que o argumento já era suficientemente capaz de despertar boas ideias, bastando apenas encaixar as peças, escolher o elenco e desenvolver cenas de tensão e medo. Como disse meu aluno Gabriel Richard, “eles tinham a faca e o queijo na mão. Preferiram jogar o queijo na cara do espectador.”
Na trama, as amigas Hallie (Julia Goldani Telles), Wren (Joey King, de Invocação do Mal, 2013), Chloe (Jaz Sinclair, de O Mundo Sombrio de Sabrina) e Katie (Annalise Basso, de Ouija: Origem do Mal e O Espelho), durante uma festa do pijama, resolvem invocar Slenderman. Aqui já cabe uma observação: esse ritual não faz parte das lendas sobre o personagem, sendo apenas uma liberdade do roteiro para facilitar e justificar a aparição da criatura. No processo de invocação, eles leem num fórum que devem assistir a um vídeo, fechando os olhos durante as três badaladas. Outra observação: qualquer semelhança notada com o filme O Chamado (ou Ringu, no original) é pura e simples cópia.
O vídeo traz imagens da floresta – a cidade onde elas vivem foi praticamente engolida por uma -, um portão, entre outras coisas, até culminar na saída da criatura de dentro de uma árvore (lembra do poço? Alguém?). Nada tão perturbador, mas as garotas começam a ter pesadelos com Slenderman, sempre envolvendo a mata, até o desaparecimento da primeira, Katie, durante um passeio ao cemitério da cidade. Com a ajuda de uma amiga virtual do mesmo fórum, e que teria sido o último contato de Katie, elas descobrem que existe uma maneira de fazer um ritual de troca, oferecendo à entidade coisas de valor pelo retorno da amiga. O problema se intensifica com mais aparições do Slenderman – em aspectos digitalmente artificiais – em lugares inusitados, como uma biblioteca, deixando as meninas perturbadas e sem saber como agir.
Sem relação direta com os crimes reais, embora as impressões iniciais deixassem transparecer isso, Slender Man – Pesadelo sem Rosto tem no roteiro de David Birke seu principal problema. Esse excesso de pesadelos que não levam a lugar algum, ou uma falta de padrão dos momentos em que a criatura irá aterrorizar as garotas (elas estão sozinhas na rua, nada acontece; estão em um lugar público, veem a assombração), e a ausência de informação sobre o que será mostrado (qual a relação do fórum com a entidade?) prejudicam o resultado final. As atrizes estão bem no papel, principalmente a que faz a irmã de Hallie, Lizzie (Taylor Richardson), com atuações convincentes de desespero e dor – ainda que o longa não seja capaz de promover isso.
Com um final adequado para o que se propõe em um filme de assombração e monstro, Slender Man continua aguardando uma produção de ficção que honre a mitologia desenvolvida na creepypasta. Por enquanto, optem pelas versões em game, bem mais assustadoras e atmosféricas!
Observação: curiosamente, o trailer traz cenas que não estão presentes no filme, incluindo a morte de dois personagens que não são mostradas em nenhum momento. Provavelmente ficaram na sala de edição para abrandar a censura, o que justifica ainda mais sua baixa avaliação.