A Lenda de Golem
Original:The Golem
Ano:2018•País:Israel Direção:Doron Paz, Yoav Paz Roteiro:Ariel Cohen Produção:Shalom Eisenbach Elenco:Hani Furstenberg, Ishai Golan, Brynie Furstenberg, Lenny Ravich, Aleksey Tritenko, Adi Kvetner, Konstantin Anikienko, Ekaterina Voronina |
Dentre todos os monstros que habitam o imaginário popular, o Golem é o mais injustiçado. Se o lobisomem, o vampiro, o zumbi e até a criatura de Frankenstein já tiveram inúmeras versões e adaptações para o Cinema e para a TV, esta lendária criatura da mitologia judaica é praticamente desconhecida do público atual. E é uma pena realmente pelas belíssimas referências existentes no século XX, com destaque para o clássico do cinema mudo O Golem (1920), de Carl Boese e Paul Wegener, e O Carrasco de Pedra (1966), de Herbert J. Leder, e por toda a perspectiva assustadora por trás de um monstro nascido do barro, numa alusão interessante ao Gênesis da Bíblia. Talvez seja por essa baixa popularidade e desconhecimento – além da disponibilidade para download e a competição com produções mais vistosas – que o bem realizado longa A Lenda de Golem não tenha tido um lançamento adequado na tela grande. Ou até mesmo pelo fato do filme fazer parte do currículo dos diretores Doron Paz e Yoav Paz, responsáveis pelo fraco Jeruzalem (2015). O que se sabe com certeza é que se trata de um trabalho bastante superior, curioso pela apresentação sincera da lenda e digno de fazer parte da cinebiografia do monstro.
Ambientado em 1673, na Lituânia, num pequeno e isolado vilarejo judaico ainda não afetado pela Grande Praga, iniciada em 1666, Hanna (Hani Furstenberg) vive em companhia do marido Benjamim (Ishai Golan), acompanhando-o e estudando secretamente preceitos religiosos como a cabala. Ambos vivem sob uma tortura psicológica, devido a perda traumática do filho sete anos antes, e acreditam que uma nova gravidez possa resgatar a união dos dois e fazê-los esquecer o triste passado. Quando um grupo de forasteiros, liderados por Vladimir (Aleksey Tritenko), chega ao local com uma criança enferma, obrigando a curandeira Perla (Brynie Furstenberg) a salvá-la sob a ameaça de incendiar a comunidade, Hanna sugere para o conselho religioso que seja criado um Golem para protegê-los dos inimigos. Com a negação absoluta, uma vez que eles se mostram receosos pelos perigos envolvendo o monstro, ela ainda assim resolve fazer o ritual, que envolve orações, moldagem e a escrita dos 72 nomes de deus.
Na mesma noite, o Golem (Konstantin Anikienko) desperta como uma criança em desenvolvimento, fria e coberta de barro, disposto a realizar todos os pedidos de sua criadora, eliminando aqueles que a incomodam como a garota que tenta sempre conquistar seu marido. Como cartão de visita, o Golem salva Hanna dos invasores, quando estava prestes a ser enforcada numa árvore, despedaçando-os com sua força extrema. Aliás, as mortes são sempre carregadas de violência gráfica, com a exposição de corpos mutilados e sangue em profusão, embora os ataques sejam apenas discretos. O Golem também tem o poder “scanner” de explodir cabeças somente com as mãos apontadas em direção à vítima. Num dos momentos mais interessantes do filme, ele se apresenta à comunidade à luz do dia em um combate mortal, atraindo a admiração das testemunhas.
Como uma fantástica construção do período, do vestuário ao vilarejo, das crenças ao preconceito, A Lenda de Golem também se destaca pela boa fotografia e, principalmente, pelo elenco, na atuação convincente de Hani Furstenberg, que passa de uma simples curiosa pelas tradições masculinas de seu povo para uma mulher forte e ousada. O jovem Konstantin, apenas, que somente convence à distância, quando não se permite ver seus olhos esbugalhados e a expressão raivosa. Culpa provável do roteiro de Ariel Cohen, que opta por deixar o horror de lado pelo mistério e mortes violentas, além de se espelhar nos clichês de produções sobre crianças malditas. É possível imaginar como o filme poderia funcionar de maneira mais assustadora se víssemos mais do imenso Golem do prólogo…
Sem trabalhar com o Medo, alicerce do gênero, A Lenda de Golem vale pela curiosidade, pelos tratos adequados ao contexto da época e pelo grafismo das mortes violentas. Que o Golem apareça mais vezes na tela para ocupar seu merecido lugar na galeria dos terríveis monstros do gênero fantástico!
vi a contagem de 4 comentários lá em cima e vim ver as impressões sobre o filme mas foi só piti de minion respondendo em letras garrafais.
Uma pena que nos cinemas da região de casa (zona leste cidade de São Paulo) só tem sessões em versões dubladas. Prefiro esperar e ver com áudio original.
UAL COMO VOCÊ É CULTO CARA… VOU ATÉ BATER PALMAS AQUI PRA VOCÊ 😉
Augusto, convenhamos que é foda não ter a opção de ver o filme no formato que se quer, né? Infelizmente é bem real o fato de filmes dublados e legendados serem muito mal distribuídos.
Uau com L tbm é sacanagem