The Toymaker – o Criador do Boneco Robert (2017)

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The Toymaker - o Criador do Boneco Robert
Original:The Toymaker
Ano:2017•País:UK
Direção:Andrew Jones
Roteiro:Andrew Jones
Produção:Lee Bane, Rebecca Graham, Robert Graham, Andrew Jones
Elenco:Lee Bane, Erick Hayden, Jo Weil, Nathan Head, Bodo Friesecke, Claire Carreno, Harriet Rees, Ali Rodney

Não há limites para a (in)capacidade criativa de Andrew Jones. Uma máquina de fazer bagaceiras, o cineasta galês está alcançando a média de realização de seis filmes ao ano, sempre com altas doses de picaretagem, oportunismo e insanidade. O público que o acompanha se perde entre títulos estranhos, continuações que não usam o simples “2” no título e atores/personagens que se cruzam entre franquias diversas. Ao mesmo tempo em que prepara infinitas sequências de Robert, uma mais tosca que a outra, inicia a pré-produção de tranqueiras como Bundy and the Green River Killer (envolve Ted Bundy com o assassino de Green River ao estilo O Silêncio dos Inocentes) e The Manson Family Massacre (que coloca as vítimas da família Manson na Cielo, como Sharon Tate, como assombrações de novos moradores), e por aí vai. São filmes assumidamente ruins, feitos para fãs de bagaceiras sem sentido, com péssimas atuações e (d)efeitos especiais, para ver com os amigos acompanhados de muitas bebidas.

The Toymaker é o terceiro filme da franquia do boneco que mistura Chucky com Annabelle (antecedido por Robert, 2015, e A Maldição do Boneco Robert, 2016). Ao término da análise do segundo filme, fiquei imaginando como seria essa nova empreitada de Jones, ao levar as ações para a década de 40, durante a invasão nazista, somente pelo prazer de ver seu brinquedo matando soldados e incomodando Hitler. Não deixa de ser notável pelo esforço criativo, embora o resultado seja muito aquém do se espera de uma pérola trash, uma vez que a diversão proposta é bastante rasa e alongada em cenas intermináveis. Uma edição mais ágil, com menos diálogos e mais ação (ainda que toscas) e o resultado poderia proporcionar boas gargalhadas.

Na Alemanha nazista, no ano de 1941, uma batida na porta assusta a família Muller durante a noite. Benjamin Hoffman (Rik Grayson) é um soldado alemão em busca de abrigo, mantendo em suas mãos apenas um estranho livro. Christophe (Francesco Tribuzio, de Werewolves of the Third Reich, 2017) aceita esconder o visitante, contando com o apoio da esposa Brigitte (Ali Rodney) e da filha adolescente Esther (Harriet Rees, de outras produções do diretor como Alcatraz, 2018). Os soldados chegam ao local para vistoriar a casa, com aquelas ameaças sobre os problemas que podem acontecer a quem proteger um “inimigo do governo“. Os soldados voltam outro dia em busca do fugitivo, com mais discursos e metáforas sobre blefe do póquer, em sequências que carregam ao todo 27 minutos e parecem fazer uma referência ao prólogo de Bastardos Inglórios.

Assim que descobrem o paradeiro do fujão, os militares, comandados pelo Coronel Ludolf Von Alvensleben (Erick Hayden), matam os integrantes da família à exceção de Esther, que consegue fugir da casa com o livro – mas parece que é baleada, embora não fique claro. Ela chega até o criador de brinquedos Amos Blackwood (novamente Lee Bane, dos outros dois filmes, numa maquiagem horrivelmente tosca) e morre em seus braços, deixando com ele a publicação misteriosa. Ele então percebe que se trata de ocultismo pelos símbolos e escrita (parece que o livro só tem duas páginas) e lê quatro palavrinhas que fazem o boneco Robert ganhar vida. No dia seguinte, ele tenta convencer sua funcionária Abigail (Claire Carreno), que, quando percebe que há algo aterrorizante ali e os nazistas estão oferecendo dinheiro para pistas sobre Esther, resolve denunciá-lo.

Amos explica que Robert já era amaldiçoado anteriormente, pois continha a alma de uma criança morta – numa fala bem superficial. Para que o brinquedo não se sinta solitário, ele resolve despertar outros dois bonecos: o vestido de palhaço, chamado Otto (referência ao nome real daquele que chegou a cuidar do verdadeiro brinquedo), e uma bonequinha de nome Isabelle. O trio vai ajudar no que for preciso para defender seu mestre, usando faquinhas, bastão e até arma de fogo, se for necessário. Só não explica como eles se locomoveram da loja até o quartel dos soldados, sem serem notados, e como descobriram para onde fora levado Amos.

Com um irrisório orçamento de U$150 mil dólares, Robert and the Toymaker (ou apenas The Toymaker como é conhecido originalmente) é o pior dos três primeiros filmes. Sem a movimentação do primeiro ou o bom elenco do segundo, o que sobra é um filme em que os bonecos quase não aparecem em cena, nunca por inteiro, e se alonga em diálogos chatos e sem profundidade. Além da sequência inicial, de quase 30 minutos sem que apareça os bonecos ou o criador, depois que Amos é preso pelos nazistas, ele é ameaçado de tortura (ameaça vazia que não passa de socos) e ouve um imenso discurso do coronel, que parece torturá-lo apenas com a dialética.

Contribui para o incômodo do espectador a terrível maquiagem de Lee Bane. Sabe-se lá porque quiseram manter o mesmo ator que fez o pai no primeiro filme (amizade com o diretor talvez), mas a peruca calva com cabelos artificiais mais lembram um palhaço de circo do que um senhor idoso. Nem as rugas convencem. Se no segundo filme ainda havia uma tentativa de disfarçá-las, aqui aparecem exageradamente, com a perspectiva de que alguma hora algo ali iria derreter. Soma-se ao posicionamento irregular da câmera, às atuações fracas (a mais terrível é a de Francesco Tribuzio) e a trilha sonora nos ataques dos brinquedos, já vistas em outras produções do gênero.

Robert and the Toymaker parece ser um longa de transição para o quarto filme, The Legend of Robert the Doll, que continua exatamente onde este terminou, com a chegada do trem (os irmãos Lumière ficariam orgulhosos) que levará os bonecos para mais enfrentamento com nazistas. Precisa saber se o público vai resolver embarcar nessa viagem absurda…

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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