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Contágio em Alto Mar
Original:Sea Fever
Ano:2019•País:Irlanda, EUA, UK, Suécia, Bélgica
Direção:Neasa Hardiman
Roteiro:Neasa Hardiman
Produção:Brendan McCarthy, John McDonnell
Elenco:Hermione Corfield, Dag Malmberg, Jack Hickey, Olwen Fouéré, Dougray Scott, Connie Nielsen, Ardalan Esmaili, Elie Bouakaze

É sempre bom voltar para o mar em enredos que exploram a claustrofobia, a loucura e a desconfiança. A vastidão de seu alcance, com a linha do horizonte cortando o encontro do céu com a água, desperta a curiosidade e a imaginação, além de ampliar a sensação de solidão e abandono, mesmo que você esteja a bordo de uma embarcação com outras pessoas. O conceito anda realmente em baixa, sem muitos exemplares que sejam dignos à grandiosidade do oceano, mas, vez ou outra, há um algum grupo de pescadores no confronto com uma ameaça desconhecida, como é a temática do interessante Sea Fever.

Nele, a esforçada doutoranda Siobhán (Hermione Corfield), com especialização no estudo de padrões de comportamento da fauna, adquire os direitos de participar da expedição do barco pesqueiro Niamh Cinn-Oir, com outros seis tripulantes: o capitão Gerard (Dougray Scott), sua esposa Freya (Connie Nielsen, num papel que inicialmente seria de Toni Collette), e os engenheiros Omid (Ardalan Esmaili), Johnny (Jack Hickey), Ciara (Olwen Fouéré) e Sudi (Elie Bouakaze). Inicialmente bem-vinda, Siobhán é vista como um mau agouro pelos demais supersticiosos por ser ruiva, tanto que até tenta esconder a bela cabeleira com uma touca até ser descoberta. Mas o principal problema não advém dela.

Embora tenha sido alertado pela Guarda Costeira que o barco estaria próximo de uma Zona de Exclusão (lugar proibido para determinadas atividades, muitas vezes utilizados para fins militares), Gerard insiste em invadi-la, crente que a região seja boa para pesca. Quando o barco fica preso numa determinada área e uma estranha gosma verde parece sugar a madeira submersa, Siobhán mergulha e percebe que estão sendo mantidos no local pelos tentáculos de um desconhecido organismo parasita. Logo notam uma outra embarcação próxima e resolvem pedir ajuda, encontrando um cenário horrendo de tripulantes com olhos estourados ou vítimas de um aparente suicídio. Quando tentam pescar a criatura e Johnny fere a mão, o contágio parece provocar nele alguns sintomas, algo que irá aos poucos afetar os demais, desde que consigam encontrar um meio de evitar que a doença se espalhe.

Além da tensão provocada pelo espaço reduzido e uma ameaça desconhecida, o desespero se torna o comandante da viagem, com alguns querendo a todo custo simplesmente voltar a tocar o solo. A jovem protagonista entende que esta talvez não seja o caminho ideal, pois há o risco que eles estejam levando a doença para a população, uma enfermidade que demonstra ser rapidamente devastadora. Assim, Sea Fever se sai bem por trazer reflexões sobre o período atual da quarentena, promovida pelo Covid-19, uma vez que há questionamentos sobre a necessidade de isolamento, uma proteção que pode ir além do próprio umbigo.

Como aconteceu em O Enigma de Outro Mundo, em dado momento acontece o teste para descobrir possíveis infectados. Neste, não tem a mesma reação monstruosa como a do filme de 1982, e a observação é feita através da pupila, o primeiro sinal de contágio, exigindo depois o afastamento dos demais. Também não há aqui deformidades ou transformações estranhas, com todo o horror sendo mais psicológico do que gráfico – sem que isso deixe de ser interessante. Neasa Hardiman faz um bom trabalho na direção, apresentando o medo como um personagem inevitável da embarcação.

Simples em sua realização eficiente, contando no elenco com o carisma de Dougray Scott (de Exorcistas do Vaticano e O Último Passageiro) e com a expressividade de Hermione Corfield (de Orgulho e Preconceito e Zumbis), Sea Fever, que teve sua estreia no Festival de Toronto em 2019, conquistando boas reviews, é um passeio sem volta por um pesadelo marítimo. Sem exageros gráficos, é uma viagem que vale a pena acompanhar.

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