O Que Ficou para Trás
Original:His House
Ano:2020•País:EUA Direção:Remi Weekes Roteiro:Remi Weekes Produção:Aidan Elliott, Martin Gentles, Roy Lee, Arnon Milchan Elenco:Sope Dirisu, Wunmi Mosaku, Matt Smith, Malaika Wakoli-Abigaba, Javier Botet |
O contexto narrativo de produções como Corra!, Nós, a série Além da Imaginação e Lovecraft Country – com ou sem o envolvimento de Jordan Peele -, além de Antebellum, está impulsionando o que se pode chamar de Horror Social, trazendo ao cinema e à TV discussões sobre racismo e preconceito (há quem prefira a expressão “Horror Noire” ou “Black Horror“, de maneira mais específica). É claro que o tema não é inédito no gênero, principalmente se você pensar no clássico absoluto de George A.Romero A Noite dos Mortos-Vivos (68), mas é interessante pensar nessa nova onda de filmes que vão além de sustos e monstros para também expor uma realidade cruel e ainda atual. Pode-se colocar nessa lista o filmaço que chegou este ano a Netflix, O Que Ficou Para Trás (His House), de Remi Weekes, com roteiro próprio desenvolvido a partir de um argumento de Felicity Evans e Toby Venables.
Trata-se de uma produção que aborda o subgênero das casas assombradas (ou de pessoas assombradas) de maneira criativa. Imagine-se na situação: você e sua esposa são refugiados do Sudão, em pleno período de guerra no sul, e são capturados e mantidos sob custódia na Europa. Eis que é feita a proposta de liberdade e nova vida, com moradia garantida, desde que aceite participar de um programa de reestruturação do governo, cuja principal determinação é que você se habitue ao novo local, cuide bem dele e, de maneira alguma, opte por deixá-lo. Qualquer problema que seja relatado, com vizinhos ou qualquer outra pessoa, encerrará a condicional, e vocês terão que voltar à prisão.
O casal Majur, Bol (Sope Dirisu) e Rial (Wunmi Mosaku, de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, 2016), acredita que a sorte resolveu abraçá-lo. Uma nova vida, com todas as garantias, é tudo o que buscava, desde a travessia por um mar agitado que culminou com a perda da filha durante o trajeto. Assim que se estabelecem, coisas terríveis começam a acontecer, principalmente através dos grandes buracos de uma das paredes, por onde olhos, vultos e outras manifestações o fazem entender que não estão sozinhos. As assombrações parecem dispostas a destruir o lar conquistado, levá-los ao extremo de seus pesadelos com visões aterrorizantes como se representassem um horror maior e mais agressivo.
Diferente das produções tradicionais, o casal não tem como pedir ajuda. Não virá uma médium, um padre para realizar exorcismo e nem Ed e Lorraine Warren: eles realmente estão sozinhos. Mas, o que será que está despertando esse mal, que parece conhecer o passado e está disposto a desuni-los? É por que ele continua perseguindo-os até mesmo quando estão distantes da casa, como se estivesse ancorado em suas raízes? Além da boa direção, o que beneficia O Que Ficou para Trás são os momentos assustadores, numa constância crescente e intensa, com opções distintas para causar desconforto. É claro que a produção não se esquiva de todos os clichês, como o da movimentação de bolinhas, que não é novidade desde The Changelling, de 1980, e outras aparições antecipadas pela trilha sonora.
Contudo, ainda que não seja absolutamente inovador – seria difícil que conseguissem isso em pleno 2020 -, O Que Ficou Para Trás é um terror sério, com elementos de crítica social, mas que não apela para melodramas e sequências que não levam a lugar algum. Vale uma visita ao casal para conhecer a entidade que resolveu adotá-los!
Vale destacar a sensível melhora dos filmes de gênero produzidos pela Netflix e alguns outros inseridos no seu catálogo. De capenga tempos atrás, hoje temos ótimas opções.