3.3
(15)

Vestido Vermelho
Original:In Fabric
Ano:2018•País:UK
Direção:Peter Strickland
Roteiro:Peter Strickland
Produção:Andrew Starke
Elenco:Marianne Jean-Baptiste, Hayley Squires, Leo Bill, Julian Barratt, Steve Oram, Gwendoline Christie, Barry Adamson

Diante de uma onírica e psicodélica viagem ao fantástico universo do consumismo e da moda, está Vestido Maldito, longa de Peter Strickland, estreou em 2018 e está atualmente no catálogo da Amazon Prime.

A trama, dividida em duas grandes partes, narra histórias distintas que estão ligadas entre si pelo fatídico vestido vermelho: a primeira delas apresenta a saga de Sheila (Marianne Jean-Baptiste) funcionária de um banco, divorciada e que se dedica exclusivamente a cuidar de sua casa e de seu filho, um jovem adulto rebelde e impulsivo. Sem amigos, namorados ou vaidades, ela segue sua rotina do trabalho para a casa, enquanto precisa aturar as ironias do filho e a grosseria de sua namorada, além das exigências e abusos no seu trabalho.

Cansada de todos os desaforos enfrentados, Sheila decide buscar um novo relacionamento amoroso: é então que encontra em uma estranha loja de departamentos um exuberante vestido vermelho: peça exclusiva que vai mudar tragicamente a sua vida para sempre.

Já a segunda parte da trama narra a história de um jovem, tímido, medroso e inseguro que é levado pelos seus amigos para fazer a sua despedida de solteiro: pouco tempo antes de seu casamento, ele é forçado a uma noite de bebedeira e a se vestir com um vestido vermelho durante toda a noite – o próprio vestido que havia parado em um brechó da cidade. Subjugado pela namorada e o chefe, ele vê sua vida se transformar radicalmente após a estranha a presença do vestido maligno.

O resultado das duas histórias são reviravoltas trágicas e fatais.

MAS, É BOM?

Vestido Maldito é, acima de tudo, um longa com tom crítico que não se leva a sério. Aborda temas contemporâneos dentro de um cenário antigo como a sedução do consumismo, o desejo de aceitação e a forma como os meios de comunicação trabalham ambos os assuntos.

As críticas ao consumismo são brilhantemente apresentadas na construção da estranha loja de departamentos, que utiliza alegorias psicodélicas e góticas para representar um sistema que seduz e escraviza: do figurino sombrio das vendedoras e atendentes às falas pomposas e interpretação rebuscadas sugere-se que algo está muito errado, mas que ninguém percebe: é a visão do telespectador guiado pelo sentimento de repulsa e ameaça, mas sendo totalmente ignorado pelos personagens, que veem tudo com um olhar conformado, acostumado a realidade em que vivem – um ponto forte para representar como nós mesmos encaramos as necessidades de consumo dentro do cenário da moda. Esses tons sombrios são igualmente utilizados nos anúncios que aparecem na televisão e são a forma como o filme apresenta a descrição da loja de departamentos, e a partir daí construir o verdadeiro personagem principal: o vestido vermelho.

PERSONAGEM PRINCIPAL

Assim como em Bacurau, que transforma a cidade em um personagem único, Vestido Maldito transforma a própria peça de roupa em uma personagem capaz de conduzir, envolver e assombrar suas vítimas. Um dos grandes acertos da produção é não abusar de efeitos digitais para as cenas de captura da roupa, nem utilizar situações extremas ou violentas demais que poderiam transformar o longa em uma produção trash exagerada. Sua presença no longa se limita apenas a assombrar sutilmente, se tornando uma presença etérea e misteriosa, com tons mortais e assustadores em sua total simplicidade.

TÉCNICO E CONCEITUAL: o que define Vestido Maldito?

Apesar das discussões apresentadas em tom crítico, o longa trabalha uma certa linguagem cínica enquanto faz as reflexões do contexto,como se debochasse de si mesmo e de qualquer outra trama que fizesse discussões tão severas em um filme de terror.

A fotografia ajuda a complementar os termos, variando as sobreposições de cor enquanto trabalha os dois universos: o primeiro deles, destinados às vítimas – em tons mais sóbrios e azulados – e o segundo, destinado aos personagens da loja de roupas – em tons quentes e avermelhados, que acabam causando um forte contraste com as figuras sinistras e misteriosas que estão no lugar.

A direção de Peter é segura e mantém seus traços excêntricos, especialmente ao retratar as cenas dos funcionários da loja.

O roteiro segue bem até certo ponto, conseguindo desenvolver com qualidade os três atos destinados a história de Sheila, mas, a trama perde muita força na parte destinada ao noivo tímido, se tornando frágil e enfadonha, meio desnecessária. A guinada final consegue recuperar o fôlego, mas não com tanta força como havia sido feita nos primeiros momentos. E o terceiro ato consegue encerrar toda a história com um desfecho simbólico de todo a trama, fazendo uma sutil explicação sobre a origem do vestido e seu objetivo junto às suas vítimas.

Vestido Maldito é um longa irreverente, estranho e eloquente. Impressiona, diverte e cria um ligeiro senso de reflexão no espectador. Tem seus erros e problemas, observados no roteiro e condução da trama, e, mesmo após escorregar na sua evolução, consegue entregar um final coerente e coeso.

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Média da classificação 3.3 / 5. Número de votos: 15

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3 Comentários

  1. A 2º metade com o cara que conserta máquinas de lavar roupas até tem algumas cenas engraçadas, mas mesmo assim o filme é estranho e ruim.

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