Castle of Blood
Original:Danza Macabra
Ano:1964•País:Itália Direção:Antonio Margheriti Roteiro:Sergio Corbucci, Giovanni Grimaldi Produção:Leo Lax, Marco Vicario Elenco:Barbara Steele, Georges Riviére, Margarete Robsahm, Arturo Dominici, Silvano Tranquilli, Sylvia Sorrente, Giovanni Cianfriglia, John Peters, Merry Powers, Umberto Raho, Salvo Randone, Benito Stefanelli, Johnny Walters |
Existe uma filmografia dentro do horror cinematográfico que conseguiu elevar o universo gótico a um status de cult. Desde obras clássicas como: Nosferatu, de Murnau, até recriações pop contemporâneas como: A Noiva Cadáver e Sweeney Todd, ambos de Tim Burton, o cinema conseguiu mergulhar no sombrio mundo dos amantes que transitam entre o mundo dos vivos e dos mortos, no coração profundo de assassinos que povoam as trevas mais intensas, nas fantasmagóricas narrativas dos umbrais. Outras obras obrigatórias desse conjunto de filmes seriam: A Máscara de Satã e The Whip and The Body, ambos de Mario Bava, sem esquecer do clássico absoluto dos anos 80: Fome de Viver. Para a legião de fãs de filmes de temática gótica, um dos mais interessantes é o recentemente restaurado e lançado em DVD em uma versão sem cortes: Castle of Blood aka Danza Macabra, dirigido pelo irregular Antonio Margheriti, o mesmo de bizarrices como: Cannibal Apocalypse e O Peixe Assassino.
A edição desse DVD teve o apoio do crítico e historiador Tim Lucas, biógrafo do Mestre Mario Bava. Castle of Blood tem uma atmosférica trilha-sonora de Riz Ortolani, um dos maiores compositores da história do cinema de horror europeu, responsável por trilhas antológicas como a de Cannibal Holocaust. E por falar em Cannibal Holocaust, seu diretor, Ruggero Deodato, foi o Assistente de Direção de Margheriti em Castle of Blood – o cinema italiano e seus profundos laços de amizade, que já existiam nos tempos dessa produção de 1964.
Castle of Blood é livremente inspirado na obra de Edgar Allan Poe, o mais popular ícone da literatura gótica de todos os tempos, que teve diversas adaptações para o Cinema. O próprio autor aparece em cena representado pelo ator Silvano Tranquilli, na sequência de abertura. A trama é simples inicialmente. Um homem: Alan, aceita o desafio de passar a noite em uma mansão abandonada que tem a fama de ser assombrada, habitada por almas atormentadas. Ele faz uma aposta e parte para seu desafio. O que vemos em cena a partir desse momento é a densa, lenta e atmosférica jornada desse homem andando pela mansão abandonada. Os silêncios dessa sequência tem grande força narrativa. Aos poucos ele descobre os aposentos dessa mansão aparentemente abandonada. Impactante é o momento em que se vê diante do quadro de uma mulher, cuja face parece fantasmagórica e hipnótica para Alan. Ao entrar em uma sala e chegar próximo a um piano surge da escuridão intensa, as mãos pálidas de uma mulher: é Elisabeth, a melancólica, mórbida e ao mesmo tempo bela figura de Elisabeth, a típica “Noiva das Sombras” onipresente nas narrativas góticas. Interpretando essa mulher de mórbida sensualidade temos a lenda do horror Europeu: Barbara Steele, a eterna Bruxa Asa de A Máscara de Satã. Nesse momento o mundo dos vivos e dos mortos se mescla, e Alan inicia sua noite de horror com consequências inimagináveis.
Muitos acreditam que o fantasma é um “evento” que se repete pela eternidade até que a alma perturbada e vingativa consiga alcançar o descanso eterno. No caso dos eventos sobrenaturais, ricamente mostrados em Castle of Blood, através de uma inspirada fotografia em preto e branco, essa questão do “evento” eternamente repetido fica muito clara. É muito forte, como exemplificação do contexto gótico do filme, o momento em que Elisabeth afirma estar morta, mostrando a Alan que seu coração não bate mais. O amor obsessivo do herói pela musa morta, o modelo clássico da literatura gótica por excelência, onde esse amor conduz os protagonistas para o abismo. Fragmentos de ações culminam na sequência onde Alan vê o momento onde todos foram condenados. Surge Julia, a mulher do quadro, o amante de Elisabeth e seu marido. Numa ciranda de horror, sangue e morte todos selam o seu destino. Na época, uma insinuação forte de lesbianismo entre Elisabeth e Julia foi cortada da versão americana do filme. No DVD essa sequência breve aparece com áudio em francês, pois a única versão com essa cena intacta só existia na França. A fúria selvagem de Elisabeth é um dos grandes momentos da carreira de Barbara Steele, um momento antológico e muito ousado para uma produção de 1964, muito bem dirigida. A figura do Dr Carmus é muito interessante. Além de ser uma espécie de anfitrião de Alan naquele limbo sombrio, ele faz uma interessante experiência mostrando a dualidade da vida e da morte cortando uma espécie de serpente ao meio que continua viva após o corte.
São muito intensos os momentos em que Alan percebe que está totalmente cercado por mortos que surgem diante dele com um realismo que o confunde o tempo todo. Corredores misteriosos, caixões, sepulturas, todo um cenário se desenha diante dele numa composição cada vez mais sufocante que o conduzirá a um desfecho totalmente inesperado. Castle of Blood é um grande clássico do cinema de horror europeu, mostrando mais uma vez que os italianos estavam bem a frente dentro desse gênero. Grandes sequências, excelente atmosfera e duas protagonistas femininas de força implacável. Um desses tesouros esquecidos do cinema de horror que merece ser redescoberto com urgência.