4.8
(15)

Vampiros de John Carpenter
Original:Vampires
Ano:1998•País:EUA, Japão
Direção:John Carpenter
Roteiro:John Steakley, Don Jakoby
Produção:Sandy King
Elenco:James Woods, Daniel Baldwin, Sheryl Lee, Thomas Ian Griffith, Maximilian Schell, Tim Guinee, Mark Boone Junior, Gregory Sierra, Cary-Hiroyuki Tagawa, Thomas Rosales Jr., Henry Kingi

Em qualquer lista confiável de produções divertidas envolvendo as criaturas da noite, certamente há lugares reservados para A Hora do Espanto, Os Garotos Perdidos, Quando Chega a Escuridão, Um Drink no Inferno e Vampiros de John Carpenter. São filmes embebidos do mais puro entretenimento, seguindo suas próprias regras, sem desrespeitar a figura absoluta dos sugadores de sangue. No caso da produção de 1998, inspirada em uma obra de John Steakley, há um uso adequado do subgênero e ainda a contribuição do mestre do terror, responsável por clássicos como Halloween: A Noite do Terror (1978) e O Enigma de Outro Mundo (1982), em parceria com um grande elenco, liderado por James Woods e Daniel Baldwin, e ainda contando com Sheryl Lee e Thomas Ian Griffith.

Antes de chegar a essa combinação importante, houve um longo processo de escolha de direção e os demais da equipe técnica. Embora os direitos pela obra tenham sido adquiridos em 1992, diversos nomes foram cogitados para a cadeira de diretor: Russell Mulcahy, Sam Raimi, Peter Jackson e Ron Underwood. Dolph Lundgren iria ser o protagonista a enfrentar o Mestre Willem Dafoe; a trama se passaria no Vaticano, tendo o Papa como principal conspirador; há outro tratamento que imaginava um mundo futurista em que vampiros seriam criaturas dominantes, perseguidos por policiais caçadores. Conflitos na agenda do primeiro diretor relacionado o tiraram do projeto, assim como Lundgren, em meados de 1996, quando já havia um orçamento estipulado entre 50 a 60 milhões de dólares. Sem a possibilidade de uma luz verde, um certo Carpenter passou a ser considerado.

Logo após finalizar as filmagens de Fuga de Los Angeles, John Carpenter já pensava em se aposentar. As filmagens haviam sugado sua energia como um vampiro sedento, e o diretor de A Bruma Assassina já não se via mais na cadeira de comando. Dois rascunhos chegaram a ele, e ao ler os dois, Carpenter se animou pela possibilidade de fazer um filme que mesclasse terror com faroeste, com vampiros distantes da concepção gótica, mas como bestas selvagens. Contudo, o orçamento caiu para U$20 milhões no ato da assinatura do contrato, sem que ele deixe evidente em cena a diminuição dos recursos, resultando em um dos seus últimos melhores trabalhos.

Apesar das algumas boas críticas – houve uma mistura de sentimentos, com jornalistas colocando-o tanto nas listas dos melhores de 1998, quanto dos piores -, o longa arrecadou pouco mais de U$20 nos EUA, mas conseguiu o dobro com os lançamentos pelo mundo, incluindo distribuição em VHS e depois em DVD, além de acordos para exibição na TV. Passou distante de ser o maior sucesso da carreira dos envolvidos, porém foi conquistando fãs com o passar dos anos, estabelecendo-se como produção cult e bastante defendida em fóruns e encontros de fãs de terror, servindo também de inspiração para HQs, filmes e séries, e motivando a realização de duas continuações, desnecessárias e sem o mesmo carisma.

Em uma releitura atual, agora que o filme encontra-se disponível na Netflix, pode-se dizer que Vampiros de John Carpenter ainda continua interessante. Bons efeitos especiais, cenas sangrentas com altas doses de violência, bom humor na medida certa e um vilão bastante ameaçador. E é possível estender os elogios à direção correta de Carpenter, à trilha desenvolvida pelo próprio e também ao elenco, tanto os principais como os que tiveram uma breve participação, seja o cardeal Alba (Maximilian Schell) ou a prostituta vivida por Sheryl Lee, em seus momentos de agonia após ser vampirizada e na sua transformação lenta e ameaçadora, sem se esquivar do carisma. Já James Woods parece pronto para o papel, em uma química adequada com Daniel Baldwin e o padre, interpretado por Tim Guinee.

O longa já começa de maneira intensa, com a equipe de caçadores, contratada pelo Vaticano, na invasão de um covil no Novo México. Ali já se nota o modus operandi de Jack Crow (Woods): ataque à luz do dia, com o grupo entrando silenciosamente no local, geralmente uma casa abandonada, com armas de fogo e uma besta, com as flechas presas a um veículo. Assim que o ataque acontece, o carro, comandado por Anthony Montoya (Baldwin), arrasta a criatura para fora, fazendo-a entrar em combustão no contato com os raios solares, com um padre – o primeiro a atuar na função é o Giovanni (Gregory Sierra) – fazendo a extrema unção do que resta. Os crânios são coletados para contagem, com a confirmação necessária para que o eclesiástico avise a Igreja e o pagamento seja realizado.

O que chama a atenção nesses primeiros vinte minutos é a força dos vampiros. Cruzes e alhos não servem para afugentá-los, necessitando de uma estaca no coração, a degola e principalmente os raios solares. E eles ainda são caracterizados como criaturas animalescas, com longos caninos e a pele alva de cadáver, numa concepção que sempre funciona no estilo. Depois de contabilizar nove criaturas, Jack lamenta por não encontrar no local um Mestre, algo bastante comum nos ninhos, e parte com a equipe para um momento de comemoração com os caçadores e prostitutas, sem imaginar que o líder daquele grupo, Valek (Griffith), acaba de despertar da terra para uma vingança.

Numa sequência bastante sangrenta, o vampiro morde a coxa de Katrina (Lee) e extermina quase o grupo todo de caçadores, como Catlin (Mark Boone Junior, que também esteve no vampírico 30 Dias de Noite, 2007) e Bambi (David Rowden, que foi um vampiro no longa Buffy, a Caça-Vampiros, 1992). Corpos destroçados, pescoços dilacerados e mutilação marcam a sequência mais violenta do filme, sem poupar o infernauta dos órgãos expostos e do banho de sangue. Jack e Montoya conseguem escapar do massacre, levando também Katrina, para que sua conexão com o vampiro que a mordeu permita uma futura localização. Contudo, a preocupação de Valek está em encontrar a Cruz Negra, um artefato que, com um ritual de exorcismo invertido, permite que as criaturas da noite andem à luz do dia.

É claro que aqui já cabe um questionamento. De acordo com o eclesiástico Adam Guiteau (Guinee), novo membro do grupo de caçadores, Valek tem 600 anos e teria sido um padre que acabou abandonando a fé, tornando-se um dos vampiros mais antigos do mundo. O que o filme não explica é por que ele demorou tanto tempo para ir atrás dessa cruz, e por que somente resolveu partir numa missão para encontrá-la depois que seu covil fora atacado. De qualquer modo, essa sua busca faz com que Jack Crow, que até então desconhecia da importância de tal artefato mesmo sendo um caçador experiente, use Katrina como um GPS para um novo confronto com Valek, consciente de que naquele momento ele já montou um novo bando.

E assim, com essa simplicidade envolvendo combate entre o grande caçador e o inimigo imortal, Vampiros de John Carpenter se mostra eficiente. As cenas em que Jack precisa da ajuda do padre para matar vampiros, e ele mesmo atrapalhado, faz seu papel com coragem são divertidas e permitem que o público se preocupe com o personagem. Até mesmo as “piadas de ereção” de Jack para o padre, assim como os momentos de agressividade, se encaixam bem ao seu papel de herói desqualificado. Mesmo não sendo correto em suas atitudes – e nem ágil e guerreiro para enfrentar as criaturas da noite -, é incrível como Woods caracteriza Jack de maneira carismática ao ponto de deixar o espectador sedento por outras aventuras do caçador.

Seu passado é pouco explorado, mas sabe-se que ele teve que matar o próprio pai vampirizado. Carpenter não desperdiça rolos de filmagem com flashbacks que só arrastariam a produção e enfraqueceriam a narrativa. Basicamente, com o apoio do roteiro de Don Jakoby, ele traz relatos em poucos diálogos, seja para narrar acontecimentos do passado de Valek ou da própria Cruz e dos caçadores. Mesmo a atração de Montoya por Katrina é apresentada sem romantismo exagerado, sem cenas de beijos e olhares apaixonados, mas é perceptível o interesse gradual pela vampirizada: parte de uma rejeição à necessidade de trazê-la pela conexão a Valek, de um tapa para acalmá-la culminando no soco deferido em Jack.

Vampiros de John Carpenter representa de maneira satisfatória tudo o que o fã de produções de vampiros espera. Sangue em profusão e criaturas vorazes, personagens interessantes e um enredo divertido, numa condição que boa parte das produções vampíricas deveria abrigar. Com o sucesso conquistado, foram feitas duas continuações absolutamente descartáveis e que devem ser dissociadas do trabalho de John Carpenter: Vampiros, Os Mortos (Vampires: Los Muertos, 2002), dirigido por Tommy Lee Wallace, e Vampiros: A Conversão (Vampires: The Turning, 2005), de Marty Weiss. Ambas lançadas diretamente em vídeo e que provavelmente devem se manter na obscuridade.

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5 Comentários

  1. Não gostei na época que vi e agora revi no Netflix pra ver se eu tava errado mas não.
    James Woods tem zero de carisma (fico imaginando que seria outro filme se chamassem Kurt Russell).
    Além da estória ser simplista e bobinha, o visual é meio brega (parece que tentaram ser cults como Um Drink no Inferno). Os vampiros aqui são meros detalhes (poderia ser qualquer outro tipo de monstro).

  2. colocaram no Netflix o clássico “Eles vivem”.Assisti ontem. Esses filmes antigos são muito bons. Esse do Carpenter eu não vi, eu creio. Os filmes de hoje em dia estão muito ruins, o problema é o roteiro. Mesmo os filmes ruins das antigas, os roteiros de tão ruins se tornavam bons, pois os roteiros se tornavam carismáticos, digamos assim.

  3. Último grande filme do mestre Carpenter e que tive o privilégio de ver no cinema.Depois dele foram feitos o trashão Fantasmas de Marte,que particularmente acho fraco porém assistível mas que claramente possui as “digitais” de Carpenter e o terrível (no mau sentido) “Aterrorizada”(2011), filme esse onde não se consegue identificar sua influência.Considero esse “Vampiros” já um clássico.

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