Céu Vermelho-Sangue
Original:Blood Red Sky
Ano:2021•País:Alemanha, UK Direção:Peter Thorwarth Roteiro:Peter Thorwarth, Stefan Holtz Produção:Christian Becker, Kristina Hejduková, Benjamin Munz, Mark Nolting, Oliver Nommsen, Edita Sramotova, Junior Elenco:Peri Baumeister, Carl Anton Koch, Alexander Scheer, Kais Setti, Gordon Brown, Dominic Purcell, Graham McTavish, Kai Ivo Baulitz, Roland Møller, Chidi Ajufo |
Falado em inglês, o longa-metragem alemão Céu Vermelho-Sangue (dirigido por Peter Thorwarth) é a nova – e bem-vinda – incursão da Netflix no gênero fantástico. O enredo instigante mistura ação e horror em um cenário que por si só já é angustiante: o claustrofóbico interior de um avião de passageiros a 9000 metros de altitude.
Peter Thorwarth (um dos autores do reconhecido A Onda, 2009) e Stefan Holtz assinam a história de Nadja (interpretada por Peri Baueister), uma mãe com uma doença misteriosa que viaja com o filho de Berlim a Nova Iorque em busca de um tratamento médico que pode curá-la. A tranquilidade do voo transatlântico é interrompida quando terroristas tomam o controle da aeronave.
Para defender o filho, Elias (Carl Anton Koch), Nadja se vê obrigada a revelar a origem de seu sofrimento: ela está contaminada com uma enfermidade que a transforma em uma terrível criatura vampira, se não tomar injeções de tempos em tempos. Deixar de aplicar o soro e utilizar a força sobrenatural e desenfreada contra os sequestradores parecem ser a única opção para a protagonista.
Contudo, se não bastasse esta conjuntura desesperadora, é preciso que Nadja mantenha o controle sobre o seu lado bestial e não se torne uma ameaça ao próprio filho. Este conflito entre o sentimento de preservação maternal e a sede por sangue e violência acrescenta uma camada dramática interessante a Céu Vermelho-Sangue.
O desenvolver de todo o enredo convence sem muita dificuldade. Um dos pontos positivos é a própria narrativa que vai de maneira contínua incrementando a ação. Contudo, é impossível ignorar que os flashbacks que explicam o passado de Nadja – e quebram esta continuidade – impedem que haja uma regularidade no ritmo do filme. Descompassado, Blood Red Sky (aliás, seja em português ou inglês, um título bem “poético” e cativante) oscila entre os extremos, mergulhando do frenético ao enfadonho. Os 120 minutos não chegam a incomodar, afinal a produção é recheada de sequências tensas e movimentadas. Mas permanece ao final uma sensação de exagero quanto a sua duração.
Difícil também não notar como os coadjuvantes são pouco aproveitados e não saem do lugar-comum – temos, por exemplo, um casal de velhinhos fofos, um milionário inescrupuloso que acha que seu dinheiro tudo pode comprar e uma bela e sedutora aeromoça. A exceção é o personagem Farid (interpretado por Kais Setti), que subverte o estereótipo muçulmano, tomando um papel muito importante na trama. Talvez aqui uma crítica suave à generalização dos personagens de origem árabe, normalmente retratados como terroristas islâmicos nas produções americanas.
Outra opção do roteiro que pode não agradar a todos é o rumo tomado próximo ao desfecho, quando os passageiros começam a ser contaminados (entenda-se, mordidos). O desenrolar da ação a partir de então se distancia do tema vampiro e se aproxima da dinâmica acelerada dos filmes de zumbis recentes como Invasão Zumbi (2016) ou Guerra Mundial Z (2013).
Vale pontuar ainda que o conceito de avião infestado por vampiros lembra o livro Nocturno, de Guillermo Del Toro e Chuck Logan, que foi adaptado em 2014 para a televisão na série The Strain, da Fox. Inclusive, o voo do livro/série também parte de Berlim em direção a Nova Iorque. Coincidência? Será?
Entretanto, considerando o orçamento mediano, a qualidade da produção é inquestionável, em especial no que se refere à fotografia e aos efeitos, que inserem sequências digitais quase imperceptíveis (sobretudo nas tomadas externas da aeronave) sem causar nenhum estranhamento ao espectador – o que é muito louvável. A maquiagem das criaturas é outro destaque positivo. O visual de Nadja remete ao conceito do vampiro de Nosferatu (a falta de cabelo, o rosto esquálido e as orelhas pontudas) de 1922, enquanto os demais vampiros parecem inspirados nos designs dos personagens de 30 Dias de Noite (2007), principalmente pelos dentes disformes e a coloração alterada dos olhos.
No que diz respeito ao elenco e ao desempenho da protagonista Peri Baueister, se sobressai a performance da atriz como a criatura, com uma movimentação corporal e expressão facial perturbadoras. O iniciante Carl Anton Koch também manda muito bem como a criança extremamente inteligente e responsável. Soma-se ao elenco, como líder dos descontrolados terroristas, Dominic Purcell (conhecido pelas séries Prision Break e Legends of Tomorrow).
O longa estreou em julho de 2021, um mês muito prolífico para o gênero horror na plataforma de streaming Netflix, que também lançou em um curto período outras produções originais, como os três filmes da série Rua do Medo e o filme-homenagem-ao-gênero Um Clássico Filme de Terror.
Enfim, o resumo da ópera: mesmo não sendo lá uma obra-prima (longe disso), Céu Vermelho-Sangue é um acerto da Netflix (a boa aceitação do público comprova isso, o filme figura entre os mais vistos na semana de publicação desta crítica). A produção caprichada, o roteiro que mistura bem cenas de ação e horror (com uma dose limitada de drama) e o ritmo acelerado, garantem a diversão, apenas prejudicada pela extensão um pouco exagerada que coloca em dúvida a fórmula proposta por seus idealizadores.
Muito legal seu texto. Gostaria de chamar atenção para a maquiagem de Mark Coulier, que já levou duas estatuetas e resolveu sair do lugar comum. O cara é fera e ficou excelente o seu trabalho.
Concordo