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A Mansão
Original:The Manor
Ano:2021•País:EUA
Direção:Axelle Carolyn
Roteiro:Axelle Carolyn
Produção:Terra Abroms, Jason Blum, Richard J Bosner, Lisa Bruce, Kyle Chalmers, Chris Dickie, Jeremy Gold, Sandy King, Pamela Monroe, Marci Wiseman
Elenco:Barbara Hershey, Bruce Davison,Nicholas Alexander, Jill Larson, Fran Bennett

A ex-bailarina Judit Alright sofre um pequeno derrame enquanto comemorava o aniversário de 70 anos. Com receio de causar transtornos à família, ela aceita se mudar para uma casa de repouso localizada em uma antiga mansão histórica, chamada Golden Sun Manor. Os problemas iniciais de adaptação causados pelo convívio com outros idosos, cuja saúde está mais debilitada, e a aceitação das próprias limitações impostas pela idade são deixados de lado no momento em que Judit começa a presenciar eventos que indicam que alguma força oculta pode estar matando os moradores do local. O pesadelo ainda aumenta quando a maioria das pessoas insiste em duvidar de sua sanidade e a afirmar que suas suspeitas não passam de fantasia. Ao seu lado, apenas o neto Josh, a quem Judith pede ajuda para enfrentar a presença sobrenatural que está assombrando o lugar.

A Mansão (The Manor, 2021) é mais um resultado da parceria da Blumhouse – produtora dedicada ao gênero horror fundada por Jason Blum, responsável pelo indicado ao Oscar Corra! (2017) e O Homem Invisível (2020), entre outros sucessos – e a plataforma de streaming Amazon Prime. Do projeto, apelidado de Bem-vindo à Blumhouse, quatro filmes foram lançados em outubro de 2020: Mentira Incondicional, Caixa Preta, Mau-olhado e Noturno; enquanto A Mansão, Madres, Bingo Mortal e Negra Como a Noite estrearam no mês das bruxas de 2021.

Sem dúvida, A Mansão se destaca como o produto mais razoável deste pacote de 2021. O longa, que funciona satisfatoriamente em sua curta duração (apenas 81 minutos), foi escrito e dirigido por Axelle Carolyn, que traz no curriculum alguns episódios das séries American Horror Story (2011) e Creepshow (2019). Seu trabalho na direção é formal e não traz inovações, concentrando-se especialmente nos diálogos e no desempenho dos atores. O roteiro também é simples, porém parcialmente eficiente em apresentar o drama do envelhecimento e desenvolver em paralelo um enredo sobrenatural que aposta na construção gradual de um mistério a ser desvendado, pelo protagonista e pelo espectador.

Contudo, o grande trunfo de A Mansão é a performance cativante da vencedora do Emmy e do Globo de Ouro Barbara Hershey (de Sobrenatural, 2011), que convence interpretando a idosa em transição que até então era independente e segura em relação à perda da juventude, mas que é repentinamente colocada em uma situação que não mais controla.

Curiosamente, Barbara Hershey interpretou no cinema outra bailarina, a mãe da protagonista Nina no aclamado O Cisne Negro (2010), de Darren Aronofsky. Enquanto no indicado ao Oscar ela viveu uma bailarina com perturbações psicológicas que desistiu da carreira após engravidar e projeta suas ambições na filha, em A Mansão a atriz encara uma personagem que tem boas lembranças da vida dedicada ao balé, apesar de não poder dançar devido à idade.

É importante ressaltar também que, apesar de toda a despretensão, o longa propõe, direta ou indiretamente, a discussão sobre um assunto extremamente relevante, que é o envelhecimento e como os idosos são tratados. E ainda que a produção seja essencialmente de horror, o roteiro aborda com respeito e delicadeza assuntos como alzheimer e demência senil – dando “voz” a uma protagonista, interpretada por uma atriz cuja idade é 73 anos, ocupando seu verdadeiro lugar de fala.

Outro ponto interessante é a bonita relação entre a avó e o neto (Nicholas Alexander), que potencializa o enredo ao apresentar uma subtrama que é uma história de amor sincera e verdadeira. Completam o elenco os veteranos Bruce Davison (X-Men, 2000), Jill Larson (A Possessão de Deborah Logan, 2014) e Fran Bennett (Jessabelle: O Passado Nunca Morre, 2014), compondo o estranho e suspeito grupo de novos amigos de Judith.

Possivelmente o ponto mais negativo seja o conjunto de efeitos técnicos e visuais, que são básicos e simplórios. A fotografia não aproveita as oportunidades que o cenário oferece – ou seja, os arredores e a estrutura da antiga mansão, que dá nome ao filme, são pouco ou mal utilizados. O design da criatura também é questionável, pois remete diretamente ao personagem Groot, de Guardiões da Galáxia (2014) – o que obviamente impede que sejam criados momentos mais intensos de suspense e horror.

É preciso pontuar que o plot twist é até interessante, embora não seja exatamente original. Talvez a surpresa fique na decisão inesperada e controversa tomada pela protagonista e seu neto, que faz sentido, porém não parece muito razoável considerando o comportamento dos personagens até então. Alguns vão achar uma opção ousada do roteiro, outros uma atitude inverossímil dos personagens.   

Em resumo, acertando as expectativas: A Mansão não é uma produção assustadora no sentido clássico e está mais para um terror do subgênero psicológico. O filme apresenta uma premissa simples e traz reflexões importantes, além de alguns momentos de tensão e mistério. Inesperadamente, ao final, o horror que reverbera mais apavorante é justamente o da camada mais dramática: é o temor do inevitável envelhecimento, a qual todos estamos ou estaremos expostos, cedo ou tarde.

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