Terror sobre Rodas
Original:Road Train / Road Kill
Ano:2010•País:Austrália Direção:Dean Francis Roteiro:Clive Hopkins Produção:Michael Robertson Elenco:Bob Morley, Sophie Lowe, Georgina Haig, Xavier Samuel., David Argue, Dean Francis, Dominic McDonald |
Uma breve vasculhada na filmografia do (acredito) desconhecido diretor australiano Dean Francis já nos entrega duas informações que podem ser (ou não) importantes para compreensão de algumas coisas sobre esse Terror sobre Rodas. A primeira é que ele é um diretor com poucos filmes no currículo (eu só dei conta de quatro, dos quais apenas dois são de longa metragem). A segunda é que três destes quatro filmes têm temática LGBT.
Ok, mas e daí?! E daí, nada. Mas essas duas informações clarearam algumas coisas sobre esse Terror sobre Rodas, proposta que parece ser a mais diferente dentre os poucos trabalhos do diretor. Trata-se de um thriller de terror sobrenatural com muito subtexto, o que permite uma certa multiplicidade de olhares, que eu vou tentar explorar, mas não sem dar alguns spoilers.
Road Train, seu título original, ou ainda, Road Kill, como também é conhecido, é uma produção australiana de 2010, e parte de uma aventura na estrada entre quatro jovens. Eles formam dois casais (heterossexuais), cuja viagem é curtir acampamento nos desertos australianos. Atravessando as estradas desérticas num Jeep, os aventureiros passam a ser perseguidos pelo que eles chamam de “road train”, um “trem da estrada”, ou ainda, um grande caminhão de carga que transporta contêineres (e por isso tem uma grande extensão). Até aí tudo bem. Vamos ao filme com interesse por parecer se tratar de um típico road movie com altas doses de suspense, mas esse momento de conforto parece durar só até aqui.
*Alerta de spoilers leves*
E é aqui que a coisa se enrola um pouco. Ou não, depende do ponto de vista. Após uma violenta perseguição, que acaba de forma surpreendente (e que remete às boas cenas de suspense de Encurralado), os quatro personagens percebem o tal caminhão largado na estrada, sem motorista. Após uma rápida checagem (outra cena legal), a chegada de um atirador, cuja origem não sabemos (mas que passamos a inferir depois), reacende os ânimos e provoca a fuga dos jovens, que usam o caminhão para escapar, e aqui a verdadeira viagem começa.
Paralelo a isso, as relações entre os quatro personagens se desvelam aos nossos olhos: trata-se de três amigos, dos quais dois, Marcus (Xavier Samuel) e Liz (Georgina Haig), formam um casal, e um, Craig (Bob Morley) está acompanhado da nova namorada, Nina (Sophie Lowe), formando assim dois casais. Com exceção de Nina, novata na turma, os três restantes têm histórico de viagens e de pegação entre si (não sem ressentimentos). Os dois rapazes também mantêm uma amizade bastante próxima e sólida, baseada em brincadeiras que envolvem bater um no outro, se agarrar e rolar no chão (tudo na camaradagem, é claro).
É preciso reconhecer que Terror sobre Rodas nos reserva várias surpresas. Não há nada na primeira meia hora de filme que indique qualquer coisa que venha a acontecer ou sobre o que se trata essa viagem toda. A primeira parte, inclusive, é realmente muito boa, eletrizante até, e é por ela que conseguimos nos manter atentos até o fim.
Em seu segundo ato, no entanto, a trama dá uma outra guinada, que afasta Terror sobre Rodas o suficiente de comparações com alguns clássicos desse subgênero, como Encurralado (1971), O Carro – A Máquina do Diabo (1977), e até do ótimo Olhos Famintos (2001). Talvez Christine (1983) seja uma referência melhor, mas ainda passa longe.
*Alerta de spoiler pesado*
O desenvolvimento, quando o perigo mostra sua natureza e sua relação com os personagens, por sua vez, nos enche de interrogações. De um suspense que surpreende, caímos direto num bolsão gore sobrenatural envolvendo um caminhão possuído que usa carne humana como combustível?! Ok, podemos lidar com isso. O filme seria apenas mediano com um bom começo se parasse por aqui, mas ainda temos um terceiro ato muito satisfatório para fechar a trama.
Do começo ao fim dessa aventura, somos surpreendidos várias vezes pela quebra de várias expectativas, mas o mais interessante, como sempre é nos bons roteiros, são os personagens.
Costumeiramente, nos filmes (e na arte, em geral), os “monstros” que nos assombram são reflexos de algum “mal” que não lidamos (olha o Babadook). Quando essas correlações são feitas de forma inteligente (na arte, é a expressão do artista), tem-se algo delicioso de saborear.
Em Terror sobre Rodas, vemos o roteiro alinhar de forma genial os problemas vivenciados pelos personagens com a fantasia do road train assassino. O sexo é a força motriz das relações entre os quatro personagens principais, e o papel do homem dentro das relações de gênero é revisto sob a luz de uma fantasia sobrenatural e monstruosa.
Dessa forma, as subtramas que envolvem os personagens não merecem ser desprezadas, pois elas ditam boa parte da dinâmica que se estabelece entre eles a partir do segundo ato, e são definitivas na orientação de suas motivações até o fim do filme – e esse é um bom acerto do roteiro, ele é bem amarrado.
As comparações com os clássicos road movies da década de 1970 são inevitáveis, sendo estes a maior inspiração aqui. A fotografia e toda a direção de arte reforçam a sensação de calor, fome, sede e desamparo. As paisagens desérticas tal hora também provocam uma certa aflição, nem tanto pelo “caminhão possuído”, mas pelos perigos que a noite no deserto traz consigo.
É meio difícil falar sobre esse filme (sobre qualquer filme) sem dar o mínimo de spoilers – e eu precisei falar demais sobre esse. Aqui podemos ver muitas coisas, como uma homenagem a uma porção de filmes clássicos de psicopatas na autoestrada, ou então uma fórmula sendo repetida e inovada, ou mesmo uma fantasia crítica ao machismo e ao poder do sexo, ou ainda, tudo isso junto ao mesmo tempo. Mas o ponto positivo verdadeiro é que Terror sobre Rodas é um thriller com muita ação e que nos deixa ligados em todas as cenas sem nem suspeitar do que vem na sequência.
Eu assisti ele tem uns 10 anos ou mais. Eu lembro de ter gostado. Reassisti semana passada, ai que foi o meu erro rs…Ainda gosto dele mas hoje vejo o tanto de defeito que ele tem rs
filme podre. muito ruim. n merece nem uma estrela