O Mistério das Garotas Perdidas (2019)

4.4
(14)

O Mistério das Garotas Perdidas
Original:Svaha: The Sixth Finger
Ano:2019•País:Coreia do Sul
Direção:Jae-hyun Jang
Roteiro:Jae-hyun Jang, Kang Full
Produção:Lee Joon-kyu, Myeong-chan Park, Seung-wan Ryu
Elenco:Lee Jung-jae, Yoo Ji-Tae, Yoon Kyung-ho

Perdido no catálogo de produtos da Netflix, o Mistério das Garotas Perdidas é um dos melhores acertos em terror sobrenatural desses últimos tempos. A trama gira em torno de um pastor/investigador de seitas religiosas oportunistas (e criminosas) e de sua nova obsessão: uma nova seita, dissidente do budismo tibetano, e que pode estar por trás de uma série de assassinatos e desaparecimentos de garotas. Paralelo a isso, temos a história de uma adolescente e sua irmã gêmea monstruosa, que parecem ser os principais alvos do assassino no momento.

Jae-hyun Jang é um realizador relativamente novo, e esse Mistério das Garotas Perdidas é apenas seu terceiro longa. O tema que escolheu para trabalhar nesse mistério é denso, atual e controverso: o protagonista Pastor Park (interpretado por Lee Jung-jae, da série Round 6) é um missionário absolutamente cooptado pela fé cristã, que usa de sua autoridade e fama como presidente de um instituto de pesquisas sobre religião para investigar ordens religiosas suspeitas e denunciá-las, conforme o caso.

Não é preciso dizer que o peso do cristianismo impacta diretamente a visão do pastor, levando-o a não ser tão bem acolhido pelos seus conterrâneos sul-coreanos, que veem em sua atitude mais interesse em descredibilizar as religiões tradicionais que investigar crimes de fato. Ele, no entanto, tropeça num caso muito maior e mais intrincado do que os que investiga costumeiramente.

Apesar de suas duas horas de duração, o filme tem um ritmo cadenciado e bem determinado pela trama investigativa, que é ágil e interessante de acompanhar: passamos por escrituras sagradas, textos simbólicos, personagens lendários, em um mistério que nos puxa como um vórtice ao seu núcleo, no melhor estilo Ringu/O Chamado. Os elementos de horror fantástico funcionam aqui como símbolos, muito mais em favor do argumento que como um elemento “real” da narrativa, e esse foi um dos poucos pontos baixos do filme.

A fotografia também é típica dos filmes coreanos, com muitos elementos urbanos, e outros que se destacam por reforçar a resistência do misticismo oriental dentro da paisagem urbana moderna. O uso das cores e luz também funciona em favor do mistério em muitas cenas.

O Mistério das Garotas Perdidas é um filme ousado e que surpreende (para o padrão Netflix), mesmo com algumas poucas observações que não comprometem o resultado final. As discussões sobre as bases das religiões e doutrinas filosóficas/espirituais, que preenchem os espaços vazios no roteiro, também nos evocam reflexões sobre os fundamentos de nossas crenças, e nos lembram que o mal, seja como ente sobrenatural ou mero condicionamento psicológico orientado pelo meio físico, também pode se esconder até mesmo no seio daquela que é vista como a mais nobre das muitas Verdades espalhadas por aí.

 

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Pedro Emmanuel

Cearense, jornalista, quase geógrafo (ainda cursando), meio praieiro e ligeiramente antissocial. Minha viagem é aprender o máximo possível sobre a vida e sobre a morte, e assim ir assimilando alguns mistérios da existência. Vivo como se fosse um detetive, mas minha mente vagueia muito. Sou fã de Star Trek, Jefferson Airplane, e do Massacre da Serra Elétrica original.

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