Fantasma: Devastador (2016)

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Fantasma: Devastador
Original:Phantasm: Ravager
Ano:2016•País:EUA
Direção:David Hartman
Roteiro:David Hartman, Don Coscarelli
Produção:Don Coscarelli
Elenco:A. Michael Baldwin, Reggie Bannister, Dawn Cody, Gloria Lynne Henry, Kathy Lester, Bill Thornbury, Daniel Roebuck, Daniel Schweiger, Cean Okada, Kenneth V. Jones, Cesare Gagliardoni, Angus Scrimm

A realização de um último filme para a franquia Fantasma foi bastante complicada e envolveu uma novela nos bastidores que se estendeu por quase duas décadas. O conceito desenvolvido por Roger Avary e que motivou o roteiro de Fantasma 4 ficou apenas na gaveta, e Don Coscarelli, envolvido em outras produções, simplesmente dizia que algo ainda seria feito. Em 2004, em entrevista ao site Fangoria, o cineasta disse que estaria disposto a retornar ao projeto, tendo em vista a boa forma e disposição de Reggie Bannister e Angus Scrimm. Voltaria a comentar a respeito em março de 2005, em um acordo inicial com a New Line Cinema, que envolveria até uma nova trilogia, a partir de um reboot.

Contudo, as falas em entrevistas não permitiam o retorno das esferas voadoras. Em junho de 2007, Bannister comentou que nada havia sido feito até então, isto é, não havia roteiro, nem contrato, nem luz verde para um Phantasm’s End. Mas os rumores continuavam a percorrer os sites de notícias de cinema. Em junho de 2012, novos boatos surgiram. O site Dread Central anunciou que um roteiro estaria pronto, e as filmagens aconteceriam ainda naquele mesmo ano. Apesar de Coscarelli desconversar a respeito, aquele que seria diretor e roteirista do quinto filme, David Hartman, confessou ao Entertainment Weekly que uma continuação havia sido filmada secretamente no sul da Califórnia. Logo os informes passariam a ser mais concretos, quando, em março de 2014, vários sites anunciaram a conclusão das filmagens e da pós-produção, disponibilizando, inclusive, um teaser trailer.

Hartman acreditava que o longa seria lançado em 2015, aguardando apenas alguma distribuidora interessada. Seu lançamento somente aconteceria em setembro de 2016, cerca de oito meses após o falecimento de Angus Scrimm, que notadamente não viu o filme. As críticas foram, em sua maioria, positivas, entendendo que se tratava de uma produção com baixos recursos, mas uma homenagem à franquia. Críticas aos efeitos especiais ruins e à direção problemática de David Hartman foram camufladas pelo esforço de sua realização, ainda mais sabendo das idades avançadas de seus atores principais, principalmente de Scrimm. Mesmo que tais esforços devam ser enaltecidos, a verdade é uma só: Fantasma: Devastador não é simplesmente o pior filme da série como uma produção ruim em todos os sentidos.

A trama dispõe mais uma vez o protagonismo de Reggie. Ele surge no deserto, com as roupas de sorveteiro vistas no final do quarto filme, sem muitas lembranças de sua jornada. Ele pede carona a um motorista, apenas para revelar que aquele carro é seu tradicional Cuda, e que o estranho resolveu tomá-lo para si ao vê-lo abandonado no deserto. Como não há uma noção muito clara de tempo, não se imagina que seja uma coincidência. Provavelmente a passagem de Reggie pelo portal tenha representado alguns minutos no presente, se é que podemos entender que estamos nos tempos atuais. Duas esferas surgem no deserto, matam o ladrão de carros, naquela típica morte ocasionada pelos objetos voadores, com uma torneira de sangue, e perseguem Reggie pela estrada.

Quando o começo parece empolgar, Reggie acorda em uma cadeira de rodas em um sanatório. Ao ser visitado por Mike (A. Michael Baldwin), este lhe revela que sua internação acontecera faz muitos anos com diagnóstico de demência, dando a ideia de que todas as aventuras contra o vilão sobrenatural possam ser oriundas de sua doença. Interessante, mas logo depois as ações retornam ao deserto, onde Reggie segue em sua trajetória solitária, tentando mais uma vez conseguir uma transa com uma moça, Dawn (Dawn Cody), que surgira pedindo ajuda. Sempre moças bonitas. Sempre a rejeição. Quase sempre a morte delas – à exceção de Rocky (Gloria Lynne Henry). Em mais um momento onírico, desta vez Reggie está novamente em 1860 com o Homem Alto, portando como um moribundo Jebediah Morningside, desta vez em parceria com a volta da Garota em Lavanda (Kathy Lester), como denominado nos créditos, no retorno da primeira mulher a aparecer na franquia.

Aliás, é ela que posteriormente irá protagonizar a melhor cena do quinto filme, em um mausoléu, voando em direção a Reggie como um demônio de The Evil Dead. Até e depois de tal cena, o que mais se vê são os devaneios de um Reggie louco, alternando momentos em que ele está no deserto, no passado, no hospital e em um futuro apocalíptico, onde o Homem Alto efetivou a conquista da dimensão, com esferas gigantescas destruindo prédios em uma fotografia avermelhada que destaca prédios em ruínas, carros tombados, chamas e sentinelas da entidade. Dawn irá novamente aparecer, desta vez como uma combatente conhecida como Jane, tendo o apoio de um grupo de rebeldes, em que se destaca Chunk (Stephen Jutras).

Mesmo com os esforços dos guerrilheiros, fica evidente a soberania do Homem Alto. Com vários representantes, em diversas dimensões, ele sempre retorna independente do que os personagens façam. Dentro de sua realidade alternativa, ele venceu, e os realizadores, principalmente Coscarelli, que já havia assumido entre o terceiro e quarto filme não saber para onde ir, tiveram que se render à criação. É uma entidade absoluta, e que conquistou seu objetivo como apoio de Reggie e Mike, funcionando como peças de seu quebra-cabeça maldito. Assim, o quinto filme funciona apenas como uma exposição dos peões e a compreensão de seus domínios – pelo menos, é como prefiro acreditar.

Ainda assim, tendo em vista suas falhas técnicas, como a direção confusão de Hartman, efeitos especiais horrorosos, e um roteiro de idas e vindas que incomoda mais do que homenageia, Fantasma se encerra de maneira melancólica. Pelo esforço de realização do filme e reunião de personagens que marcaram a franquia, como Rocky, que aparece nos créditos, podia se esperar algo melhor, mais pé no chão e coerente. Angus Scrimm encerra sua participação como representação de um monstro indestrutível e assustador, mas que merecia uma despedida melhor. Ao final, várias perguntas não tiveram respostas adequadas, como a da própria importância de Mike e Reggie. Por que o vilão tentava de todas as maneiras eliminá-los e, tendo a capacidade de fazer isso, optava pela preservação da dupla? Para que ele realmente precisava do rapaz, se mesmo sem ele, conseguiu seus objetivos?

Fantasma: Devastador realmente faz jus ao título, devastando as expectativas de um retorno do vilão e os demais personagens. Na verdade, somente os dois primeiros filmes, o clássico de 79 e a parte 2, lançada em 1988, honraram a criação de Coscarelli. A partir do terceiro, as coisas se perderam em roteiros que não sabiam para onde ir, como esferas perdidas em um mausoléu aterrorizante. Vamos torcer para que nunca façam uma refilmagem ou tentem um sexto filme para que o Homem Alto possa finalmente descansar como os mortos que tanto atormentara.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Fantasma: Devastador (2016)

  • 25/07/2023 em 20:05
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    Um final muito broxante pra franquia. O filme termina sem um desfecho e não finaliza a franquia como foi prometido e agora com o falecimento de Angus Scrimm dificilmente teremos outro filme infelizmente.

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  • 06/06/2022 em 19:48
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    Infelizmente, o único que não me agradou.
    O mais fraco da franquia, que merecia um encerramento melhor.

    Resposta

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