The Borderlands (2013)

5
(11)

The Borderlands
Original:The Borderlands
Ano:2013•País:UK
Direção:Elliot Goldner
Roteiro:Elliot Goldner
Produção:Jennifer Handorf
Elenco:Gordon Kennedy, Marcus Cunningham, Peter Charlton, Kevin Johnson, Luke Neal

Os limites entre a criatividade e o oportunismo definem o resultado de um bom “found footage“. É claro que basicamente todas as produções que seguiram a fórmula da câmera subjetiva, a partir de Rec e Atividade Paranormal – não vale menção ao longa A Bruxa de Blair pelo distanciamento em relação à demanda -, foram, de certa forma, oportunistas, mas são poucas as que se destacam pelo convencimento da necessidade das filmagens constantes e/ou pela narrativa aterrorizante. The Borderlands figura entre os destaques, sendo muitas vezes referenciado pelos fãs do estilo, embora seja um filme que não esconde muito bem suas limitações e furos de roteiro.

O longa tem a direção e o roteiro de Elliot Goldner, que, curiosamente, só iria assumir após os elogios dados a The Borderlands (aka Final Prayer) o comando de episódios de séries e mockumentaries. Poderia ter apostado mais no subgênero, explorado esse terror imaginativo em novas abordagens, uma vez que chama a atenção por entender como lidar com a aparelhagem, saber esconder suas assombrações, explorar sons fantasmagóricos e como comanda seu elenco. Fez de The Borderlands uma aposta certeira para quem quer se aventurar no universo dos found footages e não sabe por onde começar.

O longa justifica o uso constante da câmera em sua proposta: três homens contratados pelo Vaticano para investigar milagres viajam a Devon, em um vilarejo rural, onde teriam acontecido estranhos fenômenos numa antiga igreja construída na Idade Média. Deacon (Gordon Kennedy) é o cético e agressivo do grupo, a partir de sua imposição física; Gray Parker (Robin Hill) é o especialista em tecnologia, metido a brincalhão; mais tarde, será apresentado o padre Mark (Aidan McArdle), supervisionando o processo no contato com a Igreja Católica. Sem ofender o público com um letreiro explicativo, eles colocam câmeras sua moradia alugada – uma exigência da Igreja para evitar construção de fraudes – e iniciam a investigação local, revendo o vídeo de um batismo que viralizou pelas ocorrências estranhas de movimento de objetos no altar e ruídos misteriosos.

Na igreja, conhecem o padre Crellick (Luke Neal), crente que um milagre realmente aconteceu. Pedem autorização para investigar, montam equipamentos de filmagem e buscam possíveis fios escondidos nas paredes e assentos. A sequência inicial, ambientada em Belém, no Pará, com brasileiros em cena, já mostra o modus operandi do trio através da descoberta de traquinagens que serviram para forjar um fenômeno local. Contudo, apesar da investigação minuciosa na igreja, atentos aos pormenores, incrivelmente os rapazes não fizeram o básico – lê-se “furo no roteiro” -, que seria tirar os livros de uma estante para ver o que há atrás, mesmo quando captam sons oriundos detrás dali. E são exatamente os sons que trazem os desconfortos iniciais aos personagens, como a imitação de choro de bebê (alguém disse A Bruxa de Blair?), entre outros.

Não serão os únicos estranhamentos. Um animal incendiado na porta da casa em que estão, a aparição de um cachorro, movimentação de objetos, a lápide com a inscrição do túmulo de um deles e um suicídio passarão a atormentá-los à medida que as informações encontradas começarão a sugerir que não se trata mesmo de um milagre. A busca a fundo – inexplicavelmente ela acontece na madrugada – e as pesquisas feitas, incluindo a chegada do padre exorcista Calvino (Patrick Godfrey), conduzirão todos a uma literal descida ao Inferno. Informações sobre a igreja ter sido construída em cima de um templo pagão onde ocorriam sacrifícios são a base de um pesadelo aterrorizante e bem pessimista.

Sem exposições exageradas de monstros ou demônios, The Borderlands se favorece da ambientação e do contexto. Fotografia acinzentada na construção de uma atmosfera de incertezas auxilia a narrativa de poucos personagens. Traz ao espectador a curiosidade pela investigação ao mesmo tempo em que incomoda a cada aproximação da verdade. Esqueletos de bebês, túneis estreitos em um calabouço de almas, símbolos estranhos nas paredes, baixa iluminação… são elementos que contribuem para a proposta de construção de um túmulo imenso que os rapazes irão lentamente cavar para si. Assim, o longa se mostra perturbador como todo found footage deveria ser, com roupagem simples e criativa.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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