O Inominável – O Retorno (1992)

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O Inominável - O Retorno
Original:The Unnamable II: The Statement of Randolph Carter
Ano:1992•País:EUA
Direção:Jean-Paul Ouellette
Roteiro:Jean-Paul Ouellette
Produção:Jean-Paul Ouellette
Elenco:Mark Kinsey Stephenson, Charles Klausmeyer, Maria Ford, John Rhys-Davies, Julie Strain, Peter Breck, David Warner, Shawn T. Lim, Siobhan McCafferty, Richard Domeier, Brad Blaisdell

Quatro anos depois da realização de A Abominável Criatura, a partir do conto “O Inominável“, de H.P. Lovecraft, uma continuação foi realizada, respeitando boa parte do que fora mostrado no primeiro filme. A parte 2 traz no subtítulo original o nome de um outro conto do escritor, “The Statement of Randolph Carter“, lançado em 1919, e que contém em comum o personagem Carter. Lovecraft nunca assumiu que se tratasse da mesma pessoa, até porque o Carter de “O Inominável” é mais próximo de sua própria identidade, por ser cético e ter interesse por escritos. De todo modo, a ideia de Jean-Paul Ouellette é muito boa até mesmo ao recriar toda a sequência que se passa no interior de uma cova, com a comunicação via aparelho.

E o segundo filme ainda reserva alguns outros atrativos. O retorno de dois atores do original, Mark Kinsey Stephenson e Charles Klausmeyer, respectivamente Carter e Howard, além dos acréscimos de Maria Ford e da scream queen Julie Strain. Assim, a produção começa onde o anterior terminou, após Carter ler umas passagens do Necronomicon e árvores terem puxado a criatura para uma cova. Na última cena, Carter, Howard e Tanya são vistos caminhando para longe da casa, mas essa cena foi ignorada pela chegada da polícia ao local para recolher os corpos. Sem ter visto a criatura, Carter acompanha o amigo até o hospital, mas acredita em suas palavras, não tendo o apoio do chanceler da universidade Thayer (o recém-falecido David Warner, de A Profecia, em uma pontinha mais do que bem-vinda).

Carter pede ajuda para o Professor Warren (John Rhys-Davies, outro veterano), que aceita ir até o túmulo em busca de Alyda, enquanto Howard recebe uma visita do fantasma de Joshua Winthrop (Mike Gordon), que clama para que a criatura seja morta. Assombrado também por pesadelos, Howard também vai à tumba, ficando do lado de fora para manter uma comunicação com o professor e Carter – a tal da referência ao conto “The Statement of Randolph Carter“. Caminhando por túneis estreitos, ambos chegam a um local com dizeres em árabe e encontram a criatura (desta vez interpretada por Strain), presa por galhos. Ao invés de matá-la, Warren, que havia ido ao local para registrar em fotografia, tem a ideia de aplicar insulina para que o demônio sinta que tem algo errado em seu organismo e abandone o corpo (imagina se o Padre Karras soubesse que não precisava de rezas e água benta para salvar Linda Blair em O Exorcista?).

A ideia dá certo, e o demônio abandona o corpo, deixando no local apenas Alyda (Maria Ford). Eles resolvem levá-la dali, mesmo com a dificuldade de comunicação, e o professor, por razões que justificam a necessidade de ter vítimas, opta por continuar ali “ajeitando seu material“. A essência de Alyda, então, vai ao encalço de seu corpo, eliminando quem estiver pelo caminho, sejam colegas da faculdade dos rapazes e policiais, ao passo que Carter tentará impedir essa reunião, buscando as páginas perdidas do Necronomicon.

Sem a claustrofobia da casa, a continuação explora ambientes diversos e promove mais cenas de perseguição e sustos, além de mortes mais criativas e elaboradas. O demônio aparece mais em cena, desta vez com um visual mais agressivo por ter a ausência de seu lado humano, contando com a movimentação ágil de Strain na composição de uma ameaça bastante incômoda. De acordo com as trívias, a atriz deu um show de sensualidade nos sets de filmagem, aparecendo o tempo todo nua, até mesmo na audição, quando não havia a necessidade de tirar as roupas. Ela se sentia incomodada pela pesada maquiagem, mas soube contornar com bom humor todo o processo.

Ainda que o roteiro não seja um primor, até mesmo no conceito que diminui a força maldita do Necronomicon, O Inominável – O Retorno dá um trato melhor à produção, incluindo a trilha sonora, e permite efeitos curiosos que envolvem o voo do monstro, a partir de suas longas asas, e suas aparições repentinas. Jean-Paul Ouellette dá mais dinamismo ao seu filme de monstro, explorando os inevitáveis clichês e o material original. Foi seu último trabalho como diretor, para depois assumir alguns roteiros e produção. É uma pena porque ele soube comandar bem Alyda de uma forma que nem Joshua Winthrop foi capaz.

As duas musas que compõem Alyda

Um interessante atrativo para os fãs de horror são as duas atrizes que interpretam a criatura inominável. Depois que a aplicação da insulina expulsa o demônio que habitava Alyda, o enredo apresenta a sua versão humana, interpretada por Maria Ford, sendo perseguida pela criatura em sua essência, na pele de Julie Strain. São duas belas atrizes, figurinhas carimbadas em produções do gênero, vistas constantemente em fóruns de horror, e que hoje são carinhosamente reconhecidas como scream queens.

Quentin Tarantino certa vez disse que Maria Ford era sua musa favorita dos filmes B. Nascida em 1966, ela já trabalhou como dançarina em Las Vegas e se especializou em artes marciais. Devido ao atributos físicos, havia o interesse da indústria cinematográfica de explorar sua beleza, mas Ford soube lidar bem da sua carreira, despertando a atenção para participações não tão desinibidas e que valorizavam seu potencial como atriz, até mesmo em produções bem humoradas. Destacam-se no horror suas atuações em:

Maria Ford em O Inominável – O Retorno

Alien Exterminador (1995)
The Wasp Woman (1995)
Roedores da Noite (1995)
Necronomicon – O Livro Proibido dos Mortos (1993)
Slumber Party Massacre III (1990)
Morella: O Espírito Satânico (1990)
Máscara Mortal (1989)

Capa da revista Horror Show 3, em uma ótima matéria escrita por Coffin Souza, Julie Strain nasceu em 1962 e faleceu ano passado aos 58 anos, deixando como legado a inspiração pela beleza e a atuação em 136 produções, desde 1990, quando fez uma pontinha na comédia A Repossuída, um dos seus trabalhos mais mainstream. Com tantos trabalhos e aparições, quem é fã de bagaceira – mas muito bagaceira – pode ter se esbarrado com a atriz por aí. Confira algumas de suas pérolas:

Zombiegeddon (2003)
A Criação de um Monstro (2001)
Bloodthirsty (1999)
Guns of El Chupacabra (1997)
Tentação Mortal (1995)
A Ilha da Sedução (1994)
Psycho Cop 2: O Retorno Maldito (1993)
Almas Gêmeas (1992)
Witchcraft IV: The Virgin Heart (1992)

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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