Emmanuelle na América (1977)

3.3
(6)

Emmanuelle na América
Original:Emanuelle in America
Ano:1977•País:Itália
Direção:Joe D'Amato
Roteiro:Maria Pia Fusco, Ottavio Alessi, Piero Vivarelli
Produção:Edmondo Amati
Elenco:Laura Gemser, Gabriele Tinti, Roger Browne, Riccardo Salvino, Lars Bloch, Paola Senatore, Maria Piera Regoli, Giulio Bianchi, Efrem Appel, Matilde Dall'Aglio, Salvatore Baccaro

Emanuelle se envolve no universo dos snuff movies em mais uma produção dirigida por Joe D’Amato. No mesmo ano em que a bela jornalista e fotógrafa se aventurou nas selvas para produzir uma reportagem sobre “os últimos canibais“, ela também iria investigar a produção de filmes sexuais violentos, tendo que se infiltrar em uma poderosa organização – e estaria em outras duas produções em 1977: Suor Emanuelle e Noites Pornôs no Mundo, este também com direção de D’Amato. Apesar das intenções, trata-se de mais uma desculpa para explorar o corpo feminino em situações diversas de sexo, como era costume na série de filmes da “black Emanuelle“, seja de maneira insinuada ou explícita. Se extrair esses momentos mais ousados, a pornografia e o erotismo, sobra apenas uma história ruim, mal realizada e sem conclusão, tendo como méritos apenas as cenas de violência extrema, na segunda metade da produção.

Nascida em Surabaya, na Indonésia, em 1950, Laurette Marcia Gemser se mudou com os pais para a Holanda aos cinco anos, onde faria seus estudos como designer de moda. Atuou como modelo até 1974, quando aceitou atuar no filme italiano Amore libero-Free Love, que fez um grande sucesso e atraiu olhares para a jovem atriz. No ano seguinte, ela atuaria como uma simples massagista em Emmanuelle 2, até assumir o protagonismo na produção Black Emanuelle, de Bitto Albertini, que lhe proporcionaria atuar em outros filmes como a curiosa e ousada jornalista investigativa. A partir dos anos 90, ela se aposentaria da carreira para tentar trabalhar na sua formação, no cuidado com o figurino, tendo no currículo o terrível Troll 2, uma das maiores bombas já produzidas para o cinema.

Com algumas limitações como atriz, principalmente em seus filmes iniciais, Laura teve o apoio dos diretores Joe D’Amato e Bruno Mattei, atuando em suas produções medianas e ruins, que traziam argumentos relacionados ao tráfico de corpos, torturas na prisão e prostituição, mas que contribuíram para o reconhecimento de seu trabalho. Em sua filmografia de quase sessenta filmes, destaca-se a ficção científica Duelos Mortais (Endgame – Bronx lotta finale, 1983), do próprio D’Amato, com ela atuando ao lado do antropófago George Eastman, que depois a levaria para atuar em seu único crédito como diretor, o terror Mutação Maligna (Metamorphosis, 1990), basicamente encerrando sua carreira como atriz e figurinista.

Diferente de Emanuelle e os Últimos Canibais, sua passagem pela América foi bem mais ousada. Sua personagem quase não aparece com vestimentas, e tem relações com quase todo o elenco masculino que cruza seu caminho. Emanuelle na América começa com a protagonista caminhando pelas ruas de Manhattan, com uma trilha acompanhando seus movimentos e diversos transeuntes não-pagos pela produção, observando-a em seu trajeto. Ela chega a um estúdio de fotografia onde faz imagens da modelo Janet (Stefania Nocilli), que reclama entre as fotos de seu namorado Tony (Giulio Bianchi), que parece não muito interessado em transar com a garota. Ele aparece escondido no carro de Emanuelle com uma arma, chamando-a de imoral, até que passa a ser seduzido e ainda recebe sexo oral, antes de fugir desesperado.

Emanuelle também terá momentos íntimos um pouco mais tarde com o próprio namorado Bill (Riccardo Salvino) em seu apartamento, ainda que a cena não traga nem sequer insinuações. Ela então vai até um ginásio de boxe conversar com Joe (Efrem Appel) para iniciar as investigações sobre os negócios obscuros do bilionário Van Darren (Lars Bloch), infiltrando-se no grupo de mulheres que o acompanham representando signos do zodíaco. Como tem vaga para Virgem, Emanuelle forja documentação falsa, com a ajuda de Joe, e, no local, transa com o segurança que substituiu o boxeador, Charlie (Salvatore Baccaro). Usando uma pulseira com uma câmera escondida, ela descobre armas escondidas em um estábulo, e se aproxima de Alfredo Elvize (Gabriele Tinti, que depois se casaria com Laura), o Duque de Elba, que a convida para seu palácio veneziano.

Relatando as relações sexuais intensas que acontecem em cada ambiente ao qual frequenta – incluindo a masturbação de um cavalo, sexos orais e vaginais explícitos -, demora mais de uma hora de produção até que ela veja cenas de violência sexual projetadas, e resolve buscar mais a respeito. Será notada, mas não sem conseguir transmitir os dados para seu editor, que não parece muito interessado na denúncia. E as tais cenas são realmente grotescas, e Emanuelle consegue até testemunhá-las “ao vivo“, quase fazendo parte de uma delas. São mostradas mulheres subjugadas sexualmente, sendo estupradas por diversos homens e tendo objetos introduzidos em suas vaginas, destacando o sangue e o sofrimento das vítimas sem som.

Tais episódios exagerados de violência, e que serviram de influência para David Cronenberg realizar Videodrome (1983), acabaram conduzindo a produção ao tribunal italiano, iniciando uma investigação para buscar comprovação de sua veracidade e que levou o filme a ser censurado por diversos anos. Até mesmo uma das atrizes envolvidas no filme teria se sentido ofendida pelas gravações para buscar apoio jurídico em um processo contra os realizadores.

É estranho pensar em toda a polêmica, se as intenções eram exatamente essas: chocar a plateia e os envolvidos, marcando suas filmografias. Ainda que o tema envolvendo produções snuffs tenha sua carga de excessos pelas ideias advindas do cinema marginal, a relação com o erotismo e a pornografia serviu como recheio da proposta, ou simplesmente uma desculpa para novamente exibir corpos.

Ao final, apesar dos esforços de Emanuelle para captar imagens e provas da existência de produções caseiras com assassinatos reais, tudo fica como começou. Deixa talvez uma mensagem sobre o inevitável consumismo e a censura pouco eficaz, além da blindagem dos envolvidos, mas nada que possa destacar o roteiro de Maria Pia Fusco, desenvolvido a partir de argumentos de Ottavio Alessi e Piero Vivarelli, como algo notável dentro do subgênero. Pode valer pela apreciação dos corpos e cenas de sexo ou pela possibilidade de conhecer mais um filme polêmico e censurado pelos seus excessos, e só.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Emmanuelle na América (1977)

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    28/02/2023 em 14:44
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    O picareta damato e suas merdas sem sentido apelando para a pornografia e violencia extrema. Filme de grande mau gosto que merece estar na lata do lixo da historia do cinema.

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