Trancers 6 (2002)

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Trancers 6
Original:Trancers 6
Ano:2002•País:EUA
Direção:Jay Woelfel
Roteiro:C. Courtney Joyner
Produção:Johnnie J. Young
Elenco:Zette Sullivan, Jennifer Capo, Robert Donavan, Timothy Prindle, Jennifer Cantrell, James R. Hilton

Oito anos após o lançamento de Tira do Futuro 5: A Volta pra Casa, a Full Moon investiu alguns trocados para a realização da parte 6. Deve ser bem por aí: um orçamento que não deve pagar o almoço do Tom Cruise pode ser notado em toda a sua projeção, desde escolha de elenco, efeitos especiais e visuais e maquiagem. Trancers 6 é um filme que fere a divertida franquia de ficção científica iniciada em 1984, soando apenas oportunista, com relação mínima com os acontecimentos anteriores. Pode-se dizer, afinal, que se trata de uma afronta, uma bagaceira caseira, realizada no quintal de Charles Band, e que, para piorar, teve a maior duração dentre todos os filmes, sendo uma árdua missão chegar ao seu final.

Só para se ter uma ideia do dinheiro investido, a produtora não conseguiu contratar Tim Thomerson nem sequer para fazer uma pontinha. Assim, as aparições do personagem Jack Deth acontecem no prólogo através de um monitor, com suas falas sendo resgatadas dos outros cinco filmes em uma montagem vagabunda, como aquelas edições em vídeo feitas no antigo Vídeo Show da TV Globo, que usava material de suas produções para desenvolver diálogos. Ele é contatado pela agência – que traz um cenário de computadores com luzes piscantes como aqueles das pérolas de ficção científica dos anos 50 – para uma missão que envolve assumir o corpo de sua filha para impedir a ascensão de uma nova raça trancers e, por fim, a morte dela.

Sem explicar a razão, ao invés de usarem a câmara TCL de viagem no tempo, somente a consciência de Jack é enviada ao passado. Ele assume o corpo de Josephine (Zette Sullivan), que seria sua filha com Lena – a garotinha aparece em Trancers 3, mas a mãe havia dito que a garota tinha outro pai. Só esse argumento já apresenta vários furos do roteiro de C. Courtney Joyner (diretor do terceiro), pois a menina havia aparecido com dez anos em 2005, o que obrigaria as ações de Trancers 6 acontecerem após 2015, no mínimo. Além disso, após despertar no novo corpo, Jack mais se preocupa com o fato de estar em uma garota do que ela ser sua filha, causando algumas breves, muito breves, confusões ao estilo De Repente 30.

Jack sempre foi um machista paquerador, e essa personalidade poderia ser bem explorada por aqui. No máximo, mostra Jo olhando para o bumbum de outra mulher, de maneira tão artificial que a canastrice de Zette Sullivan se evidencia. Ela até diz umas frases ao estilo Jack Deth, mas o esforço é mínimo, além de ser vexatório, como na sequência em que pede um cachorro-quente. Enfim, ela trabalha numa empresa que faz monitoramento espacial, tendo percebido, pouco antes de ser possuída, uma estranha chuva de meteoros. Ao investigar no planetário, com a ajuda do Dr. Paul Malvern (Robert Donavan), eles são caçados por trancers, que se mostram resistentes à arma da garota.

Depois de ser demitida pelo seu chefe (Ben Bar) com o apoio da colega Shauna (Jennifer Capo), ela é atacada por um trancer, somente para atirá-lo pela janela, num dos efeitos mais bizarros que você poderia ver numa produção do estilo. Chega a ser cômico ver o boneco caindo no meio da rua e se desintegrando. Como acontece sempre com Jack, ela é sequestrada e mantida numa prisão com outros que estão ali para experimentar um raio, numa composição oriunda de um meteoro, que transforma as pessoas – raios brancos em desenhos toscos – em poderosos trancers, com DNA alienígena. Shauna também chantageia o doutor para aprimorar os efeitos, enquanto Jo Deth precisa encontrar meios de sair dali, destruir a arma, os vilões e impedir sua morte.

Com maquiagens horríveis – a pior de todas envolve um jovem trancer que perde um olho e fica evidente a tosquice – e filmagens somente à luz do dia, Trancers 6 nem consegue ao menos se inspirar nos filmes iniciais da franquia, antes do protagonista passear em outra dimensão. O quinto filme havia deixado duas pontas soltas para novos filmes: um possível filho de Jack com Lyra (quando ele vai embora, ela toca na própria barriga e diz que o herói continuará com ela) e a vinda do Próspero para 2353, sugerindo que ele pudesse se tornar um novo caçador de trancers. Na verdade, praticamente tudo foi ignorado pela ideia de unir alienígenas com os mutantes pelo despertar de uma nova raça. Poderia até funcionar, se houvesse um investimento no mínimo razoável.

Com elenco amador em que a até a protagonista não fez mais nada além deste filme, Trancers 6 conclui a série de viagens no tempo de maneira medíocre. Felizmente Tim Thomerson escapou de atuar nessa bomba dirigida por Jay Woelfel, e pode se dedicar a outros papéis mais divertidos e significativos, ainda que toscos, como O Ataque das Vespas Mutantes. Acredito que nem o ator deve ter visto Trancers 6 para saber os novos caminhos de seu personagem. Aliás, alguém, além de mim, viu?

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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