Salem’s Lot (1975)

4.8
(6)
Salem / A Hora do Vampiro
Original:Salem´s Lot
Ano:1975•País:EUA
Autor:Stephen King•Editora: Suma

Stephen King falava com orgulho sobre a obra Drácula, de Bram Stoker, quando lecionava na Hampden Academy. Ponderava com seus alunos sobre o que aconteceria se Drácula retornasse nos tempos atuais, divertindo-se com as respostas de sua esposa Tabitha King: “Ele provavelmente seria atropelado por um táxi amarelo na Park Avenue e morto“. A ideia de trazê-lo de volta à cidade grande era divertida, mas parecia não fazer sentido. Ora, por que ele iniciaria sua onda de horror em uma cidade grande, tendo possibilidades devastadoras em um ambiente rural e silencioso? Produziria um exército de mortos-vivos e, como uma doença epidêmica, avançaria por outros locais até ter o controle para alcançar grandes multidões.

Assim, o Mestre do Horror Contemporâneo migrou sua trama para uma cidade pequena, a fictícia Salem’s Lot (antiga Jerusalém’s Lot), pensando em denominar seu livro de Second. “Parece uma história envolvendo sexo ruim“, brincou mais uma vez Tabitha, justificando sua importante presença ao lado do escritor. Stephen King escreveu o livro, colocando também na trama um pesadelo que tivera aos oito anos de idade, quando teria visto um homem enforcado no braço de um andaime em uma colina; ao se aproximar, ele notaria que o rosto era dele próprio, com os olhos abertos, sendo devorados por pássaros. Ao acordar, no escuro, King pensava se o morto não estaria ali, debruçado sobre ele na cama. Tal sonho irá atormentar o escritor Ben Mears em seu retorno à cidade de Salem’s Lot para se inspirar para a produção de um novo livro.

Ele teria tido a experiência quando criança, sem saber se aquilo realmente aconteceu na Mansão Marsten, no dia em que participou de um desafio dos colegas sobre entrar no local e trazer algo de lá. O cadáver enforcado era o do antigo morador, Hubie, logo depois de assassinar sua esposa, dando à casa uma fama de maldita. A chegada de Ben coincide com a compra da casa Marsten por um tal Kurt Barlow, que estaria ausente numa viagem de negócios, com a tutela de seu parceiro Richard Straker. A discreta e sinistra movimentação na morada atrai a atenção de todos, principalmente do escritor que começa a se envolver com a sua fã Susan Norton, enquanto torna-se amigo do professor de ensino médio Matt Burke.

Enquanto Ben se instala em uma pensão e inicia seu processo de escrita, a cidade se agita com o desaparecimento do jovem Ralphie Glick, assim como a de seu irmão Danny. É a primeira vítima do poderoso vampiro Barlow, que aos poucos vai transformando outros residentes, como Dud Rogers e até um bebê recém-nascido. Os transformados passam a atacar os demais moradores numa cadeia crescente de domínio. Quando o garoto Mark Petrie recebe a visita de um vampirizado Danny, ele percebe o que está acontecendo no local, unindo-se a Ben, Matt, o médico Jimmy Cody e o padre bebum Callahan, na formação de uma equipe de caçadores contra os vampiros de Salem’s Lot.

Segundo romance de Stephen King – e considerado o seu favorito -, a narrativa flui em uma atmosfera perturbadora de ameaça. King dá vida à cidade, em capítulos que atravessam diversos moradores em sua rotina, inicialmente seguindo os ponteiros do relógio, seja nos afazeres domésticos ou nos confrontos contra as criaturas da noite. Ele trabalha bem na descrição de seus personagens, dando-lhes profundidade ao ponto de facilitar para leitor a identificação. E traz boas sequências de horror que remetem a produções clássicas de vampirismo da Hammer, quando aqueles que sabem o que atormenta o local precisam entrar na mansão ou invadir moradias para caçá-los durante o dia.

Ainda que seja o herói da história, Ben não se mostra absoluto no combate, esquivando-se de duelos diretos, ao contrário do jovem Mark. É ele que tem as principais ações, desenvolvendo momentos de tensão, como quando ele está preso para servir de alimento ao líder dos vampiros ou quando o próprio Barlow visita seus pais. Ele chega a enaltecer a bravura do garoto, considerando-o um verdadeiro oponente, diferente de Ben, que passa boa parte da narrativa planejando ações contra o vilão sobrenatural e seus asseclas. Jimmy e Callahan também constroem sequências interessantes em seus opostos, como o homem da ciência, crente no sobrenatural, e o padre em busca de redenção.

Uma obra intensa de vampirismo, Salem (como fora lançado no Brasil, assim como A Hora do Vampiro) inspirou adaptações como a minissérie Os Vampiros de Salem’s Lot, e a continuação fraca Os Vampiros de Salem’s Lot – O Retorno, além do remake A Mansão Marsten, de 2004. Uma nova adaptação será lançada em 2023, com direção e roteiro de Gary Dauberman (de Annabelle 3: De Volta Para Casa), que tem prometido levar os vampiros da cidade de Salem’s Lot a um aspecto mais assustador do que o que tem sido visto nos cinemas nas últimas décadas. Vamos aguardar ansiosos pelas novidades, pois será realmente um prazer retornar à cidade consumida pelo Drácula do século XXI.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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