Um Drink No Inferno 3: A Filha do Carrasco (1999)

4.3
(7)

Um Drink No Inferno 3: A Filha do Carrasco
Original:From Dusk Till Dawn 3: The Hangman's Daughter
Ano:1999•País:EUA
Direção:P.J. Pesce
Roteiro:Álvaro Rodríguez, Robert Rodriguez
Produção:Michael S. Murphey, Gianni Nunnari, Meir Teper
Elenco:Marco Leonardi, Michael Parks, Temuera Morrison, Rebecca Gayheart, Ara Celi, Lennie Loftin, Sonia Braga, Orlando Jones, Danny Trejo, Jordana Spiro, Mickey Giacomazzi

O segundo filme não havia nem sequer esquentado as prateleiras das locadoras quando foi lançada a terceira parte da mitologia vampiresca promovida por Roberto Rodriguez e Quentin Tarantino. Desta vez, a proposta é apresentar eventos ocorridos antes de Um Drink no Inferno, com mais envolvimento do estilo western já explorado no longa anterior, e também trazer uma sugestão de origem para o personagem de Salma Hayek, a poderosa vampira Santanico Pandemonium. Para tal, fizeram um roteiro mais próximo do primeiro filme ao apresentar acontecimentos que se colidem em uma boate repleta de criaturas da noite, explorando fé e novamente antiheroísmo.

A direção ficou a cargo de P.J. Pesce (de Os Garotos Perdidos 2: A Tribo), a partir de um roteiro escrito por Álvaro Rodríguez, primo de Robert Rodriguez, responsável pelo argumento. Sem as firulas técnicas de Scott Spiegel, Pesce faz um trabalho adequado ao que se propõe, sem repetir tomadas e também sem inovar. E nem precisaria se esforçar muito pelo enredo esquemático: ambientado em 1913, no México, a trama apresenta uma experiência fictícia experimentada pelo escritor americano de horror Ambrose Bierce (1842-1914), um dos precursores do estilo terror psicológico, e que teria desaparecido depois de passar pela Louisiana e Texas, atravessando El Paso para o México, e se aliar ao exército de Pancho Villa – acontecimentos citados na produção.

Bierce, interpretado por Michael Parks (que foi o ranger no primeiro filme), é atormentado por um pesadelo em que ele se vê sendo fuzilado – uma das possíveis mortes do escritor. Enquanto aguarda uma carona em um vilarejo, ele acompanha o momento de enforcamento do criminoso Johnny Madrid (Marco Leonardi), salvo no último segundo pela jovem Reece (Jordana Spiro), que, disfarçada de menino, busca uma chance de se tornar uma fora da lei. Antes de fugir a cavalo, Johnny leva consigo a filha do carrasco (Temuera Morrison), Esmeralda (Ara Celi), promovendo uma perseguição pelo deserto. Bierce consegue uma diligência que transporta um casal recém-casado, John (Lennie Loftin) e Mary Newlie (Rebecca Gayheart), que pretende espalhar o cristianismo com a venda de Bíblias.

Reece acompanha Johnny no momento em que ele se reúne com seu grupo, somente para ser condenada ao enforcamento em um cemitério, apesar de ter ajudado o bandido e ainda ter contado a ele sobre itens valiosos que estariam na diligência. Com a chegada da noite, todos acabam se encontrando na boate La Tetilla Del Diablo (futura Titty Twister), onde mulheres fazem danças sensuais e programas com os clientes em pequenos ambientes, sob os cuidados da sacerdotisa Quixtla (Sônia Braga esbanjando sensualidade). Como acontece no filme original, brigas sangrentas despertarão a voracidade das vampiras do local e do barman Razor Charlie (Danny Trejo), dando início a um massacre onde alguns poucos sobreviventes terão que buscar abrigo e lutar pela sobrevivência.

Destacam-se nessa batalha ações de John, que depois que se relaciona com Quixtla e assume uma personalidade agressiva, bem distante da mostrada no início do filme. Enquanto sua esposa se transformará em vampira e tentará seduzi-lo, liberando uma cobra de seu corpo, ele contará com o apoio inusitado de Johnny, Esmeralda, seu pai e Bierce. Por ter experimentado o sangue de Esmeralda, Quixtla irá informar aos demais vampiros que finalmente encontraram a aguardada Santanico Pandemonium e precisam dela para realizar um ritual de transformação. Entre os personagens peculiares que estão na boate, chama a atenção Ezra Traylor, interpretado por Orlando Jones, um empresário em viagem aos EUA e que se encanta pelo local.

A fórmula é bem parecida, quase um déjà vu. Armas sendo usadas como cruzes, a tentativa de resgate da fé de John e o apoio psicológico de Bierce. Até mesmo Reece traz lembranças de Juliette Lewis, sem as mesmas transformações, e há o uso do chicote como arma e de um sapato com facas nas pontas. Tal qual o anterior, alguns vampiros acabam se revelando outras criaturas, como o que acontece com Mary, na transformação em uma cobra, além, é claro, de explorar os raios solares como ameaças aos monstros. Mas há também diferenças. Apesar dos esforços, o grupo acaba sendo capturado pelos vampiros e deixado de ponta cabeça, enquanto Quixtla desperta uma ancestral como peça fundamental na transformação de Esmeralda.

Realizado ao mesmo tempo que Um Drink no Inferno 2, esta terceira parte é bem superior. A exploração da boate que depois originaria o Titty Twister e a ideia de promover uma sensação de claustrofobia como acontecia no original são bem mais interessantes que o assalto ao banco mexicano. O segundo filme teve bons momentos, como as referências a Alfred Hitchcock e as cenas de ataque a Luther na estrada e os diálogos bem acertados, mas perde pelo tom western de Um Drink no Inferno 3, com fuga a cavalo, tentativas de enforcamento e assalto a diligência. E o terceiro ainda conta com Sônia Braga, servindo como um atrativo a mais para os fãs do cinema brasileiro.

Anos depois, houve uma discussão sobre uma quarta parte. Seria realizada por volta de 2012, mas acabou sendo deixada de lado pela série de TV. A série teve três temporadas e buscou explorar a mitologia por trás dos vampiros e a relação com serpentes, sem ter o mesmo brilho do longa que apresentaria o Titty Twister como uma excelente opção de entretenimento no México.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Um Drink No Inferno 3: A Filha do Carrasco (1999)

  • 23/05/2023 em 16:17
    Permalink

    “ que apresentaria Titty Twister como uma excelente opção de entretenimento no México.“

    Hahahahaha maravilhosa mesmo.

    Resposta

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