Um Drink No Inferno 2: Texas Sangrento (1999)

4.9
(7)

Um Drink no Inferno 2: Texas Sangrento
Original:From Dusk Till Dawn 2: Texas Blood Money
Ano:1999•País:EUA
Direção:Scott Spiegel
Roteiro:Scott Spiegel, Boaz Yakin, Duane Whitaker
Produção:Michael S. Murphey, Gianni Nunnari, Meir Teper
Elenco:Robert Patrick, Bo Hopkins, Duane Whitaker, Muse Watson, Brett Harrelson, Raymond Cruz, Danny Trejo, James Parks, Tiffani Thiessen, Bruce Campbell, Maria Checa

Os vampiros de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino estão de volta para duas continuações improváveis. Talvez a boa recepção do filme anterior, pelo menos no interesse do público, tenha servido de motivação para mais produções que explorassem as criaturas sombrias no México, a boate Titty Twister e bandidos em ação, em um faroeste de papéis invertidos. Porém, apesar de referenciar levemente o filme original, fica evidente o distanciamento criativo e a realização. Ambos os filmes pouco ampliam a mitologia ou trazem qualquer acréscimo que justifique sua existência, ainda que possam divertir moderadamente. Parece que o envolvimento de Rodriguez e Tarantino foi apenas na injeção financeira, sem participação no brainstorm ou no roteiro.

A direção e o argumento principal ficaram sob a tutela de Scott Spiegel, parceiro de Sam Raimi desde Within the Woods. Antes de estrear na direção com Violência e Terror (1989), ele havia ajudado no enredo de Uma Noite Alucinante 2, a ótima continuação de A Morte do Demônio. Seu envolvimento em Um Drink no Inferno 2: Texas Sangrento era uma aposta confiável e justificada, mas talvez a responsabilidade lhe tenha subido à cabeça, tanto que tornou este filme como um dos que têm a direção mais enjoada já vista, com excessivos posicionamentos estranhos de câmera. Desde uma colocada dentro do pote de água do cachorro, passando por uma caixa de isopor, acompanhando um ventilador, na realização de uma flexão e reflexos em espelhos e retrovisores…

O roteiro, escrito por Duane Whitaker (que também interpreta Luther), tem poucos acertos imaginativos. Mas começa muito bem. Dois advogados “chave de cadeia” acabam de fazer hora extra após defenderem um assassino em série que matou 14 pessoas. Interpretados por Bruce Campbell e Tiffani Thiessen, em participações especiais, eles lamentam o fato de terem ajudado o criminoso e temem por um possível karma, assim que entram em um elevador. Com uma homenagem interessante a Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, os dois são atacados por um bando de morcegos, no ambiente claustrofóbico, com a câmera detalhando as criaturas arrancando pedaços de pele. A boa abertura faz parte apenas de um filme dentro do filme, que está sendo assistido pelo criminoso Buck (Robert Patrick), mais interessado na programação de uma TV mal sintonizada do que na garçonete que o acompanha. Curiosamente, quando ele dá alguns socos na TV, rapidamente aparece uma cena do filme A Balada do Pistoleiro, de Robert Rodriguez.

Ele consegue ver rapidamente uma transmissão sobre um eclipse solar que acontecerá em breve, assim como uma reportagem falando sobre a fuga de Luther Heggs (Whitaker) – infelizmente não reaproveitaram Kelly Preston como jornalista -, com depoimentos do xerife Otis Lawson (Bo Hopkins), que também teria sido responsável pela prisão de Buck durante um assalto a banco. Otis chega para atormentar Buck, com o apoio do ranger McGraw (James Parks, filho de Michael Parks, que atuou no primeiro também como seu pai), sobre o paradeiro de Luther, dizendo que irá descobrir uma conexão entre os dois para um futuro roubo, e é o que acontece em seguida, através de um telefonema. Buck fica responsável pela reunião de um grupo de assaltantes para um encontro no motel El Coyote na noite seguinte.

Jesus: Esse filme tem péssima qualidade.
Ray: Não me parece ruim.
Jesus: Não tem história.
Buck: É um filme de sexo. Eu não vejo filme de sexo pela história. Vejo um filme de sexo para ver sexo.
C.W.: Tenho que concordar com Jesus nesse ponto. Eu pessoalmente aprecio a tentativa de se contar uma história. Quando dou mais valor aos personagens, dou mais valor ao sexo. Agora, a minha maior queixa nesse filme aí é que estamos vendo ele há quase meia hora e ainda não vi ninguém levar por trás.

Ele encontra C.W. Niles (Muse Watson) em um rodeio, Jesus Draven (Raymond Cruz) no treinamento de seu cachorro Jaws 2, e Ray Bob (Brett Harrelson), atuando como um segurança preocupado com a pressão da esposa Alma. No hotel, enquanto os rapazes assistem a um filme pornô ruim e discutem se eles devem ou não ter história, na estrada Luther atropela um morcego, uma cena que Ti West copiaria em Ataque dos Morcegos. Ao ver o estrago do veículo e perceber a dificuldade de sair do lugar, ele é atacado pela criatura, e revida dando-lhe tiros. Depois ele segue a pé em busca de ajuda no famigerado Titty Twister e repete a frase de George Clooney: “Esse é o meu tipo de lugar.

O estabelecimento, quase destruído no filme anterior, está de volta à rotina das mulheres sensuais e das brigas entre clientes peculiares. Mas aparece pouco, devido ao orçamento reduzido. Luther conversa com o barman Razor Eddie (Danny Trejo, o único a aparecer nos três filmes da franquia), possivelmente algum irmão de Razor Charlie, morto no filme de 1996. Ele comenta sobre o incidente, e o barman, preocupado com o estado do morcego, decide lhe dar uma carona, parando próximo ao veículo. Luther irá enfrentar os dois vampiros e será mordido, para depois perpetuar o contágio para os demais comparsas, primeiramente atacando Jesus, que acabara de transar com a prostituta Lupe (Maria Checa). Ela é morta no chuveiro, em mais uma homenagem a Alfred Hitchcock, desta vez referenciando Psicose, e, transformada, em uma ótima caracterização, irá ajudar Luther.

Eles partem para o banco em Bravos, aproveitando ainda a noite. Luther usará seus poderes de vampiro para invadir o estabelecimento e matar o segurança, facilitando a entrada dos demais. Buck, que desejava algo limpo e sem incidentes, começa a notar algumas mudanças de comportamento até finalmente perceber que seus parceiros se transformaram em criaturas da noite, dispostas a roubar o banco e eliminar todos os policiais que tentarem impedi-los. Como no anterior, o criminoso acaba se revelando o herói, tendo que se unir ao inimigo Otis para evitar que os vampiros concluam sua missão e transformem outras pessoas em uma contaminação crescente.

É provável que Um Drink no Inferno 2 tivesse uma aceitação melhor se o título fosse outro. Estabelecer uma relação com o filmaço de Robert Rodriguez é um dos principais equívocos, pois precisaria acertar seus diálogos e clichês. Apesar de divertido pelas boas cenas de ação e de um maior envolvimento dos morcegos no enredo, o longa pouco surpreende, partindo para uma série de homenagens e participações especiais. Conta com um bom elenco – Robert Patrick ainda era bastante lembrado como o T-1000 de Exterminador do Futuro 2, e depois atuaria como Jacob na primeira temporada da série de TV -, e adequados efeitos, tanto de maquiagem quanto especiais (como o derretimento dos vampiros mortos).

Não tão boa quanto a do original, a trilha sonora contém ótimas performances de Dick Dale em músicas como In-Liner (Surf Beat ’97), Spanish Kiss e The Wedge, além da incidental composta por Joseph Williams. Elas ajudam a completar sequências interessantes do filme, como a que acontece dentro do banco, com o gás lacrimogêneo servindo como uma névoa vampiresca, obrigando Buck a se defender com uma cruz. É claro que o mencionado eclipse terá papel importante no final, assim como os óculos de sol, roubados de Otis. Aliás, esses foram os mesmos usados por Robert Patrick em Exterminador do Futuro 2, em uma das muitas referências à produção, como os ossos esmagados na estrada.

Lançado diretamente em vídeo como o terceiro, Um Drink no Inferno 2 é pouco lembrado como parte da franquia. O original e o terceiro filme ainda são as principais recordações sobre os vampiros de Robert Rodriguez, sendo que o primeiro ainda é o principal convite a um drink no Titty Twister.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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