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Dezenove Garras e um Pássaro Preto
Original:Diecinueve Garras y un Pájaro Oscuro
Ano:2023•País:Argentina
Autor:Agustina Bazterrica•Editora: Darkside Books

Agustina Bazterrica impactou e impressionou os leitores com o visceral livro Saboroso Cadáver, publicado pela Darkside Books em 2022. Neste ano, Bazterrica está de volta com uma coletânea de contos deliciosamente macabros, bizarros e perturbadores, sem deixar de lado um toque de sarcasmo e acidez.

Outrora publicado como Antes del Encuentro Feroz, em 2016, a obra contava com 18 histórias. Dezenove Garras e um Pássaro Preto é sua versão estendida, com o acréscimo do conto Um Buraco Esconde Uma Casa.

A obra começa logo com algo corriqueiro, alguém pegando um táxi. Durante a viagem, a passageira começa a divagar sobre o motorista. Será que ele é um serial killer? Em determinado momento, temos certeza de que sim, ele é um assassino, e a passageira é algum tipo de investigadora prestes a prendê-lo. A ambiguidade presente no texto e as dúvidas que ficam (ele é um assassino? Não é? Como ela sabia? Ou por que está fazendo tais conjecturas?) são pontos que nos deixam presos na leitura, nos entretêm e nos deixam questionando as mesmas coisas que a personagem. Queremos saber mais, porém, fica apenas para nossa imaginação, já que nunca teremos tais respostas.

Assim como começa com uma viagem, Dezenove Garras e um Pássaro Preto também termina com uma. Correndo para pegar o último trem, uma mulher se vê sozinha no vagão até que um misterioso e assustador homem avisa que estão esperando por ela. Deixando isso de lado após o passageiro descer, a luz acaba e ela é obrigada a andar pelos trilhos escuros até a próxima estação. O que acontece e quem está ali esperando por ela é algo que fica a nosso cargo delinear.

Inclusive, reflexões e questionamentos estarão presentes durante toda a obra, em cada conto, em cada página, bem como bizarrices, algumas divertidas e outras que são como um soco no estômago.

Aqui, encontramos os mais diversos tipos de causos, mostrando toda a versatilidade da autora e seu talento em prender o leitor nas mais variadas narrativas. Seus personagens, em geral, são carregados de sentimentos intensos e sua escrita mostra uma violência e brutalidade eletrizantes perante situações ora desesperadoras, ora comuns, mas sempre com uma sombra mais profunda pairando por ali. Objetos inanimados, um término de relacionamento ou uma véspera de ano novo ganham uma nova cara sob a perspectiva de Agustina. Por exemplo, uma mulher cheia de dinheiro, mas deslocada da sociedade, procura desesperadamente seu lugar e tenta entender situações que só podem ser alucinações. É uma história tão bem contada que é o típico caso de “não sei nem o que dizer, apenas sentir”.  Essa é a essência de Dezenove Garras (representando toda a agressividade) e um Pássaro Preto (representando melancolia, solidão, morte).

Algumas histórias deixam implícitos momentos brutais pelos quais seus protagonistas passam, como abusos e suicídios, e certas tramas foram inspiradas em histórias pessoais da autora. Roberto e Um Som Leve, Rápido e Monstruoso são exemplos disso. No primeiro, uma criança afirma que tem um coelho entre as pernas e, enquanto sua amiga não acredita nela, seu professor pede para vê-lo. No segundo conto, a personagem principal é testemunha de um suicídio bem ali em seu quintal, porém, antes do corpo chegar ao chão, sua dentadura chegou primeiro, fazendo-a imaginar o que estaria fazendo ali a prótese dentária de seu vizinho minutos antes do choque de ver alguém morto à sua frente.

Além de situações cotidianas levadas ao extremo, também há alguns contos que usam do fantástico juntamente ao corriqueiro. Na verdade, se olharmos bem, a estranheza presente na maioria – se não todas – das histórias acaba tendo uma pontinha de fantástico, mas o que mais encontraremos aqui são momentos bizarros. De tão absurdos, acabam arrancando gargalhadas incrédulas e outros, de tão macabros, proporcionam reflexões filosóficas, talvez alguns pequenos surtos e crises existenciais. Vale citar como destaque, além dos já comentados aqui, os contos Rosa Bombom, Teicher vs. Nietzsche, Elena-Marie Sandoz e A Contínua Igualdade da Circunferência. Mas, claro, todas as histórias são únicas a seu modo e merecem uma atenção especial.

Dezenove Garras e um Pássaro Preto é uma coletânea recheada de boas histórias curtas, podendo ser lido em apenas um dia. Contos perturbadores, contos bizarramente engraçados, contos mórbidos, contos que nos deixam com raiva, que nos fazem refletir sobre as nossas próprias reações exageradas perante momentos banais, enfim. Se você gosta de coisas que se mascaram de normais, mas na verdade escondem coisas muito maiores, muito mais inusitadas (e bota inusitadas nisso), esse livro é fortemente recomendado. Excêntrico e atípico mesmo nos atos mais comuns, nos contos de Agustina Bazterrica você encontrará de tudo, menos normalidade.

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