Feliz Aniversário para Mim
Original:Happy Birthday to Me
Ano:1981•País:Canadá Direção:J. Lee Thompson Roteiro:John C.W. Saxton, Peter Jobin, Timothy Bond, John Beaird Produção:John Dunning, André Link Elenco:Melissa Sue Anderson, Glenn Ford, Lawrence Dane, Sharon Acker, Frances Hyland, Tracey E. Bregman, Jack Blum Matt Craven, Lenore Zann, David Eisner, Lisa Langlois, Michel-René Labelle, Lesleh Donaldson |
Se fosse escolher um único ano da década de 80 como o mais produtivo para os slashers, certamente seria 1981. Foi o ano da primeira aparição de Jason Voorhees (Sexta-Feira 13 – Parte 2), da volta em grande estilo de Michael Myers (Halloween II), do assassino da picareta (Dia dos Namorados Macabro), da tesoura de jardim (Chamas da Morte), do claustrofóbico parque macabro (Pague para Entrar, Reze para Sair), da trasheira da mata (Perigo na Floresta), da home invasion (Absurd, Home Sweet Home) e de tantos outros. Na verdade, nesse ano fatídico, foram realizados 29 slashers para todos os gostos e estilos, seja homenageando datas (Graduation Day), seja para libertar psicopatas insanos (Pesadelo, Madman), um verdadeiro cardápio de corpos amontoados e perseguições sem fim. Um dos meus favoritos não listados acima também foi realizado em 1981, um slasher surpreendente, ousado e com características de giallo.
Feliz Aniversário para Mim foi realmente realizado com a intenção de abrigar outra data conhecida, com boas lembranças de Halloween e Sexta-Feira 13, além dos terrores natalinos, formatura, casamento, Dia das Mães e de ano-novo. Como pensaram os produtores John Dunning e André Link na época, “todas as pessoas comemoram aniversário.“, o que traria um apelo universal e arrepios por mais uma data festiva. Eles também estiveram envolvidos com o slasher Dia dos Namorados Macabro, mas que, embora tenha sido feito posteriormente, foi lançado antes para aproveitar o dia 12 de fevereiro de 1981 – na verdade, os primeiros rascunhos do argumento principal foram desenvolvidos a partir de 1978, com o sucesso de um assassino de babás. Para trazer um conteúdo mais profundo à temática, os produtores contrataram John Saxton, professor de inglês da Universidade de Toronto, mas foi Dunning que teve a ideia da lesão cerebral e regeneração por eletricidade, a partir de um artigo sobre pesquisas em sapos.
Segundo o site Retro Slashers, em 1980 um terceiro roteiro já havia sido desenvolvido para a trama principal. Essa demora para a realização foi deixando para trás uma produção que poderia ter sido a primeira posterior a Halloween. Nesse tal roteiro, havia uma influência sobrenatural às ações do assassino, com envolvimento de possessão, algo que acabou sendo deixado para lá com intuitos de criar um pesadelo mais palpável para o espectador. Os roteiristas Timothy Bond e Peter Jobin refizeram o argumento, ainda que, curiosamente, o filme tenha basicamente sido feito para pender para esse lado, como a presença da protagonista em contato direto com o túmulo da mãe.
J. Lee Thompson, de Círculo do Medo (1962), assumiu a condução em julho de 1980, com encerramento em setembro, tendo efeitos especiais a cargo de Tom Burman. Thompson queria realmente um filme bastante sangrento, tanto que notas dos bastidores indicam que o diretor chegava a virar baldes de sangue falso nos sets para dar uma atmosfera cênica de horror gráfico. Muitas cenas violentas acabaram sofrendo cortes para uma classificação mais aceitável – inicialmente teria a mesma dos pornôs. Apesar dos intentos, boa parte da crítica não “comprou” as ideias do filme, sendo apontado como confuso, mistura de Sexta-Feira 13 com Baile de Formatura, e exageradamente violento, mas Feliz Aniversário para Mim foi adquirindo mais fãs e respeito por parte da opinião formal, ainda que não seja um grande destaque do período. Há até quem prefira seu slasher co-irmão, Aniversário Sangrento, de Ed Hunt, envolto numa temática levemente similar.
Tem início com uma longa e interessante sequência de assassinato. A jovem Bernadette O’Hara (Lesleh Donaldson) sai de seu dormitório da Crawford Academy para encontrar seus amigos no Silent Woman Tavern, tendo um pequeno problema com o cachorro Winston da diretora sra. Patterson (Frances Hyland) e com um assassino escondido no banco traseiro de seu carro. Estrangulada, mesmo vendo um casal passando próximo e não conseguindo chamar a atenção, a garota finge ter morrido para aproveitar o afrouxamento das mãos em seu pescoço para escapar do veículo e buscar um esconderijo nas proximidades. Sem conseguir gritar pelo esganamento sofrido, o misterioso psicopata das luvas pretas tenta ainda pegá-la mais uma vez, mas ela corre ao encontro de uma pessoa conhecida, vista apenas com um cachecol e uma lâmina em uma das mãos, a mesma que irá rasgar sua garganta.
Enquanto isso na taverna, o grupo dela, conhecido como o Top 10 de Crawford, composto por riquinhos que se sentem superiores aos demais, aguarda a chegada dos amigos como a atrasada Virginia Wainwright (Melissa Sue Anderson) e o estranho “taxidermista noturno“ Alfred Morris (Jack Blum) e seu ratinho George. Depois de arrumar confusão com um grupo de “americanos” em comemoração, eles partem para o “desafio” habitual que é atravessar uma ponte levadiça, cada um em seu veículo e ocupantes. Alfred não participa, enquanto Greg (Richard Rebiere), que conduz Virginia, arrisca a passar mesmo com a ponte já levantada e quase causa um acidente, fazendo a garota gritar pela mãe. Desconfortável, a jovem foge dali e vai ao cemitério visitar seu túmulo, sendo observada sorrateiramente pelo amigo e admirador Etienne (Michel-René Labelle), que logo depois irá invadir seu quarto e roubar uma calcinha.
Como se imagina, Virgínia, ou Ginny, é a protagonista, uma jovem que vive com o pai Hal (Lawrence Dane) e sofre com pequenos lapsos de memória, envolvendo inclusive o acidente que vitimou sua mãe. Algumas de suas lembranças são resgatadas em episódios como na aula de ciências com o Prof. Heregard (Jérôme Tiberghien) fazendo as pernas de uma rã se movimentarem com eletricidade – com a fotografia vermelha, Virgínia é transportada para uma ressonância onde está realizando procedimentos inovadores com o Dr. Feinblum (Maurice Podbrey), que afirma que seus movimentos involuntários seriam frutos de uma reconstrução de seu tecido cerebral. Para ajudá-la a resgatar o passado aos poucos, ela faz consultas com o psiquiatra Dr. David Faraday (Glenn Ford), que confirma a técnica do médico, usando como exemplo uma salamandra, dizendo que com o tempo ela irá se lembrar de suas perdas, incluindo o acidente.
Apesar do contexto médico, trata-se de um slasher. E outras vítimas do Top 10 começarão a ser sucumbidas pelo assassino das luvas pretas. Etienne tem seu fim traçado no cachecol preso às rodas da moto; Greg é esmagado pelos pesos durante exercicios em casa. As suspeitas iniciais apontam o envolvimento de Alfred, que, inclusive, possui uma réplica da cabeça de Bernadette em sua casa, como parte de seu hobby de arte escultural. Mas há outros que podem ter algum envolvimento, uma vez que a temperatura fria de um inverno próximo simplesmente faz todos os personagens usarem luvas pretas e cachecóis. Tudo, é claro, tem uma relação com a festa de aniversário de Virgínia, quando a mãe ainda estava viva, e uma conexão com o grupo de amigos. Nem todos irão morrer como o próximo marketing da produção já anunciava: “seis dos assassinatos mais bizarros que você jamais viu“.
O filme é bastante lembrado por duas cenas emblemáticas e que acabaram por representar cartazes de divulgação: uma envolve um espetinho enfiado na garganta; e a outra é a sequência final na tal festa de aniversário composta por cadáveres. Embora a autoria dos crimes pareça evidente até pela precoce revelação do assassino – o do espeto, por exemplo -, na verdade, há uma grande surpresa no final, mudando até mesmo a motivação do crime, e que teria servido de inspiração para Wes Craven e Kevin Williamson no argumento dos assassinos de Pânico (1996). É preciso um pouco de boa vontade do espectador, a mesma que o faz aceitar algumas resoluções da série Missão Impossível – entenderá a comparação na cena derradeira -, para que tudo seja bem aceito e faça sentido.
Além das tais cenas e do final aterrador, há o mistério, as mortes sangrentas – nada tão impactante como se imagina, mas interessantes -, o contexto científico e o ótimo elenco, destacando o veterano Glenn Ford, de Superman: O Filme (1978) e Gilda (1946). Melissa Sue Anderson também atua bem com sua dupla personalidade, ora como a doce Virgínia, ora como uma versão confusa e desequilibrada. Mas até mesmo os jovens acéfalos estão bem com suas profundidades e importâncias, apesar do vasto elenco. Logo o espectador já entende seus conflitos e interesses, namoricos, relações complicadas e traumas, mesmo em poucas cenas e diálogos.
Passados 42 anos de seu lançamento, Feliz Aniversário Para Mim ainda pode ser visto com bons olhos. Um bom representante do período, com ousadia e um final pessimista, e que poderia brigar feio com outras obras lançadas em 1981 e que são muito mais bem quistas pelos fãs de slashers. Se tiver interesse em conhecê-lo, o filme foi lançado em VHS pela LK-Tel Vídeo, mas também pode ser encontrado em DVD pela Versátil no Box Slashers II, ao lado de duas outras produções desse ano, Dia dos Namorados Macabro e Noite Infernal, além do conhecido The Slumber Party Massacre (1982), como O Massacre. Vale a pena conferir esse longo slasher – com 1h50 -, com uma boa reviravolta e um estilo similar aos gialli (mistério, luvas pretas, navalha…).
Diria que é um dos slashers mais estranhos da leva de 81 e de todos os anos 80 (e isso é um grande elogio): o roteiro é meio elusivo e até confuso, fazendo de vários personagens candidatos a assassinos; mas essa confusão acaba por jogar a favor do filme e vira qualidade (ah, slashers dos anos 80!…) o elemento do conflito social, os ricos que desprezam os pobres e até quando este se tornam novos-ricos, não lembro de nenhum outro filme do gênero com isso, uma peculiaridade que joga muito a favor: um slasher em que conflito social é parte da motivação dos assassinatos! E como dito na sua ótima resenha (como sempre, aliás):está pau a pau com os demais clássicos de 81 do gênero.
O filme é divertido, mas o roteiro peça qdo tenta fazer todo mundo suspeito pra confundir o público.
O final é bem legal mesmo.
Melissa a atriz linda de olhos azuis e a filha mais velha do trio de irmas da classica serie Os Pioneiros.
Assisti esse uma vez e faz muito tempo. Vou tirar um dia pra rever, pois lembro que não gostei muito.
Eu adoro esse filme
Já assisti inúmeras vezes, é um dos meus slashers preferidos 😻
Eu vi esse filme uma vez e realmente gostei. Infelizmente, não encontrei mais, mas irei aproveitar as sugestões e procurar.
Sou fã de slashers e esse filme é um ótimo representante e um dos meus favoritos.