O Mistério da Passagem da Morte
Original:The Dyatlov Pass Incident
Ano:2013•País:EUA, UK, Rússia Direção:Renny Harlin Roteiro:Vikram Weet Produção:Marina Bespalov, Sergei Bespalov, Renny Harlin, Kia Jam, Sergey Melkumov, Alexander Rodnyansky Elenco:Holly Goss, Matt Stokoe, Luke Albright, Ryan Hawley, Gemma Atkinson, Nikolay Butenin, Sergei Lobanov, Richard Alan Reid |
Um fato estranho ocorrido em 1959 está entre os maiores mistérios da modernidade. Sabe-se muito a respeito do incidente pelo total de registros; sabe-se pouco pelas múltiplas explicações e teorias. Nove aventureiros soviéticos fizeram uma expedição ao norte dos Montes Urais na União Soviética, um ambiente envolto em camadas densas de neve e baixíssima temperatura. Nenhum deles sobreviveu, tendo seus corpos encontrados em fevereiro e maio desse mesmo ano. Apesar dos constantes registros com câmera fotográfica e diários do percurso, não se sabe exatamente o que teria ocasionado algumas das mortes e nem porque estariam tão distantes de suas tendas. As condições dos corpos (poucas roupas, descalços, expressão de horror, traumas físicos, ausência de olhos, sobrancelhas e língua…) e alguns detalhes bizarros (avistamento de luzes no céu, roupas com vestígios de radiação…) somente ampliaram o tom macabro do episódio. Culpa do governo soviético, testes nucleares no local, alienígenas, Yeti, vítimas dos nativos, loucura pela condição climática, avalanche… são muitas as possibilidades, o que permite que o cinema de horror possa escalar livremente seus argumentos na composição de enredos assustadores e fantásticos.
Uma dessas liberdades criativas podem ser conferidas no interessante longa, em formato found footage, O Mistério da Passagem da Morte (The Dyatlov Pass Incident aka Devil’s Pass, 2013), dirigido por Renny Harlin, atualmente disponível no Prime. O cineasta, antes de desenvolver a produção, esteve pessoalmente em Moscou, pesquisou registros do governo para desenvolver uma ideia própria, sem fundamentos, apenas explorando teorias de conspiração ainda mais perturbadoras. O roteiro foi escrito por Vikram Weet, seguindo o estilo da fórmula que ganhou corpo com A Bruxa de Blair (1999) e depois teria notoriedade com [REC] e Atividade Paranormal.
Na trama, cinco estudantes universitários de Oregon decidem refazer o trajeto que culminou com as mortes misteriosas em 1959, registrando no formato de um documentário de investigação. Holly (Holly Goss) comanda as ações ao lado de Jensen (Matt Stokoe), com assessoria da técnica de som Denise (Gemma Atkinson), e dos experientes alpinistas J.P. (Luke Albright) e Andy (Ryan Hawley). Noticiários após a apresentação das personagens indicam que os estudantes desapareceram no trajeto, mas que registros de filmagem foram encontrados (letreiro clássico dos found footages), sem que o governo russo tenha interesse em divulgá-los publicamente. No entanto, hackers invadiram o sistema e divulgaram em um site o que teria acontecido.
Nas gravações, assim que chegam à Rússia, os estudantes inicialmente tentam contato com Yuri Yefimovich Yudin, que seria o décimo aventureiro de 1959, mas que desistiu devido a problemas de saúde envolvendo dores nas articulações – curiosamente, ele faleceu no ano do lançamento do filme, em abril de 2013, aos 75 anos. Em O Mistério da Passagem da Morte, ele está hospitalizado devido a um colapso nervoso, mantido sob proteção russa, e apenas aparece na janela com uma placa posteriormente traduzida como “Fiquem Longe“. Antes de iniciarem o trajeto, o grupo consegue uma carona de Sergei (Nikolay Butenin), que ainda apresenta sua tia Alya (Nelly Nielsen), que fez parte do primeiro grupo de resgate em fevereiro de 1959. Ela traz uma informação não relacionada aos fatos: foram encontrados 11 corpos e não 9, como foi noticiado.
Os estudantes partem em sua jornada investigativa, recriando o caminho originalmente feito e reforçando teorias de que poderiam ter o envolvimento de alienígenas e do governo soviético. Falam até sobre uma possível ação psicológica conhecida como “nudez paradoxal“, quando pessoas em situação de temperaturas extremas sentem o oposto, como calor excessivo ou frio, o que justificaria as poucas roupas de algumas das vítimas do incidente; e teorizam sobre as luzes laranjas vistas no céu serem sinalizadores como pedido de resgate. Enquanto documentam a expedição, além de serem atormentados por sons estranhos nas proximidades, alguns sinais de interferência ajudam o espectador a perceber movimentações ao fundo, com evidências de estarem sendo observados.
O Mistério da Passagem da Morte funciona bem até em sua proposta “bruxa de blair“, instigando o público na mesma proporção que o envolve em arrepios. Depois que “a bruxa” é deixada de lado para se aproximar de [REC], o longa parte para o nonsense, com relação até mesmo a outros mistérios, como o “experimento da Filadélfia“, e extrapolando nos efeitos especiais digitais. Enquanto trabalhava com sons, aparições ao fundo, ambientes pouco iluminados, Renny Harlin acertava a mão em absoluto, o que poderia figurar sua produção entre os destaques do subgênero. Foram os excessos que diminuíram um pouco dos méritos do filme, até porque muitas pessoas não entenderam a confusão proposta ou não abraçaram a ideia maluca.
De todo modo, o longa serviu como entretenimento no estilo e também despertou o interesse pelo mistério. Harlin trouxe um olhar americano para o episódio, passando por teorias – até mesmo a do Yeti não foi deixada de lado – e apresentando sua própria visão para o acontecimento. Mais de dez anos após o lançamento, O Mistério da Passagem da Morte ainda vale uma espiada, principalmente com vista nos novos detalhes e pesquisas recentes sobre o incidente. E permite boas reflexões e estudos sobre a Guerra Fria e o contexto político envolvido.
Filme bem mediano
Essa história intrigante merecia um filme melhor,mas dá pra assistir
Só é esquecível