A Seita (1999)

4.9
(8)

A Seita
Original:Los Sin Nombre
Ano:1999•País:Espanha
Direção:Jaume Balagueró
Roteiro:Jaume Balagueró, Ramsey Campbell
Produção:Jaume Balagueró
Elenco:Emma Vilarasau, Karra Elejalde, Tristán Ulloa, Toni Sevilla, Brendan Price, Jordi Dauder, Isabel Ampudia

Laudos de uma perícia indicam que o corpo mutilado de uma garotinha, encontrado em um tonel de água, é a filha desaparecida de Claudia. No entanto, cinco anos depois, ela recebe a ligação de uma jovem desesperada, afirmando ser sua filha e pedindo ajuda, pois será morta. Contando com um ex-policial e um repórter, Claudia inicia uma investigação perigosa que a levará ao encontro de uma seita chamada “Os Sem-nome”.

A Seita é o longa-metragem de estreia do espanhol Jaume Balagueró (cineasta que ficaria muito conhecido entre os fãs do gênero 8 anos depois, ao lado de Paco Plaza, com o impressionante [REC]). Curiosamente, seus 2 primeiros trabalhos (A Seita e A Sétima Vítima, 2002) abordam, mesmo que de perspectivas diferentes, o mesmo tema: seitas diabólicas. Em The Nameless (título adotado internacionalmente, ou se preferirem, Los Sin Nombre, original em espanhol), o próprio Balagueró constrói o promissor roteiro, adaptado da história original do escritor britânico Ramsey Campbell (especialista em ficção de horror, que teve outra obra levada aos cinemas: O Segundo Nome, dirigido por Paco Plaza em 2002). A perspicácia do roteiro está em sua construção, onde o entendimento do enredo é assimilado por informações distribuídas em doses discretas e também pelo que não é contado. Chama atenção (e deve agradar alguns e desagradar outros) o desfecho, desconcertante e pessimista.

Jaume Balagueró exibiu pela primeira vez A Seita no Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha (mais conhecido como Festival de Sitges) em 8 de outubro de 1999, onde recebeu os prêmios de Melhor Fotografia e Melhor Atriz para Emma Vilarasau. Continuou colecionando premiações em outras mostras e festivais, como Melhor Filme Estrangeiro no Festival de Cinema Fantasia (Canadá), Melhor Filme no Fantafestival (Itália) e Festival de Cinema Fantástico de Bruxelas (Bélgica), Direção e Escolha da Crítica no Fantasporto (Portugal). A Seita estreou nos cinemas espanhóis em outubro do mesmo ano e é considerado um sucesso comercial, já que com um orçamento aproximado de US$ 900 mil superou os US$ 3,9 milhões em bilheteria ao redor do mundo. A Miramax comprou os direitos de distribuição em solo americano, mas só foi lançar o longa em vídeo 6 anos depois, em 2005. Para o leitor que está se perguntando, infelizmente, A Seita não se encontra disponível no catálogo de nenhuma plataforma de streaming no Brasil, pelo menos enquanto este texto é escrito.

Um destaque positivo é a fotografia de Xavi Giménez e Albert Carreras, por estabelecer uma sensação constante e incômoda de melancolia. A paleta de cores desgastada em azuis e cinza espelham o vazio e a falta de sentido na vida de uma mãe que perdeu sua filha. A intencionalidade desta escolha de cores fica evidenciada pelo contraste quando antigos filmes caseiros são mostrados, em cores vibrantes e alegres, numa inversão do flashback clássico em preto-e-branco. Esta atmosfera sombria e triste é potencializada pela trilha sonora, uma partitura em piano, tão pesarosa quanto poderia se esperar em tal contexto.

O elenco tem uma performance competente, com destaque especial para Emma Vilarasau (atriz catalã pouco conhecida fora do território espanhol) interpretando a protagonista Claudia, uma mãe atormentada e viciada em entorpecentes, motivada pela esperança de reescrever uma tragédia do passado.

Com A Seita, Jaume Balagueró se apresenta ao mundo e junta-se a um grupo de cineastas que reforçaria nos anos seguintes a reputação de qualidade alcançada pelo cinema fantástico falado em espanhol. Parte deste grupo, de incontestável contribuição para o gênero, estão o chileno Alejandro Amenábar (TesisPreso na Escuridão e Os Outros), os espanhóis Álex de la Iglesia (Ação Mutante, O Dia da Besta e A Comunidade) e Paco Plaza (Verônica: Jogo Sobrenatural), além do mexicano Guillermo Del Toro (Cronos, Mutação e O Labirinto do Fauno).

Concluindo, apesar do final ambíguo que pode desagradar alguns, A Seita é uma produção que se impõe em sua narrativa misteriosa e é indicado para o espectador que busca uma experiência fora do formato mais standard das produções americanas. Não espere ação desenfreada ou sangue jorrando pela tela e poderá apreciar um terror inteligente e extremamente atmosférico.

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

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