A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes
Original:Dr. Phibes Rises Again
Ano:1972•País:UK Direção:Robert Fuest Roteiro:Robert Fuest, Robert Blees Produção:Louis M. Heyward Elenco:Vincent Price, Robert Quarry, Valli Kemp, Peter Cushing, Beryl Reid, Terry-Thomas, Peter Jeffrey, Fiona Lewis, Hugh Griffith, John Cater, Gerald Sim, Lewis Fiander, John Thaw, Keith Buckley, Milton Reid |
Na galeria de personagens intrigantes de Vincent Price, Dr. Anton Phibes possui uma certa notoriedade. Foi a única vez que o lendário ator aceitou reprisar um papel, desde que a AIP considerasse as condições propostas. Embora não reflita nas bilheterias durante boa parte de sua filmografia, Price aumentou seu salário para assumir mais uma vez o assassino vingativo, o que levou o estúdio a buscar um substituto para o papel. Robert Quarry já estava sendo preparado para viver o vilão, quando Price optou por reencarná-lo: essa situação ocasionou uma tensão entre os dois atores, beneficiando o antagonismo de Quarry, que passou a interpretar Darius Biederbeck, um concorrente de Dr. Phibes pela fonte mágica do Egito.
Lançado um ano antes, O Abominável Dr. Phibes (The Abominable Dr. Phibes) apresentava ao cinema o interessante vilão Dr. Phibes, um famoso organista dado como morto em um acidente de carro na Suíça em 1921. Deformado pela gravidade do acidente, ele tentou salvar sua esposa Victoria (Caroline Munro em papel estático), mas a equipe médica só conseguiu mantê-la viva por mais seis minutos. Em 1925, já residente em Londres, Dr. Phibes reconstrói sua face com próteses, enquanto utiliza um sistema de acústica para voltar a falar numa entrada em seu pescoço, elaborando um terrível plano de vingança contra os médicos com o apoio de sua assistente – intrigante e silenciosa – Vulnavia (Virgínia Norte), para fazer uso das Dez Pragas do Egito na confecção de uma série de assassinatos.
As mortes chamam a atenção da Scotland Yard, com o desengonçado Inspetor Trout (Peter Jeffrey) notando algo em comum: todas as vítimas faziam parte da equipe médica do Dr. Vesalius (Joseph Cotten), que realizou as tentativas de reanimação de Victoria. Enquanto isso, Dr. Phibes orquestra seus assassinatos, em um baile de vingança e poesia, remetendo ao Fantasma da Ópera. A engenhosidade de seus atos, com o uso de suas criações técnicas e científicas, serviu de inspiração, por exemplo, para o desenvolvimento de JigSaw, da franquia Jogos Mortais. Em um deles, ele deixou a chave que liberta um garoto de uma maca próxima ao coração dele, obrigando seu pai a realizar um procedimento cirúrgico antes de seis minutos para impedir que ele seja banhado por ácido.
Com toques de humor – a morte com o unicórnio é uma das mais divertidas -, O Abominável Dr.Phibes não foi tão bem aceito pela crítica, mas empolgou a AIP por uma continuidade. Dr. Phibes Rises Again foi lançado um ano depois, resgatando não somente Vincent Price como também o Inspetor Trout (novamente Peter Jeffrey) e o superintendente Waverley (John Cater), além de Hugh Griffith e Terry-Thomas, em papéis diferentes. Apesar de Vulnavia ter morrido no anterior, ela retorna, desta vez na pele de Valli Kemp. Seu papel mudo deixa dúvidas sobre sua existência: seria uma entidade que estaria auxiliando Dr. Phibes em suas ações? Caroline Munro também reaparece novamente como a morta Victoria; e ainda há uma ponta ilustre do lendário Peter Cushing!
Se Dr. Phibes concluiu sua vingança, o que ele estaria buscando desta vez? Três anos após seu descanso em animação suspensa, ele retorna na ocasião em que a Lua entrará em alinhamento com planetas, um evento que só ocorreu antes 2000 anos atrás. Dr. Phibes acredita que se levar o corpo de sua amada ao Rio da Vida, no Egito, ela não somente retornará como também ambos terão vida eterna. Mas o mapa em um papiro para o local está sob os cuidados de Darius Biederbeck, que tem utilizado um elixir para se manter vivo por séculos. Assim como Phibes, ele planeja utilizar o Rio para continuar vivo, assim como sua esposa Diana (Fiona Lewis). O assassino invade a casa de Darius, assassina seu empregado e resgata o papiro, partindo para Southampton onde partirão de navio.
Com Darius em sua cola, Dr. Phibes se vê obrigado a agir contra seu assistente Ambrose, colocando-o numa garrafa gigante. Ao encontrar o corpo e saber sobre os ocupantes do navio e o destino, o inspetor Trout segue também para o Egito, imaginando se tratar do assassino desaparecido. É lá, filmado na Espanha pelos custos, que Dr. Phibes entrará em sua “câmara de horrores“, um ambiente dentro de um templo que lembra bastante seu esconderijo, incluindo a banda de bonecos. Enquanto Dr. Phibes mantém a chave que acessa o Rio da Vida sob proteção, aos poucos ele elimina quem se aproxima, mais uma vez fazendo uso de criatividade nos assassinatos, entre discursos poéticos.
Um papel como Dr. Anton Phibes permite a compreensão de todo o talento de Vincent Price. Sem mover o maxilar, ele expressa suas falas dubladas com a movimentação do corpo e de seu olhar. Ainda que seja o vilão, é difícil que o espectador não crie empatia pelo personagem, torcendo contra seu antagonista. Robert Quarry também está bem no papel, convencendo-nos através de suas ambições e sua paixão por Diana. A trama sobre a busca da vida eterna, desenvolvida por Robert Blees e Robert Fuest, provavelmente inspirou o longa Indiana Jones e a Última Cruzada, até mesmo na necessidade de decifrar enigmas e o destino de um dos vilões.
Com a boa direção novamente de Robert Fuest, A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes (também conhecido como A Volta do Dr. Phibes) é um pouco inferior ao primeiro filme, que tinha muito mais criatividade nas ações de Dr. Phibes. É preciso relevar muitas das situações propostas, incluindo o modo como Dr. Phibes viajou para o Egito com um caixão, um órgão e uma banda de bonecos, assim como as cenas cômicas envolvendo o inspetor atrapalhado sempre distante do inimigo, mas o longa continua interessante como uma das boas sequências do gênero, na reapresentação de um vilão carismático e inteligente.
Ainda não assisti os filmes do Dr. Phibes, já esta na hora de tomar vergonha na cara e assistir.