Corpos
Original:Bodies
Ano:2023•País:UK Direção:Marco Kreuzpaintner, Haolu Wang Roteiro:Danusia Samal, Si Spencer, Paul Tomalin Produção:Sophie MacClancy Elenco:Amaka Okafor, Kyle Soller, Shira Haas, Jacob Fortune-Lloyd, Tom Mothersdale, Greta Scacchi, Stephen Graham, Synnove Karlsen, George Parker, Michael Jibson, Nicholas Farrell |
Em 1890, o policial Alfred Hillinghead (Kyle Soller) encontra num beco londrino o corpo de um homem nu baleado no olho.
Em 1941, o policial Charles Whiteman (Jacob Fortune-Lloyd) encontra num beco londrino o corpo de um homem nu baleado no olho.
Em 2023, a policial Shahara Hasan (Amaka Okafor) encontra num beco londrino o corpo de um homem nu baleado no olho.
Em 2053, a policial Iris Maplewood (Shira Haas) encontra num beco londrino o corpo de um homem nu baleado no olho. Mas este último guarda uma surpresa…
Essa série inglesa da Netflix é uma das gratas surpresas desse streaming, baseada numa HQ de Si Spencer, onde fica claro desde o início tratar-se de uma ficção científica de viagem no tempo utilizando um curioso loop temporal, com um intrigante mistério, que certamente agradará as viúvas e viúvos de Dark (2017-2020) e também até quem, como eu, não gostou da sisuda série alemã.
Aqui o tom é de investigação policial, com esses policiais dessas quatro linhas do tempo perscrutando esse crime, apresentando uma trama complexa, mas totalmente inteligível, além de personagens extremamente cativantes. Esse é um mérito do roteiro: torna os quatro protagonistas interessantes, com seus próprios problemas e dramas pessoais, que se fundem a boa trama com maestria. Um ponto fraco que poderá desagradar alguns é uma solução um tanto piegas ao final, mas que não desmerece todo o trabalho efetuado até então.
Ainda sobre a trama, além da bem urdida espinha dorsal, há discussões sociais pertinentes e perfeitamente embaladas ao contexto, como preconceito, doutrinação, extremismo e sexualidade.
A ambientação das épocas e figurinos são também pontos altos, a fotografia e iluminação deixam bem claras as ações que se passam em cada época e os atores são aqueles que mantêm o alto padrão britânico de interpretação.
A série ainda se vale do seu misterioso argumento e cria um sinistro bordão “Saiba que você é amado”, que está longe de ser aplicado em seu verdadeiro significado pois, ao contrário, serve a um ideário extremista que nos lembra vários momentos da história para justificar os atos mais escabrosos do ser humano, tal qual “O trabalho liberta” do nazismo até o recente “Deus, pátria e família”, utilizado amplamente para fragilizar a democracia brasileira.
Indo além da simples investigação policial, ao final todas as conexões entre os quatro núcleos são bem desenvolvidas e resolvidas, trazendo um merecido frescor ao tema de viagens no tempo.
A cena final deixa uma pequena brecha para continuação, mas mesmo que não ocorra, os oito episódios já se bastam e fecham o ciclo perfeitamente, encerrando a trajetória de todos os personagens.
Que tal esse “Em defesa do Estado democrático de direito”? Ou “O amor venceu”?