Força Sinistra
Original:Lifeforce
Ano:1985•País:EUA, UK Direção:Tobe Hooper Roteiro:Colin Wilson, Dan O'Bannon, Don Jakoby, Michael Armstrong, Olaf Pooley Produção:Yoram Globus, Menahem Golan Elenco:Steve Railsback, Mathilda May, Peter Firth, Frank Finlay, Patrick Stewart, Michael Gothard, Nicholas Ball, Aubrey Morris, Nancy Paul, Jerome Willis, Derek Benfield |
Os vampiros espaciais de Tobe Hooper são uma boa representação do cinema-pipoca dos anos 80. Produções como A Hora do Espanto (Fright Night, 1985), A Coisa (The Stuff, 1985), A Volta dos Mortos Vivos (The Return of the Living Dead, 1985), A Noite dos Arrepios (Night of the Creeps, 1986), Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987), A Bolha Assassina (The Blob, 1988) e tantas outras transformaram o Cinema em um palco de absoluto entretenimento, explorando criatividade e excelentes efeitos práticos. Contudo, esse filme do diretor de O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 1974) e Poltergeist, o Fenômeno (Poltergeist, 1985), embora tão divertido quanto os demais mencionados neste parágrafo, não foi bem recebido pela crítica e pelo público da época. Vai entender!
Força Sinistra (Lifeforce, 1985) é levemente inspirado (ou tem a essência, como afirmou Hooper) no livro de Colin Wilson, “The Space Vampires“, lançado em 1976. Sofreu várias alterações no roteiro, escrito por Dan O’Bannon (de Alien, o Oitavo Passageiro; Os Mortos Vivos e A Volta dos Mortos Vivos) e Don Jakoby (Aracnofobia; Vampiros de John Carpenter), o que desagradou o autor do livro, considerando-o um dos piores filmes de todos os tempos. Mas as mudanças até que fizeram sentido, como a nave alienígena ter origem no Cometa Halley, que iria passar pela Terra em 1986 e já trazia temores sobre influências na atmosfera, e não no originalmente imaginado cinturão de asteroides.
Também houve mudanças na ambientação: o livro se passa no futuro, diferente do que idealizou Hooper, pensando em algo mais próximo do espectador. Com as alterações, o projeto passou a ser chamado de Lifeforce, aproveitando a forma de alimentação dos vampiros do espaço e também numa tentativa de afastar uma identificação com o evidente Cinema B, algo inevitável. As filmagens aconteceram a partir de 2 de fevereiro de 1984, na Grã-Bretanha, e duraram cerca de 5 semanas, apesar de previsto para 17. O ator Bill Malin, que interpreta um dos vampiros, disse em entrevista que as gravações terminaram antes porque o dinheiro havia acabado, deixando muitas cenas do roteiro de fora.
Primeiro trabalho de Hooper com a Cannon Films, Força Sinistra foi enfim lançado em 21 de junho de 1985, tendo baixo retorno financeiro, arrecadando pouco mais de US$11 milhões de dólares, muito por culpa da estreia no período de Cocoon (1985). Conquistando prêmio no Festival de Sitges pelos ótimos Efeitos Especiais, a cargo de John Dykstra, o longa recebeu críticas negativas por grande parte da imprensa. Foi mais um filme que passou a ser valorizado com o tempo, a partir de exibições na TV, aluguéis de fitas de VHS até o lançamento de uma versão de 116 minutos, com mais cenas envolvendo a exploração espacial.
E é nessa viagem que tem início o filme, mostrando a expedição do ônibus espacial britânico e americano Churchill ao se aproximar do Cometa Halley. Comandado pelo Coronel Tom Carlsen (Steve Railsback), os tripulantes encontram uma nave imensa, com mais de 240 km de comprimento, além de criaturas parecidas com morcegos secos e três corpos humanoides em caixões de vidro. O ônibus recolhe os corpos e um morcego e, no retorno para a Terra, desaparece sem deixar vestígios para o controle da missão. Quando uma nave de resgate se aproxima, encontra a nave espacial incendiada, tripulação morta e uma cápsula de fuga ausente.
“Uma das primeiras definições de cometa vinha do latim e significava ‘estrela maligna’“, anuncia um âncora sobre a apreensão relacionada à passagem do Halley. Conduzidos ao Centro Europeu de Pesquisa Espacial, em Londres, a autópsia pretende analisar o corpo do exemplar fêmea (Mathilda May), inicialmente encantando os homens pela perfeição física. A primeira vítima é um guarda (John Keegan), que, ao tocar no corpo, desperta a vampira de olhos arregalados. Ela o beija, sugando sua força vital, fazendo as luzes piscarem e criando um redemoinho azulado, até que fique a carcaça de seu corpo, com bons efeitos de animatronic.
Ao acompanhar o beijo da vampira, o Doutor Bukovsky (Michael Gothard) corre até o local, passando por várias portas ao estilo Agente 86, para também ser seduzido pelo encontro. O Doutor Fallada (Frank Finlay), o Van Helsing do filme, também vai ao local e encontra apenas Bokovski bastante fraco e o informe da fuga da garota. A segurança até tenta contê-la, mas ela demonstra ter outros poderes, como a capacidade de sufocar um deles, com efeitos de trovão, e sai tranquilamente explodindo as portas de vidro. Chega ao local o Coronel Colin Caine (Peter Firth), da S.A.S., para investigar o ocorrido, coletando depoimentos dos doutores. Os dois outros vampiros também irão despertar, obrigando um confronto com armas de fogo, assim como o guarda drenado no começo, que roubará a força vital de um médico, mostrando que o processo de despertar para a fome começa duas horas após o ataque.
Com a vampira do espaço à solta fazendo vítimas, não apenas sugando toda a força vital mas também desenvolvendo novos vampiros, um último elemento chega para a busca: o Coronel Tom Carlsen foi o astronauta que utilizou a cápsula de fuga da Churchill. Ele explica como precisou incendiar a nave quando os vampiros começaram a atacar os tripulantes, com a intenção de impedir que chegassem à Terra. Com uma ligação muito próxima com a inimiga sobrenatural – depois se descobre que ela fez uso dos desejos libidiosos de Carlsen para ter aquela aparência -, Londres entra em estado apocalíptico, com pessoas sugando e sendo sugadas nas ruas, com um toque de produções de mortos vivos, e semelhanças com Invasores de Corpos (1978). Sem saber em quem confiar, Carlsen, Fallada e Caine, principalmente depois que o Dr. Armstrong (Patrick Stewart) revela ter sido possuído pela vampira, precisam encontrar meios de evitar que o governo utilize bombas para exterminar as criaturas – O’Bannon copiando O’Bannon.
Até mesmo um morcegão animatronic aparece na produção para contribuir para a boa qualidade técnica. O longa perde um pouco de força em seu miolo, quando trabalha em depoimentos e investigação, deixando de lado a ficção científica com elementos de horror. Mas depois volta a resgatar os bons momentos com a sequência em que Fallada revela ter descoberto uma forma de eliminar os vampiros, com o uso de uma espada – para acrescentar referências clássicas à produção – atingindo abaixo do coração. Talvez o filme tivesse uma recepção melhor, se também explorasse o lado civil na batalha, com pessoas comuns enfrentando os monstros, uma vez que a linha narrativa é toda centrada em ações policiais e militares.
Além dos vampiros-zumbis-alienígenas, Força Sinistra tem alguns subplots que chamam a atenção. A transformação de outras pessoas em criaturas que precisam se alimentar da força vital da outra está relacionada a algumas teses sobre energização e vampirismo nos dias atuais, sobre o quanto o trabalho e pessoas podem “tirar a nossa energia vital“. E pode-se estabelecer um paralelo com doenças sexualmente transmissíveis como a AIDS, em um medo crescente na época, pelo fato dos vampiros precisarem tocar intimamente em suas vítimas, mostrando os riscos de seguir seus instintos carnais sem se preocupar com as consequências.
Trata-se de um filme B com todos os elementos que tornam o cinema fantástico tão interessante. Assim, fica realmente difícil entender por que Força Sinistra foi tão mal tratado em seu lançamento para depois alcançar o status de cult. Hooper, apesar do nome estar nos créditos de Poltergeist, o Fenômeno, continuaria abraçando o estilo nos anos seguintes, fazendo Invasores de Marte (Invaders from Mars, 1986) e o terrível e também cultuado O Massacre da Serra Elétrica 2 (The Texas Chainsaw Massacre 2, 1986). Com o passar dos anos, produções divertidas como Força Sinistra se tornaram mais raras, com poucas exceções voltadas para o entretenimento bagaceira.
Filmaço e recomendo também injustiçado na época o “O Enigma de Outro Mundo”