Alice no País das Trevas (2023)

4.8
(5)

Alice no País das Trevas
Original:Alice in Terrorland
Ano:2023•País:UK
Direção:Richard John Taylor
Roteiro:Richard John Taylor
Produção:Richard John Taylor
Elenco:Rula Lenska, Lizzy Willis, Jon-Paul Gates, Nigel Troup, Steve Wraith

Depois de sobreviver a um incêndio onde perdeu os pais, a jovem Alice (Lizzy Willis) vai morar com sua avó Beth (Rula Lenska) na mansão antiga da família. Ainda abalada emocionalmente pela sua perda recente, Alice começa a se adaptar a sua nova vida e descobre que a casa ancestral, afastada e longe de tudo, na verdade foi a inspiração para o escritor Lewis Carroll escrever o livro Alice no País das Maravilhas. Mas há algo de estranho e maligno na casa.

Alice no País das Trevas não é uma versão do livro de Carroll, mas uma história de terror psicológico que usa e apresenta elementos conhecidos, na forma de sequências perturbadoras que podem ou não ser de pesadelos ou coisas bem ruins que estão acontecendo com a protagonista. O roteiro também coloca várias falas do livro encaixadas nas cenas, que podem ou não estar revelando o que (ou quem) está por trás da estranheza que paira sobre o lugar.

O diretor Richard John Taylor (que também é o responsável pelo roteiro) cria uma atmosfera pesada e sombria desde as primeiras cenas, não apenas na estética, mas no conteúdo. Afinal, Alice acabou de perder sua família de forma terrível e brusca, e tem um sentimento de culpa enorme – ela poderia ter evitado? Se ela estivesse em casa mais cedo poderia ter ajudado? (aliás, onde ela estava?). Visivelmente abalada e desorientada, ela tem que morar com uma avó da qual pouco sabia, e que parece, à primeira vista, uma pessoa um tanto assustadora.

A casa também é praticamente um personagem passivo da história, sempre escura e sombria, difícil de entender e compreender, com barulhos estranhos, numa aparência decadente, suja e mal cuidada, que por vezes fica difícil de imaginar que uma pessoa esteja mesmo morando ali. Tudo é muito escuro e sombrio (propositalmente).

A produção é simples e de baixo orçamento, o que é nítido, mas isso não impediu o diretor de conseguir colocar elementos surreais na história, ao mesmo tempo em que mantém o relativo realismo. Alice não desce literalmente pelo buraco do coelho para chegar no País das Maravilhas, mas encontra alguns de seus personagens e versões pra lá de distorcidas, em situações bizarras, com um peso no assustador e no terrível. É o surreal para o normal, ainda que não seja tão estranho e colorido como poderia se esperar. Não é engraçado, é perturbador.

A história original já coloca a protagonista em situações que beiravam o terror, assim como os personagens estranhos que ela encontrava. Aqui neste filme, não é muito diferente, apenas pesa-se a mão para o lado do terror. Um bom exemplo é o Chapeleiro Maluco (interpretado por Jon-Paul Gates), que não é bacana ou sexy ou amigo de Alice, como em outras produções, mas alguém que assusta e incomoda, que perturba ao fornecer (ou não) informações ou perguntas de veracidade questionável. Outro bom exemplo é a “lagarta” que não é uma lagarta, mas cujos diálogos, originalmente estranhos e sem sentido, têm um tom bastante diferente e carregados, mesmo sendo quase que as mesmas palavras do livro.

Em alguns momentos, Alice no País das Trevas pode parecer meio confuso, com sequências e subtramas que parecem não levar a lugar algum ou não contribuir para a trama, mas isso é proposital. A ideia é passar parte do estado febril e de pesadelo da protagonista para o espectador, passar o medo do que pode acontecer… para que em seguida seja substituído pela incerteza e insegurança de outra sequência que contraria a anterior. Alice pode estar ficando maluca, ou todos ali serem malucos. Ou algo pior.

A experiência geral do filme é a de um pesadelo pernicioso, sombrio e nebuloso, daqueles que fazem você ficar achando que está acordado, mas ainda está no pesadelo, mesmo depois de achar que ele acabou. E mesmo quando acaba (ou acorda), fica se perguntando se aquilo aconteceu mesmo, ou se foi sua imaginação.

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Rogerio Saladino

Rogerio Saladino é escritor, jornalista, editor, tradutor e autor, atuando nas áreas de quadrinhos, literatura, RPG e cultura pop. Um entusiasta do terror em todas suas formas e, inexplicavelmente, adora a série Puppetmaster, mesmo consciente da sua qualidade duvidosa.

One thought on “Alice no País das Trevas (2023)

  • 24/03/2024 em 22:36
    Permalink

    Existe um jogo chamado American McGee’s Alice, lançado em 2000, cuja a história é quase igual a esta: A personagem perde os pais e a irmã em um incêndio e vai parar num manicômio depois de tentar tirar a própria vida. Após ser internada, ela recebe a visita do Coelho Branco, que a faz voltar para o país das maravilhas, que se transformou em um lugar caótico e de trevas, e ela precisa reverte-lo para o mundo encantado que ele era. O visual da protagonista é diferente (morena, vestido azul-escuro e olhos verdes), dos outros personagens também, e ela também usa uma faca. Dá pra ver de onde este filme tirou tanta inspiração, mas o jogo é infinitamente melhor como uma adaptação de terror do conto!

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