Neon Maniacs
Original:Neon Maniacs
Ano:1986•País:EUA Direção:Joseph Mangine Roteiro:Mark Patrick Carducci Produção:Chris Arnold, Steven D. Mackler Elenco:Clyde Hayes, Leilani Sarelle, Donna Locke, Victor Brandt, David Muir, Marta Kober, P.R. Paul, Jeff Tyler, Amber Denyse Austin, James Acheson, Chuck Hemingway, Jessie Lawrence Ferguson, John Lafayette |
O texto contém spoilers
Apesar de eu ter sido muito pequeno para ter aproveitado os anos 80 com plenitude, olhando um pouco para o passado, é um tempo que deixa saudades, principalmente porque foi uma época que até os filmes ruins tinham seu charme e eram interessantes e imaginativos. Pode ser a nostalgia de tempos idos batendo, mas é de se pensar com certo pesar que filmes toscos, mal feitos e cheios de furos de roteiro, mas muito divertidos e despretensiosos como Neon Maniacs, sejam tão raros nos dias de hoje.
Pra começo de conversa o título já é um mérito, simplesmente genial, que a distribuidora brasileira fez muito bem em não traduzir (foi lançado em um raro VHS pela finada distribuidora LMP) ou pior, ficar inventando moda como às vezes acontece. Em segundo lugar, o roteiro escrito por Mark Patrick Carducci é uma mera desculpa para mostrar os maníacos em cena, matando e perseguindo o elenco, portanto não procure nada mais profundo que uma colher nele sob o risco de quebrar a cara violentamente. Só que a sacada – que torna válido o tempo que você vai ficar na frente da tela – é justamente ser descompromissado, uma diversão rasteira e esquecível e com todo aquele climão oitentista, cheirando a naftalina, que admira tanta gente. Virou um “guilty pleasure” instantâneo pra mim, mas sem sombra de dúvida tem muito mais potencial para ser odiado do que admirado, como veremos mais adiante.
Na cidade de San Francisco, Califórnia, um homem pesca sob a famosa ponte Golden Gate, porém no trajeto de volta para casa encontra um crânio de boi e dentro dele umas figuras – como se fossem aqueles cartões de baseball populares entre os americanos, só que ao invés de jogadores, estão retratados monstros – no exato momento em que um machado misterioso se ergue e mata o sujeito. Quer dizer, um show de nonsense logo no começo, já que a pessoa age como se fosse comum encontrar carcaças de bovinos com fotos de monstros dentro. E antes que alguém me pergunte, os cartões não tem nada a ver com a vinda dos maníacos do neon para o nosso mundo (ou qualquer outro motivo aparente), e logo em seguida se desenrolam os créditos iniciais. A música composta por Kendall Schmidt que toca aqui (uma baladinha chulé feita em um sintetizador) merece nota, porque está tão deslocada que parece mais a introdução de um pornô do que um filme de terror, mas como faltarão números para enumerar as incoerências neste filme, tomarei a liberdade de apontar apenas as mais grosseiras.
Natalie (Leilani Sarelle, de Instinto Selvagem) está saindo com um grupo de amigos para um parque próximo da ponte para comemorar o seu aniversário – seus nomes não são importantes já que eles morrerão nos próximos 10 minutos, assim como boa parte do elenco secundário – e enquanto isso Steven (Clyde Hayes, de Sexta-Feira 13 – Parte 4) faz uma corrida com seu cachorro Elvis. O grupo resolve parar para comprar algumas cervejas e o cachorro de Steve acaba pulando dentro da van, no colo de Natalie. Rola um clima e um diálogo muito canastrão entre os dois e o pessoal segue para seu destino.
Então conhecemos Paula (Donna Locke em seu primeiro e único papel no cinema), uma garota que faz filmes amadores de terror, mora com seus pais em Amityville (acredite!) e, além disso, a decoração de seu quarto é composta de máscaras de monstros e um pôster de Blade Runner, ou seja, uma ótima pretendente… Mas voltando à festinha, o grupo está no tal parque e os casais se separam para ficarem mais “à vontade“. Alguns ficam apenas jogando bola, ao passo que Natalie e uma amiga conversam na van. Na conversa descobrimos que Natalie ainda é virgem e rompeu com seu namorado Todd (não pergunte quem é, ele simplesmente não aparece no filme). A amiga sai e neste momento os ‘maníacos de neon‘ aparecem. Sobre os maníacos, nenhum deles tem alguma coisa a ver com neon em si, sendo realmente apenas uma maneira de deixar o título mais legal. Cada um dos monstros é de uma espécie diferente: motoqueiro, samurai, macaco, médico, soldado… Como uma vez eu li em alguma crítica por aí: “uma mistura dos cenobitas de Hellraiser com o grupo Village People“; a única diferença prática entre cada tipo de monstro é a maneira com que matam as pessoas.
O grupo de monstros vai chacinando os amigos (com direito a uma cabeça decepada durante uma sessão de sexo oral que é pra cair na gargalhada) deixando a virgenzinha Natalie por último, claro. Os maníacos avançam sobre a garota, mas a ameaça de uma tempestade faz com que os monstros fujam. Aliás, Natalie tem sorte de que os bichos não sabem abrir portas, já que alguns policiais aparecem em seguida e entram na van com a maior moleza. Ela então é levada para a delegacia e no depoimento a garota assustada relata todos os eventos ocorridos há pouco. Os investigadores desconfiam da veracidade da história, mas mesmo em se tratando de uma suspeita de assassinato, o tenente Devon (Victor Brandt) resolve esperar até o amanhecer (!!) para ir ao local.
Nossa repentina ‘final girl‘, que não sabe em que país está Roma (é ver para crer), volta para casa e resolve entrar na piscina, no entanto um dos maníacos está atrás dela, só que o bicho não pode entrar para pegá-la porque, adiantando uma informação que só ficaremos sabendo mais tarde, derrete em contato com a água. Amanhece e os policiais incompetentes finalmente vão investigar a cena do crime – mas a chuva do dia anterior lavou toda e qualquer evidência que pudesse estar no local – e acabaram encontrando apenas uma meleca verde espalhada por toda parte.
Natalie vai para a escola naturalmente, como se o que aconteceu na noite anterior não fosse traumatizante para, pelo menos, tirar um dia de folga, e é abordada por Paula que, por intermédio de um amigo cujo pai é policial, fica sabendo da história da garota e se interessa por ela. Natalie está muito perturbada e não dá bola, inclusive porque está sendo pressionada pelos familiares dos outros garotos mortos, mas Paula não é do tipo que desiste tão fácil.
Mais tarde, por uma destas coincidências que só acontecem nos filmes, Steven vai entregar compras na casa de Natalie e aproveita a situação para filar uma cerveja e convidá-la para o cinema. A garota, que não deve ter nada melhor para fazer mesmo, aceita. Enquanto isso Paula continua investigando por si só, seguindo as pegadas de gosma verde que levam até um portão sob a ponte Golden Gate, porém a presença de policiais no local (o que raios eles estão fazendo lá??) faz com que a garotinha retorne para casa. Anoitece e ela resolve voltar para a ponte, agora munida de sua supercâmera VHS com visão noturna (?!). Os policiais, que continuavam lá (até agora fazendo o quê??), são mortos pelos monstros e Paula consegue gravar imagens dos maníacos, descobrindo a fraqueza que têm pela água, pois chove e os monstros se recolhem. A câmera dela também deve ter aversão à água ou o líquido tem efeitos magnéticos, pois a fita em que Paula gravou a situação acaba perdendo toda a imagem.
Steven leva Natalie para o cinema usando o metrô. A propósito, o metrô de San Francisco está tão limpo e vazio como se estivesse para ser inaugurado… De qualquer maneira, os maníacos perseguem o casal pelos corredores do trem, só que ele convenientemente possui uma espécie de dispositivo antimonstro que é acionado assim que os dois estão encurralados (?!) e a perseguição sobe para as ruas. Agora ocorre uma cena de destaque: Steven e Natalie entram em um ônibus e um dos maníacos consegue agarrar o rapaz pela janela, Natalie então consegue decepar o braço do monstro, que solta muito vapor, e ele joga o membro de volta para a rua, com gritos e muito barulho, é claro, e sabe o que o motorista do ônibus diz? – “Não sabem ler? É proibido fumar!”
A casa de Paula é invadida por um dos monstros, só que a esperta garotinha guarda uma pistola de água debaixo do travesseiro e dá um banho no bicho, que se desfaz em uma gosma nojenta. No outro dia, ela vai ao encontro de Natalie e junto com Steven, planejam uma maneira para acabar de vez com os monstros: durante o concurso de bandas a noite: eles darão um revólver de água para cada convidado e molharão os monstros assim que aparecerem. Espertos, não? Será que eles não conhecem mangueiras e baldes? Mas mais legal ainda é a explicação de Steven para o público na festa: “Se estão imaginando o por quê dos revólveres, é que hoje estamos planejando cozinhar…”. Sem comentários.
E previsivelmente os maníacos aparecem na data e local combinados, só que o plano dos jovens vai por água abaixo quando um dos monstros armado com um rifle carregado entra metendo bala no salão causando pânico na plateia. A propósito, os mais de 50 tiros disparados não acertam ninguém. E agora o trio de heróis terão que se virar sozinhos contra os sádicos monstros e o incrédulo tenente Devon.
Claro que entre uma perseguição e outra sobra tempo até para Natalie perder a virgindade. Também não deixa de ser hilário ver os policiais todos armados com pistolas de plástico que atiram água. A conclusão tenta dar um ar sério, com aquele gancho típico para uma continuação que nunca foi feita (e dá para entender porque), mas seria melhor que a história tivesse um desfecho tão descontraído como o restante do filme.
Neon Maniacs é tão somente um filme de baixo orçamento, com um péssimo roteiro, atuações canastras e efeitos baratos, em uma palavra: imperdível. Falando sério, as situações e soluções soam tão falsas e tão cheias de incoerências que qualquer pessoa com um mínimo de senso crítico acharia péssimo, deixando no ar muitas perguntas elementares: de onde vêm os monstros? Se eles não gostam de água, por que vivem tão perto de um rio? Por que eles perseguiam só Natalie e seus amigos? Qual o sentido das fotos na introdução do filme? Só para citar as principais. Mas o ponto a favor, que faz a diferença no resultado final, é que a produção assume a tranqueira que é, nunca se levando a sério, tornando-se assim um evento completo para os amantes do cinema tosco.
A maquiagem e o figurino dos monstros são legais, considerando o nível do filme, algumas inclusive até convencem (de longe, é claro). As tiradas cômicas, como quando um cara tenta matar um monstro com fogos de artifício, acabam fatalmente funcionando graças ao inexperiente e exagerado elenco que aparentemente está se divertindo enquanto filma, lembrando até um pouco A Hora do Espanto, um ícone da época.
A direção do desconhecido Joseph Mangine (que por sua vez não comandou mais nada depois disso), assim como a edição de Timothy Snell, são bastante caóticas e não são raras as vezes em que cenas são abruptamente cortadas e passadas de um plano para outro sem nenhum critério, mas não chegam a comprometer. O sangue também não é frequente, valorizando mais as gosmas e outras nojeiras que os bichos soltam quando derretem.
Em contrapartida, existem certos detalhes irritantes que beiram o insuportável até para quem gosta de filmes desta categoria. O primeiro é a trilha incidental de Kendall Schmidt, que é muito ruim e quase sempre toca fora de hora matando qualquer tentativa de criar um clima; a parte final, onde a produção ignora o que foi dito no decorrer do filme e tenta se tornar uma coisa mais séria, perdendo um pouco do impacto descontraído e despreocupado que vinha sendo apresentado. Mas enfim, acertando um pouco e errando um muito, o filme vence por reconhecer suas próprias limitações e se prestar apenas a um fator primordial no cinema, a diversão, mesmo que descerebrada. Um exercício de nostalgia, de tempos bons que não voltam mais…