4.4
(11)

Herege
Original:Heretic
Ano:2024•País:EUA, Canadá
Direção:Scott Beck, Bryan Woods
Roteiro:Scott Beck, Bryan Woods
Produção:Scott Beck, Julia Glausi, Stacey Sher, eanette Volturno, Bryan Woods
Elenco:Hugh Grant, Sophie Thatcher, Chloe East, Topher Grace, Elle Young, Julie Lynn Mortensen, Haylie Hansen, Elle McKinnon, Anesha Bailey

Duas missionárias mórmons visitam um homem recluso com a intenção de apresentar sua crença e convertê-lo à sua igreja, mas acabam descobrindo que o simpático e afável senhor é muito mais perigoso do que aparenta e tem ele próprio uma terrível missão pessoal de conversão.

Herege é o novo filme da dupla de diretores e roteiristas Scott Beck e Bryan Woods, responsáveis pelo roteiro de Um Lugar Silencioso e 65 – Ameaça Pré-Histórica, voltando ao terror psicológico que fazem tão bem e também com uma proposta inicialmente simples e direta, mas que é explorada com maestria.

Logo de cara somos apresentados às duas missionárias, irmã Barnes (Sophie Thatcher) e irmã Paxton (Chloe East), e em poucos instantes já percebemos que Barnes é um pouco mais ligada no mundo fora da igreja, enquanto Paxton, que foi criada na fé, é a mais fiel da dupla. As duas, ao fazer sua rota de visitas a possíveis conversões, acabam parando na casa do Sr. Reed (Hugh Grant), um tanto afastada, ainda dentro da cidade, com aparência de antiga.

A conversa com as duas adolescentes começa num tom um tanto normal e desajeitado, mas logo vai tomando um clima sinistro e com tensão crescente. O Sr. Reed é simpático, atencioso e atento à conversa de conversão, mas tem algumas coisas que estão um tanto fora do lugar e parecem estranhas, até que as duas missionárias decidem que é melhor ir embora… o que não conseguem fazer. A partir daí, a missão de conversão se inverte, e o afável sr. Reed se revela um pesquisador de religiões, um estudioso que dedicou sua vida a entender o conceito de fé e religião a fundo. Até demais.

Começa então um jogo crescentemente assustador de gato e rato, de manipulações e testes terríveis, para as duas jovens confrontarem sua fé e suas crenças ao mesmo tempo que lutam por suas vidas.

Em uma história como esta, que se foca essencialmente em apenas três personagens (certo, tem mais uns personagens, mas são essencialmente cenário), as atuações são importantíssimas, e neste caso, Hugh Grant está perfeito ao interpretar e criar um personagem, um monstro com carisma, profundidade, inteligência a tal grau, que demoramos muito pra se entender que ele é o monstro, que ele passou limites ao fazer o que faz, que entrou numa loucura tão envolvente que quase faz o espectador concordar com ele.

O carisma de Grant, numa atuação incrível e surpreendente (ninguém imaginou que Hugh Grant o faria ter medo dele!) e a excelente construção do vilão da história, é um dos pontos mais fortes do filme, que nos faz contornar eventuais furos no roteiro ou questões que não são explicadas, porque queremos ver e saber até onde quer chegar e o que ele quer fazer com as duas jovens. Os diálogos e as discussões são tão cativantes e tensos quanto o personagem de Grant, servindo de alicerce para o horror da expectativa e do medo crescente.

A direção, fotografia, som e todos os aspectos técnicos são da melhor qualidade, uma marca característica da dupla de diretores, que pontua o filme com excelentes momentos que nos prendem na cadeira, assim como as jovens estão presas na casa antiga. Há alguns pequenos deslizes, ou melhor, escolhas do roteiro em deixar certas questões e explicações em aberto, ou só não explicadas, para focar na trama principal e nos personagens, mas não estraga o decorrer da história. São quase duas horas em que ficamos nos perguntando para onde a história vai, mesmo quando temos uma certa impressão de saber como tudo vai acabar.

Descemos com as irmãs Barnes e Paxton na insanidade questionadora do simpático Mr. Reed, que consegue ser legal até mesmo quando diz que vai ter que matar uma das duas, se desculpando em seguida. A descida metafórica e real é anunciada como um evento revelador que irá mudar para sempre a vida das jovens.

Herege é um filme tremendamente coeso, a partir do título, com uma história aparentemente simples, que se intensifica a cada passo, aprofundando e aproveitando de cada possibilidade dessa simplicidade para se desenvolver em um terror psicológico denso e instigante. A tal ponto que a maior força que temos que fazer é de lembrar que o sr. Reed não é um cara legal.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 4.4 / 5. Número de votos: 11

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

4 Comentários

  1. Esse título é a minha última esperança do terror de 2024. Espero poder favoritar, mas tentarei assistir sem altas expectativas haha.
    Ótima crítica!

  2. Equivocadamente, vocês praticamente contaram toda a história e esclareceram a trama. Com isto, prejudicaram o que a obra poderia ter e trazer em termos de surpresas, ineditismos e suspenses. Agora já se sabe o que são, como agem e como se comportam os três personagens e que a obra gira em torno unicamente dos três. Praticamente, conceituaram que outros personagens não têm maior protagonismo e importância na obra. Lamentável…

    1. Avatar photo

      Mas Afonso, se vc viu o trailer, sabe que tudo o que tá escrito no texto também tá lá. E o trailer de Herege é um caso isolado de trailer que não mostra o filme inteiro, então saiba que tem muito mais pra ver no filme do que o que está escrito nessa crítica. E sim, são 3 os personagens principais, como o trailer também mostra, uai! Se o texto não puder falar nem do que já foi amplamente mostrado em prévias do filme, aí fica difícil fazer uma análise, né?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *