![]() Ju-on: O Grito 2
Original:Ju-on 2
Ano:2003•País:Japão Direção:Takashi Shimizu Roteiro:Takashi Shimizu Produção:Shin'ya Egawa, Takashige Ichise, Kunio Kawakami, Yoshinori Kumazawa, Haruhiko Matsushita, Hiroki Numata Elenco:Noriko Sakai. Chiharu Niiyama, Kei Horie. Yui Ichikawa, Ayumu Saitô, Emi Yamamoto, Erika Kuroishi, Takako Fuji, Yuya Ozeki, Shingo Katsurayama, Fumika Hidejima, Hidetoshi Kageyama, Hiroko Toda |
Quarto filme da franquia do rancor, Ju-On: O Grito 2 já estabelece os fantasmas inquietantes como parte da mitologia oriental assombrosa da Sétima Arte. A maldição da casa de Nerima, em Tóquio, iniciada quando Takeo Saeki (Takashi Matsuyama) matou a esposa Kayako (Takako Fuji), o filho Toshio (Yuya Ozeki) e o gato Mar, já é bastante conhecida ao ponto da residência ser considerada um dos lugares mais aterrorizantes do Japão. Nesta sequência, também comandada por Takashi Shimizu, o terror começa como um conto de horror clichê, explorando temáticas que depois vigorariam na construção do subgênero “found footage“.
A atriz Kyoko Harase (Noriko Sakai), conhecida como “Rainha do Terror” pela participação em diversas produções do gênero, está retornando para casa com o noivo Masashi Ishikura (Ayumu Saitô), quando atropelam acidentalmente um gato preto. Percebendo pelo retrovisor as pernas cinzas de uma criança, Kyoko pede para Masashi seguir o percurso até a aparição de Toshio, segurando o volante, ocasionar um grave acidente. Masashi fica seriamente ferido, entrando em coma, enquanto Kyoko sofre um aborto espontâneo e é assombrada por uma nova visão do garoto fantasma, que coloca toca sua barriga com a mão. Um início bem interessante, comum em muitos filmes de terror, explorando aparições, sinais das mãos de Toshio no vidro do carro e uma intensa sensação de insegurança.
Como uma antologia sobrenatural, os capítulos são apresentados de forma não cronológica, assim, o espectador já sabe que Kyoko está amaldiçoada e entrou na casa dos assassinatos, mas ainda não entende como isso aconteceu. Seguindo o formato que depois seria comum entre os “found footages” e “mockumentaries“, toda a maldição se desenvolve quando uma equipe de filmagem de um programa de investigação de lugares assombrados resolve gravar na tal casa, tendo Kyoko como atriz convidada. Com a direção de Keisuke Okuni (Shingo Katsurayama), a equipe ainda conta com a apresentadora Tomoka Miura (Chiharu Niiyama) e a cabelereira Megumi Obayashi (Emi Yamamoto), com algumas gravações mostradas realmente como um falso-documentário.
É claro que todos terão encontros com Toshio e Kayako em situações perturbadoras. Dentre elas, destaca-se o aterrorizante capítulo envolvendo Tomoka e o namorado Noritaka Yamashita (Kei Horie), uma das sequências mais assustadoras e interessantes da produção, copiada no longa argentino Aterrorizados (Aterrados, 2017), de Demián Rugna. Ao chegar em casa após as filmagens, Tomoko vê um vulto do namorado no quarto, como se estivesse enforcado, ainda que a ausência dos sapatos na entrada indique que ele ainda não está no local. Assim que ele chega, ela comenta com ele sobre batidas incômodas na parede do quarto exatamente meia-noite e vinte e sete. Posteriormente, será a vez dele ter uma visão de Tomoko assustada como se estivesse vendo algo, mesmo não estando em casa. Toda a sequência de visões atemporais culminará na morte do rapaz, enforcado pelos cabelos de Kayako, sendo testemunhada pela namorada que, antes de também ser vítima da assombração, verá Toshio empurrando o corpo de Noritaka contra a parede, ocasionando os sons de batida na hora fatídica.
Shimizu faz muito isso na franquia Ju-On, explorando, a partir da ordem não cronológica, idas e vindas do tempo para completar um cenário maldito. Em Ju-On: O Grito 2, essa tendência é ainda mais expressa com a personagem Chiharu (Yui Ichikawa), uma adolescente que participou como figurante do documentário. Ela vivencia pequenos flashes do futuro, com visões em que é vista na casa, sendo perseguida pelo fantasma de Kayako. E o mesmo acontece com Megumi, na sequência é que é aterrorizada por uma peruca antes de ali surgir a assombração da voz serrada. Aliás, a sequência que envolve sua morte é similar ao que acontece com uma vítima de Sadako em Ring 0: O Chamado.
Por falar na franquia da menina do poço, parece que Shimizu se inspirou em Ring Espiral no principal objetivo dos fantasmas da casa de Nerima. No entanto, a realização é muito melhor, assim como o epílogo, “encerrando” a série de maneira fantástica antes do cineasta migrar para a América para a realização da refilmagem e sua primeira continuação. Quanto aos fantasmas de Tóquio, em 2009 foram lançados dois médias-metragens relacionados à série: Ju-On: White Ghost e Ju-On: Black Ghost. E depois, Ju-on: The Beginning of the End (2014) e Ju-on: The Final Curse (2015), ambos dirigidos por Masayuki Ochiai. Para completar a franquia, que ainda teve o ruim O Grito 3 (2009) e o fraco reboot O Grito (2020) nos EUA, foi feita a série O Grito – Origens, pela Netflix, com seis episódios de 30 minutos.
É a força da maldição do rancor na criação de fantasmas perturbadores.