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Um Estranho no Lago
Original:'inconnu du lac
Ano:2013•País:França
Direção:Alain Guiraudie
Roteiro:Alain Guiraudie
Produção:Sylvie Pialat
Elenco:Pierre Deladonchamps, Christophe Paou, Patrick d'Assumçao, Jérôme Chappatte, Mathieu Vervisch, Gilbert Traïna, Emmanuel Daumas, Sébastien Badachaoui, Gilles Guérin, François-Renaud Labarthe

Por muito tempo tentei encontrar um bom filme de terror/suspense com a temática LGBTQIAPN+, uma missão um tanto quanto árdua. Tivemos clássicos que abordaram o tema de uma forma bem sutil como Festim Diabólico (1948), outros assumidamente queer como Hellbent (2004), continuação de slasher famoso (A Hora do Pesadelo 2 – A Vingança de Freddy, 1985) e um dos mais recentes, e decepcionantes, They/Them – O Acampamento (2022). Inusitadamente, meu preferido viria a ser Um Estranho no Lago (2013), o sedutor thriller francês de Alain Guiraudie.

Franck (Pierre Deladonchamps) é um frequentador assíduo de uma praia de nudismo, em um charmoso lago no sul da França. O local, cercado por uma mata, também acaba sendo um badalado ponto de pegação gay. É nas margens desse lago que Franck realiza suas fantasias, reencontra velhos amigos, mas também desenvolve novos afetos. Henri (Patrick d’Assumçao) é um homem mais velho, reservado e até mesmo um pouco depressivo, que passou a frequentar aquela praia após o término com sua última namorada, apesar de não se enquadrar naquele ambiente, acaba construindo uma amizade sincera com Franck. Michel (Christophe Paou) é um rapaz atraente e misterioso, o típico “chave de cadeia“, que logo desperta o interesse de Franck e se torna alvo de uma quase obsessão do nosso protagonista.

Um belo dia, alguém se afoga no lago, que acaba sendo invadido pelas patrulhas de busca. O perspicaz detetive Damroder (Jérôme Chappatte), suspeitando de que o afogamento possa não ter sido um mero acidente, inicia sua investigação em busca do provável assassino que anda perambulando pelo local, provavelmente, em busca de novas vítimas.

Considero este exemplar um suspense sem defeitos. Até mesmo as cenas mais paradas, que poderiam ser consideradas monótonas, acabam ajudando com o desenvolvimento dos personagens e a construir a atmosfera de suspense, que vai aumentando gradativamente até culminar no seu ápice, em um final que faz você prender a respiração tamanha a tensão. As cenas de nudez e sexo explícito entre homens pode fazer um público mais “conservador” torcer o nariz, algo contraditório, já que passamos décadas vendo e ovacionando a objetificação do corpo feminino nos slashers dos anos 70/80. Em outras palavras, se por anos assistimos a mulheres nuas sendo massacradas em Crystal Lake, um pouco de sexo gay nas margens do Lago de Sainte-Croix não vai matar ninguém.

A paisagem do lago gera uma fotografia simples, mas hipnotizante. Ao mesmo tempo, os arredores cercados por uma mata fechada e grama alta dão o toque claustrofóbico que o filme precisava, contribuindo especialmente com o suspense de suas cenas finais. A dinâmica daquele lugar é baseada totalmente no sexo marginal e às escuras, mesclando a vegetação local com os corpos nus, de forma que os seus frequentadores acabam se tornando tão parte integrante daquele cenário quanto qualquer outra árvore ou arbusto. É como se aquela tribo que vai ao lago para “caçar” fizesse parte de uma outra espécie, semelhante aos répteis frequentadores do Cinema Orly de Luís Capucho.

AVISO DE SPOILERS!

O grande mistério do filme não é a identidade do assassino, revelada logo na primeira parte do longa. O verdadeiro suspense é descobrir até que ponto Franck é capaz de chegar por conta de uma paixão, quais riscos ele está disposto a correr ou o quão letal será seu desejo por Michel. As últimas falas de Franck – quase implorando para que Michel voltasse – deixa clara a reflexão por trás do filme, sobre o quanto às vezes nos sujeitamos a situações obviamente perigosas para viver um romance efêmero.

FIM DOS SPOILERS

Um Estranho no Lago foi dirigido e roteirizado por Alain Guiraudie, um cineasta francês, abertamente homossexual. O longa foi aclamado pela crítica, sendo premiado na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes, com o prêmio de Melhor Diretor para Alain Guiraudie, além de levar para casa o troféu Queer Palm daquele ano. O filme também recebeu 8 indicações no 39º César Awards, onde Pierre Deladonchamps ganhou como Ator Mais Promissor.

Um Estranho no Lago é um suspense homoerótico de primeira categoria. Inteligente, obscuro, sexy e elegante, são alguns adjetivos que podemos usar para descrever a obra de Guiraudie, despontando como um dos melhores filmes de suspense relacionados ao universo LGBTQIAPN+. O filme está disponível no Telecine, Prime Video (Reserva Imovision) e Apple TV.

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