
![]() V/H/S/Halloween
Original:V/H/S/Halloween
Ano:2025•País:EUA Direção:Bryan M. Ferguson, Casper Kelly, R.H. Norman, Alex Ross Perry, Micheline Pitt, Paco Plaza, Anna Zlokovic Roteiro:Bryan M. Ferguson, Casper Kelly, R.H. Norman, Alex Ross Perry, Micheline Pitt, Paco Plaza, Anna Zlokovic, Alberto Marini Produção:Derek Dauchy, Josh Goldbloom, James Harris, Roy Lee, Brad Miska, Araceli Pérez-Rastrilla, Steven Schneider, Michael Schreiber Elenco:David Haydn, Anna McKelvie, Eddy MacKenzie, Joshua Haynes, Alexander Cox, Joshua Frater-Loughlin, Samantha Cochran, Natalia Montgomery Fernandez, Elena Musser, Adam Carr, Rebekah Kennedy, Samuel Charles, Brayon Cutrer, Jodi Fleisher, Anna Zlokovic, María Romanillos, Ismael Martínez, Almudena Amor, Sonia Almarcha, Andrés Ciro Martínez, Lawson Greyson, Sandra Escacena, Riley Nottingham, Jenna Hogan, Jake Ellsworth, Michael J. Sielaff, Eric Billitzer, Stephen Gurewitz, Carl Garrison, Christian Paxton, Shino Nakamichi, Cleo Kennedy, Jeff Harms, Sarah Nicklin, Rick Baker, Matt Dizon, Sean Berube, Isabella Feliciana, Bianca Thomson |

Já estabelecido como subgênero, o “found footage“, que tem o seu próprio derivado conhecido como “mockumentary“, construiu uma fértil jornada de produções baratas e divertidas. Não importa se os personagens estarão seguindo uma lenda urbana ou tentando descobrir os passos de um serial killer, desde que tentem “convencer” o infernauta de que aquilo é real, registros verídicos do encontro com o que estão procurando. Também não importa a razão das filmagens intermináveis até em situação de perigo, e nem a narrativa estruturada com começo (a proposta, a interação do grupo de realizadores), meio (o estranhamento, primeiros sinais de que algo está errado) e o fim (o desespero do último sobrevivente até a queda da câmera). O objetivo é entreter, claro, ter um retorno financeiro e, quem sabe, estimular uma franquia. No caso da série antológica V/H/S, as intenções já são mais ousadas, com mais recursos, e com enredos dos mais absurdos, em que a intenção jamais foi transmitir veracidade.
E está trazendo um bom retorno financeiro aos envolvidos. V/H/S/Halloween é o oitavo filme de uma série iniciada em 2012: V/H/S (2012), V/H/S/2 (2013), V/H/S/Viral (2014), V/H/S/94 (2021), V/H/S/99 (2022), V/H/S/85 (2023) e V/H/S/Beyond (2024). Até mesmo as piores antologias da série despertam algum interesse pela proposta, mesmo que muitas já tenham se afastado de sua intenção inicial de resgatar a época das fitas VHS, cuja tecnologia era limitada a câmeras pesadas ou aquelas menores e caras. Se no começo os segmentos não seguiam uma temática específica, isso mudou a partir do terceiro filme, sendo Beyond e agora Halloween as mais centradas em um mesmo conjunto de histórias. E, realmente, faltava a que daria a atenção para a época mais assustadora do ano.

Como sempre, há uma linha narrativa que une todos os segmentos. Dirigida por Bryan M. Ferguson, “Diet Phantasma” é ambientada em 1982, e traz a empresa The Octagon Company na realização de testes para lançamento de um novo refrigerante, uma versão Diet de um que já existe: “Tem todo o sabor do Phantasma original“. A bebida, que será lançada no Halloween, traz consequências bizarras a todos que a experimentam como o 37 (Joshua Haynes), que verte uma gosma preta dos olhos e nariz, enquanto tentáculos surgem da latinha e agarram seu rosto, com as luzes piscantes e a expressão de desânimo de Blaine Rothschild (David Haydn). Entre os segmentos, o público acompanhará outros testes que envolvem possessão, canibalismo, cabeças explodindo e vários sintomas sangrentos e hilários.
O primeiro conto é simplesmente o melhor da antologia. “Coochie Coochie Coo“, de Anna Zlokovic, parece clamar por um longa solo, uma produção que explore um conceito de despertar arrepios até nos mais calejados. Nele, as estudantes de ensino médio Lacie (Samantha Cochran) e Kaleigh (Natalia Montgomery Fernandez) estão dispostas a misturar doces com travessuras, roubando ofertas das casas na noite de Halloween enquanto comentam uma informação importante sobre o sumiço de uma líder de torcida no ano passado. Elas se deparam com uma casa que, aparentemente, não lembravam dela existir somente para descobrir um ambiente de adultos com faces de bebês, um homem bizarro com fralda, rastros de leite, fetos e uma aterrorizante Mamãe com seis seios. E também encontrarão respostas para a amiga desaparecida, enquanto vasculham uma casa sem saída, com uma decoração que combina com a proposta.

“Ut Supra Sic Infra” só podia ser de Paco Plaza. Jovens invadiram uma mansão em Madri para realização de uma festa de Halloween, consciente que o local tem um passado aterrador e foi o lar de um famoso médium italiano. As ações acontecem no interrogatório ao único sobrevivente da invasão, o jovem Enric (Teo Planell), alternadas com o que foi gravado pelo grupo. O massacre envolve um ritual, um telefone no centro de um ambiente e globos oculares arrancados. Apesar do registro das filmagens, mesmo assim a polícia resolve refazer os passos das vítimas, com a orientação de Enric, para descobrir da pior forma exatamente o que aconteceu. Enredo interessante, com policiais idiotas que, mesmo com o aviso do garoto, resolvem atender a ligação fatídica, contando com boas doses de sangue e uma atmosfera sinistra.
Casper Kelly comanda “Fun Size“, mais uma vez abordando o famigerado “trick or treat“. Os jovens Haley (Jenna Hogan), Austin (Jake Ellsworth), Lauren (Lawson Greyson) e Josh (Riley Nottingham) desobedecem a orientação de uma casa que expõe doces e pede que pegue apenas um por pessoa. Doces com embalagens desconhecidas e formatos estranhos, como o de um falo, os conduzem a um universo paralelo em que um personagem ao estilo mascote os perseguem visando cortar partes de seus corpos e transformá-los em guloseimas a serem oferecidas a outros travessos. Bizarrice ao estilo V/H/S que, embora divirta com o humor improvável, jamais justifica as filmagens contínuas nos momentos mais sangrentos e arriscados. E também não explica porque todos são levados a esse mundo, mesmo quem não tenham desobedecido a regra. Divertido!

Com direção e roteiro de Alex Ross Perry, “Kidprint” é ambientado em 1992 e mostra as ações de um serial killer de crianças e adolescentes, tendo como palco uma locadora, comandada por Tim Kaplan (Stephen Gurewitz), que faz registros dos jovens clientes e pode ajudar a elucidar o crime. Quando a jovem Olivia Hamel (Siobhan McGroarty), de 17 anos, desaparece, a polícia pede apoio a locadora, a partir do técnico Bruce Dittman (Carl Garrison), responsável por não somente mutilar as vítimas como também aterrorizá-las com tortura psicológica. Apesar de não ser tão difícil identificar o responsável pelos crimes, o segmento mostra o quanto a polícia era frágil na investigação na época. “Kidprint“, mesmo que toque levemente na temática da antologia, é o mais violento e ousado da série, sem preocupação em mostrar crianças sendo mortas na ação de um monstro que poderia ter um filme próprio.
O último conto, “Home Haunt“, de Micheline Pitt-Norman e R.H. Norman, traz o pai Keith (Jeff Harms), sua esposa Nancy (Sarah Nicklin) e o filho Zack (Noah Diamond) nas tradições do Halloween de montagem de uma casa assombrada para visita do público. O desanimado Zack encontra um disco intitulado ‘Halloween Horrors” numa loja e o rouba, imaginado que a trilha possa ampliar o clima de horror idealizado pelo pai. O problema é que o disco transforma a casa em um local de assombrações reais, levando os visitantes a enfrentar lençóis brancos que dissolvem carne, mortos-vivos e demônios numa noite de sangue em profusão e bom-humor. Bem divertido e bem feito, sem justificar o uso excessivo da câmera, “Home Haunt” está entre os melhores momentos do filme.

Por fim, um pedaço final de “Diet Phantasma“, o único a conter “extrato de poltergeist real“, conclui de maneira satisfatória e também bem-humorada V/H/S/Halloween, na volta dos bons exemplares da série. Como toda antologia, há bons e maus momentos, sequências que não justificam o uso da câmera o tempo todo e bizarrices das mais insanas, espremendo seu conteúdo em sangue, assombrações e corpos desmembrados. Ao término, quando a trilha sonora surgir nos créditos, fica a sensação de que a franquia está em um caminho de restos humanos e bom humor, tendo mais altos do que baixos entre suas narrativas. É, sem dúvida, o filme que representa o Halloween 2025, numa imersão sangrenta à data.





















