![]() Casas Estranhas 2: O Mistério das Onze Plantas Baixas
Original:Henna le 2 Ano:2025•País:Japão Autor:Uketsu•Editora: Intrínseca |
Após o fenômeno mundial de Casas Estranhas, escrito pelo enigmático youtuber Uketsu, o autor decide dar continuidade ao assunto de plantas baixas que escondem terríveis segredos das casas do Japão com Casas Estranhas 2: O Mistério das Onze Plantas Baixas, publicado em novembro no Brasil pela editora Intrínseca.
Neste segundo volume, o escritor-narrador afirma que sua obra anterior teve tanta repercussão que ele começou a receber inúmeros relatos de outras plantas baixas igualmente estranhas Japão afora, e onze relatos específicos chamaram sua atenção. Em um primeiro momento são apenas histórias isoladas, sem qualquer conexão entre si, mas quem conhece o estilo de escrita de Uketsu sabe que tudo tem um propósito e nada é contado de forma aleatória, de algum modo semelhanças e coincidências vão aparecer e tudo estará interligado de um jeito macabro. Como no volume anterior, as plantas baixas são a parte principal de toda narrativa, mostrando espaços que não deveriam existir, corredores e quartos invisíveis e outras peculiaridades arquitetônicas que têm como objetivo esconder ou prender coisas…ou até mesmo corpos. Uma estranha seita, uma filha que cresceu com a certeza de que a mãe nunca gostou dela, uma criança que passa necessidades, um caso de adultério, um suicídio incomum, tudo isso acontecendo dentro de casas aparentemente normais, mas sempre com algo que parece fora de lugar.
Novamente, a sensação de inquietação e estranhamento – afinal, a palavra “estranhas” não está no título de suas obras à toa – vai crescendo conforme avançamos. Situações aparentemente comuns são transformadas em coisas sinistras e desconcertantes, e cômodos escondidos revelam traumas e segredos perturbadores. Porém, diferentemente do volume 1, não há mais aquela sensação de novidade. Sabemos que aquelas plantas escondem acontecimentos bizarros, então já estamos preparados para isso, com os olhos treinados para procurar qualquer incongruência nos desenhos das plantas. E o autor conta com isso. Ele nos treinou propositadamente, para que no volume 2 essa leitura de plantas seja absolutamente essencial. O que temos aqui é um aprofundamento da proposta inicial apresentada no volume anterior, desafiando o leitor a juntar todas essas onze peças e montar o quebra-cabeças antes do capítulo de deduções de Kurihara (o amigo arquiteto do narrador que nos foi apresentado no primeiro livro). Uketsu quer que observemos medidas, portas, corredores e cômodos com atenção, fazendo com que esse trabalho de investigação seja tão importante para a absorção e imersão na história quanto o texto corrido. O livro possui quase o triplo de páginas de seu antecessor, ou seja, não será tão rápido assim tirar deduções como anteriormente. Afinal, se você garantiu o segundo volume, é porque tem interesse em se dedicar à leitura de plantas baixas para desvendar algum mistério. E esse vai ser, de fato, um belo passatempo.
Assim como em outras obras do autor, o terror aqui é psicológico, com o horror nascendo a partir de percepções simples, como por exemplo “esse quarto é inacessível”, “esse corredor não leva a lugar algum”, “essa porta parece estar fora de lugar”. Lentamente, o medo vai se infiltrando por frestas invisíveis, sutilmente, até corroer as paredes de modo irreversível.
Em Casas Estranhas 2 alguns temas são explorados com mais clareza também, abordando traumas intensos, relações abusivas e controle extremo. O estilo do autor de falar sobre tais coisas, e ainda relacioná-las às casas, de forma objetiva e coerente faz com que tudo pareça – e seja – ainda mais inquietante. Padrões se repetem, com repetições estruturais que mostram que as casas peculiares não são construções específicas e fora da curva, sugerindo que o problema, na verdade, são os sistemas sociais, familiares e culturais. Apesar de que, novamente, temos certas conveniências um tanto forçadas para que se chegue na conclusão apresentada, até mais do que nas duas outras obras do autor publicadas no Brasil. Nada impossível de relevar se já tiver isso em mente. A estrutura narrativa também pode incomodar aqueles que estão acostumados com algo mais tradicional, mas, repetindo, se tiver isso em mente e dar uma chance, com certeza terá um melhor aproveitamento da leitura.
O reconhecimento de padrões é o verdadeiro horror da obra, ideal para quem gosta de terror psicológico, desconforto crescente a partir de banalidades e narrativas não-convencionais. Após ler o segundo volume de Casas Estranhas, certamente você nunca mais verá uma planta baixa do mesmo jeito. Qualquer deslize arquitetônico vai ser o suficiente para pensar “ok, algo está muito errado aqui”. Nunca se sabe quando um cômodo fora do lugar pode estar escondendo um corpo.























