Outcast
Original:Outcast
Ano:2016•País:EUA Direção:Adam Wingard, Loni Peristere, Howard Deutch, Tricia Brock, Leigh Janiak, Julius Ramsay, Scott Winant, Craig Zobel Roteiro:Robert Kirkman, Paul Azaceta, Nathaniel Halpern, Adam Targum, Chris Black, Tony Basgallop, Joy Blake, Robin Veith, Jeff Vlaming Produção:Robert Kirkman Elenco:Patrick Fugit, Philip Glenister, Wrenn Schmidt, David Denman, Kate Lyn Sheil, Reg E. Cathey, Gabriel Bateman, C.J. Hoff, Pete Burris, Abraham Benrubi, Willie C. Carpenter, Chandler Head |
“Enquanto em The Walking Dead eu comecei dizendo que não era um quadrinho de terror…há uma tentativa nestas páginas de aumentar o fator medo, e espero conseguir arrancar alguns sustos das pessoas…“, anunciou Robert Kirkman na primeira edição da revista Outcast, em junho de 2014. Como era se esperar, o sucesso da graphic novel logo inspirou a realização de uma série de TV, com o episódio piloto sendo exibido em 23 de maio de 2016 no Cinemax. Antes mesmo do público conhecer a trajetória traumática do jovem Kyle Barnes (Patrick Fugit), a emissora já informava o interesse na realização de uma segunda temporada, mostrando que o conteúdo tinha força suficiente para conquistar mais um ano.
E é curioso porque trata-se do velho tema das possessões demoníacas, explorado à exaustão pelo gênero fantástico até mesmo com a perspectiva de estreia da série O Exorcista, no mesmo ano. Contudo, Outcast vem com a proposta de dar um tom realista à produção, sem vômitos esverdeados ou cabeças giratórias, sem tom católico ou heroísmo artificial, conduzindo o protagonista a uma jornada de auto-conhecimento e aceitação. Basicamente a série apresenta um jovem deslocado, perdido na tentativa de compreensão de dois episódios estranhos que marcaram sua vida: a possessão da mãe e da esposa.
Como nos quadrinhos, Outcast tem início com a apresentação de um menino possuído: Joshua Austin (Gabriel Bateman) bate a cabeça na parede e ainda lambe seu próprio sangue e o dente arrancado com a ação violenta – em um momento agressivo que não está na HQ. Enquanto acontece uma briga entre sua mãe e irmã, ele vai até a cozinha e morde o próprio dedo, arrancando-o. Na cena seguinte, um grupo de quatro cidadãos da pequena Rome, em West Virginia, está disputando uma velha partida de pôquer. O reverendo Anderson (Philip Glenister, de Cruzada, 2005) é, então, chamado para atender o garoto possuído a pedido da mãe. Já o protagonista Kyle acorda em sua casa, com a aparência de alguém que fora destruído por um relacionamento confuso, e atende, depois de muita insistência, sua irmã Megan (Wrenn Schmidt, de 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, 2016) à porta. Ela quer reerguê-lo, tirá-lo de seu esconderijo para tentar, quem sabe, reaproximá-lo da esposa Allison (Kate Lyn Sheil, de Você é o Próximo, 2011), que está com ordem judicial para mantê-lo distante devido a uma agressão recente.
Depois de algumas tentativas frustradas de exorcismo, o reverendo permite que Kyle faça com o garoto o que ele conseguiu fazer com a mãe no passado. Ele enche o garoto de porrada, é mordido, e seu sangue libera uma mancha negra do pequeno, salvando-o. Essa maneira de libertar o possuído é similar ao que é visto desde o começo da série Supernatural, com a diferença que o produto é mais viscoso, como petróleo. Anderson estranha a reação, pois ele realizar exorcismos há décadas e nunca tinha visto isso antes. Ele começa a se questionar sobre a concretização dos rituais anteriores, e irá pedir a ajuda do amargurado Kyle nessa luta contra o Mal.
Além de ter agredido a esposa e ser considerado um pária (uma das traduções de “outcast“) na cidade, ele lamenta que, quando era adolescente, sua mãe tenha ficado em estado catatônico durante o confronto que tiveram. Kyle não se lembra de ter visto algo saindo de dentro dela, e passa a suspeitar também que o demônio ainda esteja nela. Para compreender seus poderes, Kyle enfrenta outras pessoas possuídas, com resultados diferentes: ora a pessoa fica também catatônica, ora fica bem. Mas, ele não quer ser o herói e enfrentar o Mal que assola a cidade – tem mais interesse de fazer isso na graphic novel -, apenas compreender o que ele é, e tentar se aproximar da esposa e da filha Amber (Chandler Head). A pequena não gosta da mãe pelo que ela fez, e não entende porque o pai – que a ajudou – tem que ficar longe dela.
Nessa batalha contra demônios, há um líder. Sidney (Brent Spiner, de Independence Day, 1996) é visto nos quadrinhos desde o começo, desde as missas que participa e observa o reverendo ao salvamento de Holly (Callie Brook McClincy), filha de Megan. Fica claro que ele é o responsável pelo “suicídio” do vizinho de Kyle, Norville (Willie C. Carpenter), com a intenção de ocupar sua morada para se atentar às ações do Outcast. Na série, ele consegue a simpatia da cidade toda, incluindo do rebelde Aaron (C.J. Hoff), que não gosta do reverendo porque sua mãe demonstra interesse nele.
Como a série pertence a Robert Kirkman, que costuma dar um tom novelesco a The Walking Dead, Outcast também está repleto de dramas pessoais que tornam seus personagens mais melancólicos. O casamento de Megan com o policial Mark (David Denman) é conturbado pelo retorno de um passado que a garota quis abafar: ela fora estuprada pelo valentão Donnie (Scott Porter) na adolescência. Em alguns momentos ela tenta afastá-lo de sua vida, até pagando-o, para depois se auto-fragelar para amenizar sua tensão; também existe uma tragédia na cidade, envolvendo a explosão de uma mina que matou 29 mineradores, mas poupou Kyle, graças à troca de turno com uma das futuras vítimas. A cidade realiza uma vez por ano o Dia da Lembrança, momento em que todos da cidade oram e homenageiam as vítimas.
Já o chefe de polícia Giles (Reg E. Cathey, de Psicopata Americano, 2000), um dos ativos participantes do pôquer, está atento ao movimento de seu amigo Blake (Lee Tergesen), uma vez que ele encontrará guaxinins expostos em uma árvore, próxima a um trailer na floresta. E ele testemunha Blake indo ao local para queimá-lo para evitar que algo seja descoberto pela polícia. Todos os segredos serão revelados nos dez episódios, entre demônios, atos de loucura, relacionamentos abalados e desconfiança.
A HQ tem muitas diferenças em relação à série, sendo que as modificações e acréscimos acabaram dando mais credibilidade ao conteúdo. Pode-se agradecer aos roteiros escritos por Kirkman, Paul Azaceta, Nathaniel Halpern, Adam Targum, Chris Black entre outros. No entanto, se funciona bem o que se propõe, pode ser que os fãs de um terror mais agressivo não gostem de ver lágrimas e dramaticidade ao conteúdo, esperando sempre por novas possessões e exorcismos. A série deixa claro que existem diversos estágios da possessão, desde o animalesco até consciente; e também mostra que Kyle não é um pária apenas para os cidadãos comuns, mas é visto com discórdia pelos demônios. Ele é essencial para um plano final que inclui o que Sidney e outros chamam de “fusão“. Entre possuídos e vítimas, destaque para a assustadora Mildred (Grace Zabriskie), uma senhora que trará algumas doses de calafrios no espectador; e o gigante Caleb (Abraham Benrubi), que o reverendo o mantém preso para testar sua vocação para o exorcismo – algo que também não existe na versão em quadrinhos.
Com a boa direção de Loni Peristere, Howard Deutch, Tricia Brock e outros, Outcast tem muitos acertos, da escolha do elenco aos caminhos tomados nos dez episódios. Incomoda pelo final aberto e a sempre necessária “próxima temporada“, que acaba escondendo respostas e preparando o terreno para uma continuação. Bem distante de The Walking Dead, ainda que mantenha o tom dramático e arrastado em alguns momentos, é uma série você deveria possuir na sua coleção. Trouxe poucos arrepios, mas foram suficientes para deixar um gosto de “quero mais“. Vamos continuar acompanhando!
Altamente recomendável!
Piloto incrível.
Opa, eu estava mesmo procurando um novo seriado pra assistir no gênero terror e fiquei surpreso pela nota dada a esse, vou começar a vê-lo o quanto antes.
Curti esse piloto, esperar dia 10 de junho pelo ep.2.