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A primeira vez que escutei esse disco foi em uma fita cassete mal gravada, rodando em um aparelho de som velho e marca barata, com volume baixo. Foi uma experiência desastrosa, porém impactante por dois motivos: os gritos escabrosos de Stevo Dobbins e as introduções aterrorizantes das músicas, que nunca mais saíram da minha cabeça. Depois desse dia o Impetigo ficou marcado na minha mente como “a banda das introduções macabras e do vocal maluco”, e esse título permaneceu por muito tempo. Felizmente, depois de alguns anos consegui escutar esse mesmo álbum em condições melhores, então eu percebi que se trata de um grande clássico, indiscutivelmente um dos precursores do estilo.

Ultimo Mondo Cannibale é o primeiro disco do Impetigo, lançado no mesmo ano que grandes clássicos do metal extremo como Harmony Corruption do Napalm Death, Left Hand Patch do Entombed, Eaten Back to Life do Cannibal Corpse e Subconscious Terror do Benediction. Dividindo o espaço com esses abomináveis gigantes da sonoridade aterrorizante na lista dos álbuns lançados no primeiro ano da década de noventa, o Impetigo se destaca pela ruptura na forma como o death metal era conhecido, trazendo autenticidade ao estilo com uma pegada crua e livre de paradigmas, nos tempos em que o termo goregrind não era cogitado nem para os já existentes Carcass e Repulsion.

As referências aos exploitation, slashers, grindhouse e outras feiuras que rondam o submundo dos filmes sanguinários são uma assinatura na obra do Impetigo, desde a primeira demo-tape de estúdio chamada Giallo (1989) até o CD Live Total Zombie Gore Holocaust (2008). E no caso do “aniversariante” que completa trinta anos agora, o título é uma referência ao filme Ultimo Mondo Cannibale, também conhecido como Cannibal The Last Survivor ou Jungle Holocaust, do diretor italiano Ruggero Deodato, que revolucionou o cinema canibal no final da década de setenta com petardos doentios da sétima arte.

Mas as referências ao cinema macabro no primeiro full length do Impetigo vão além do título. No disco há introduções usando trechos dos filmes Zombie – A Volta dos Mortos e Pavor na Cidade dos Zumbis (ambos de Lucio Fulci), Ilsa a Guardiã Perversa da SS (Don Edmonds), Holocausto Canibal (Ruggero Deodato), além de uma faixa chamada Bloody Pit of Horror, uma homenagem ao filme Il Boia Scarlatto do diretor Domenico Massimo Pupillo.

Um ponto que merece destaque em Ultimo Mondo Cannibale é a versatilidade vocal de Stevo Dobbins, principalmente levando em consideração o cenário da música extrema na época em que o álbum foi lançado. O ineditismo no uso de três ou quatro estilos vocais diferentes em um mesmo disco fez com que o Impetigo se destacasse entre os grandes nomes do death metal, ganhando a atenção dos fãs do estilo em todo o mundo. Mas o choque dos deathbangers da década de 1990 não foi causado somente pelos vocais desse disco. O instrumental death/grind/crust/punk livre de técnicas e virtuosismos criou um estilo único, equilibrando o sombrio com o irreverente, transformando o Impetigo em uma das bandas mais autênticas da época.

Ultimo Mondo Cannibale tem dezoito faixas e mais de cinquenta minutos de uma sonoridade macabra impressionante, apresentada de forma despretensiosa e única. Um grande exemplo disso é que mesmo lançado trinta anos atrás, mesmo depois da criação de tantos subgêneros do metal, a classificação desse disco em um estilo específico se torna praticamente impossível. Ultimo Mondo Cannibale é uma obra de horror, pura e simples, que deve ser apreciada pelos adeptos da arte macabra em todo o mundo, até o fim dos tempos.

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