Neverlake (2013)

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Neverlake (2013) (2)

Neverlake
Original:Neverlake
Ano:2013•País:Itália
Direção:Riccardo Paoletti
Roteiro:Manuela Cacciamani, Carlo Longo
Produção:Manuela Cacciamani
Elenco:Daisy Keeping, David Brandon, Joy Tanner, Martin Kashirokov, Lisa Ruth Andreozzi, Anna Dalton, Claudio Ciabatti, Riccardo Bono

A Sensitive Plant in a garden grew,
And the young winds fed it with silver dew,
And it opened its fan-like leaves to the light.
And closed them beneath the kisses of Night.

Quando o horror e a poesia se misturam, o resultado só pode ser favorável. Dessa família, que tem como patriarca Lord Byron, veio uma prole de produções filosóficas, assustadoras e belas, como se o espectador pudesse visualizar um quadro e soubesse enxergar na feiura dos traços uma mensagem doce. Poderia dissertar sobre Álvares de Azevedo e outros poetas que souberam mesclar o gótico ao Romântico, com obras ricas em um horror sutil e constante, porém irei me dedicar ao Cinema, e, principalmente, ao alvo desta análise.

And the Spring arose on the garden fair,
Like the Spirit of Love felt everywhere;
And each flower and herb on Earth’s dark breast
Rose from the dreams of its wintry rest.

Se fosse preciso listar longas do gênero com essência poética, o trabalho não estaria completo se não mencionasse ao menos um trabalho de Ingmar Bergman, como A Hora do Lobo, de 1968. Mas você encontra vestígios da beleza até mesmo no fantástico O Golem, de 1920, passando pelo drama de Frankenstein, 1931, tocando levemente em Charles Laughton e seu Mensageiro do Diabo, sem deixar de lado o constantemente ignorado Todas as Noites às Nove, de Jack Clayton, o mesmo que dirigiu o sensacional Os Inocentes (1961), também envolto em ingenuidade e medo.

Neverlake (2013) (1)

But none ever trembled and panted with bliss
In the garden, the field, or the wilderness,
Like a doe in the noontide with love’s sweet want,
As the companionless Sensitive Plant.

Mais recentemente, a beleza encontrou estadia em Os Outros, A Espinha do Diabo, Fácil de Enterrar(todos de 2001), O Labirinto do Fauno (2006), O Orfanato (2007) e O Despertar (2011). Curiosamente, a maioria dessas menções possuem crianças em seu enredo, como se os pequenos fossem os principais representantes da poesia, do lúdico, do encantador. E é uma verdade plena se considerar nesse hall o terror italiano Neverlake, de 2013, a estreia do cineasta Riccardo Paoletti, alguém que merece uma observação em trabalhos vindouros por saber construir poeticamente uma atmosfera que combine o enredo e a fotografia.

The snowdrop, and then the violet,
Arose from the ground with warm rain wet,
And their breath was mixed with fresh odour, sent
From the turf, like the voice and the instrument.

Antes de falar do filme, peço licença para voltar ao século XIX. Época em que floresceu um dos principais poetas românticos ingleses, Percy Bysshe Shelley. Autor de obras importantes como Ozymandias e Prometheus Unbound, Shelley tem seu nome associado ao gênero pelas produções góticas – Zastrozzi (1810) e St. Irvyne (1811) – e pelo contato que estabeleceu com John Keats e Lord Byron, além de ter se casado com a adolescente Mary Godwin, que viria a construir um dos grandes ícones do terror, a criatura de Frankenstein, durante uma noite de chuva e desafios numa cabana próxima ao Mont Blanc.

Neverlake (2013) (3)

Then the pied wind-flowers and the tulip tall,
And narcissi, the fairest among them all,
Who gaze on their eyes in the stream’s recess,
Till they die of their own dear loveliness;

Shelley é a maior inspiração da personagem Jenny (Daisy Keeping), que viaja à Itália, local onde o poeta passou boa parte da vida, para rever o pai e conhecer sua madrasta, nas proximidades do mítico Lago dos Ídolos, em Toscana, perto de Arezzo, um ambiente mágico para os etruscos, que acreditavam que lançar nas águas estátuas de bronze, simbolizando partes do corpo, seria possível curar pessoas doentes. Envolto em névoas, com uma árvore seca nas imediações, o Lago logo irá atrair a garota e permitirá seu contato com estranhas crianças de um orfanato próximo.

And the Naiad-like lily of the vale,
Whom youth makes so fair and passion so pale
That the light of its tremulous bells is seen
Through their pavilions of tender green;

Doentes, os pequenos apenas pedem que Jenny fique longe dos adultos e leia para elas obras diversas, como a poesia de Shelley e aventuras de capa e espada. Aos poucos, a curiosa garota irá se aventurar pela região e descobrirá segredos assustadores que até irão justificar a criação de Mary Shelley, e terão uma sintonia com o ambiente e a poesia que a jovem admira.

And the hyacinth purple, and white, and blue,
Which flung from its bells a sweet peal anew
Of music so delicate, soft, and intense,
It was felt like an odour within the sense;

Neverlake (2013) (4)

Se por um lado é possível visualizar a beleza de um enredo cativante, por outro fica difícil se esquivar dos furos do roteiro e das situações que tornam o trabalho da protagonista mais fácil. Bastava a franqueza de alguns personagens para evitar uma hora e meia de suspense e até uma improvável cirurgia, com a melhor recuperação e pós-operatório de todos os tempos. Ambientes e elenco fazem o trabalho correto, embora fique evidente que não foi necessário muito esforço para compor seus personagens.

And the rose like a nymph to the bath addressed,
Which unveiled the depth of her glowing breast,
Till, fold after fold, to the fainting air
The soul of her beauty and love lay bare

A poesia até traz inspiração à produção, embora pouco tenha relação com o cenário criado, soando apenas como uma citação e fonte de pesquisa. Também perde pontos pela ausência do medo, sem deixar o público sequer tenso em momentos fantasmagóricos – você admira a mistura de cores e a criatividade, mas não se envolve com os elementos góticos.

And the wand-like lily, which lifted up,
As a Maenad, its moonlight-coloured cup,
Till the fiery star, which is its eye,
Gazed through clear dew on the tender sky;

Neverlake podia ser bem melhor, se justificasse mais a relação entre terror e poesia. Contudo, ainda deve ser considerado um passatempo curioso, permitindo um resgate nos autores envolvidos e nos cenários reais e míticos. Faltou pouco, muito pouco para que as peças se juntassem adequadamente na composição do monstro.

And the jessamine faint, and the sweet tuberose,
The sweetest flower for scent that blows;
And all rare blossoms from every clime
Grew in that garden in perfect prime.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Neverlake (2013)

  • 08/09/2015 em 09:45
    Permalink

    já tinha lido sobre esse poeta Percy Shelley e sua conhecida obra Ozymandias que inclusive inspirou o personagem de mesmo nome da mega saga dos Quadrinhos Watchmen! gsotei da temática desse filme! acho interessante essa mistura de Terror com Poesia mas não tendo sido tão bem elaborada como voçê descreveu em seu Artigo! vou assistir esse Filme!

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